A quadra chuvosa chega ao fim nesta quarta-feira, 31, com o terceiro maior acumulado dos últimos dez anos. Segundo a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), choveu 642,1 milímetros (mm) do dia 1º de fevereiro a 31 de maio, índice considerado dentro da média histórica. No decênio de 2013 a 2023, o volume deste ano fica atrás apenas de 2020, com 727 mm, e de 2019, que registrou 671 mm.
O Açude Castanhão tem a maior reserva hídrica desde 2015 (Foto: Marina Filgueiras)
O acumulado
do quadrimestre converge com os dois prognósticos para o período, divulgados
pela Funceme no início do ano. No primeiro, publicado em 20 de janeiro, o órgão
apontava 50% de probabilidade de chuvas acima da média entre fevereiro e abril,
interstício que abrange o maior período da estação. A projeção dentro da média
era de 40% e abaixo da média, 10%.
Posteriormente,
em 17 de fevereiro, a Fundação divulgou uma nova previsão para março, abril e
maio. As chances de chuvas acima da média foram reduzidas para 40%, mesmo
percentual previsto para precipitações em torno da média. Já a estimativa de
chuvas abaixo da média se manteve em 10%.
Nos dois
prognósticos, a Funceme indicou que haveria alta variabilidade espacial e
temporal durante os quatro meses da estação chuvosa, projeção que acabou se
confirmando. O Litoral de Fortaleza, região mais chuvosa, com 912 mm, teve
quase o dobro do volume de precipitações da região menos chuvosa, o Sertão
Central e Inhamuns, que registrou 532 mm.
Apesar de
expressiva, a diferença não foge ao padrão climatológico do Ceará, conforme
analisa o meteorologista da Funceme, Vinícius Oliveira. “Essa
irregularidade espacial na distribuição das chuvas é histórica. É comum termos
acumulados significativos no litoral e menos chuva na área central do Estado”,
ressalta. No ano passado, a desigualdade pluviométrica entre as duas regiões
tinha sido ainda maior, com 1.101 mm registrados no Litoral de Fortaleza e 444
mm no Sertão Central e Inhamuns.
O parâmetro
temporal também apresentou instabilidade. No primeiro e terceiro mês da
estação, fevereiro e abril, as chuvas ficaram dentro da média, com 114 mm e 182
mm, respectivamente. O mês mais chuvoso foi março, quando foram computados 300
mm, volume 47% acima da média. Já maio, até esta terça-feira, 30, havia
registrado 46 mm, cerca de 30% abaixo da média.
“O grande volume de precipitações observado em março ajudou a equilibrar
o resultado de todo o quadrimestre para ficarmos dentro da média. A partir da
segunda quinzena [de março], tivemos dez dias consecutivos com chuvas acima de
100 milímetros. Isso influenciou bastante na média”, analisa o meteorologista. Segundo Oliveira, o cenário resultou da
atuação da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), principal sistema indutor
de chuvas no Ceará.
Ao longo do
quadrimestre, os municípios com maiores acumulados tiveram índices bem acima da
média estadual. A lista é encabeçada por Barroquinha, no Litoral Norte, com
1.359 mm, seguido por Tururu, no Litoral do Pecém, com 1.313 mm. Em seguida
aparecem Guaiúba, no Maciço do Baturité, onde choveu 1.243 mm; Ubajara, na
Serra da Ibiapaba, que registrou 1.163 mm; e Pacoti, também no Maciço do
Baturité, com 1.155 mm.
Já as
cidades menos chuvosas registraram índices abaixo da média geral: Campos Sales
(378 mm), Saboeiro (392 mm), Arneiroz (390 mm), Aiuaba (404 mm) e Itatira (416
mm), todas localizadas no Sertão Central e Inhamuns, a região onde menos choveu
durante o período.
Com o fim da
quadra chuvosa, o Ceará inicia nesta quinta-feira, 1º de junho, a pós-estação
chuvosa, que prossegue até meados de agosto. A previsão da Funceme para o
período indica possibilidade de chuvas isoladas, mas com intensidade e volume
consideravelmente inferiores aos do quadrimestre de fevereiro a maio. Depois,
entre setembro e novembro, temporada também conhecida como b-r-o bró, o Estado
deve ter predominância de sol forte, altas temperaturas e baixa umidade relativa
do ar.
Banho de esperança: Colheita farta em ano chuvoso
Os caminhos
que levam ao distrito Lagoa do Juvenal, em Maranguape, na Região Metropolitana
de Fortaleza, desenham o cenário típico da época mais aguardada do ano pelos
agricultores: a caatinga cinzenta perdeu espaço para o verde das lavouras e o
solo rachado dos açudes foi encoberto pela água que caiu do céu.
Já é tempo
de colheita para o agricultor Reginaldo Brasileiro, 36, que transmite esperança
no olhar ao projetar a safra de milho, após um bom período chuvoso. “Acho que
vamos colher umas 8 toneladas este ano. A chuva de março veio no tempo certo
para o milho soltar o pendão e começar a bonecar”, explica. Ele semeou as
sementes em uma área de quatro hectares cedida pelo proprietário.
De tanto conviver
com o pai na lavoura, desde a infância, Reginaldo aprendeu que a colheita
próspera é o casamento da terra com o céu. “Aqui, a gente depende 100% da
chuva. Quando percebemos que o chão está molhado um palmo e meio [de
profundidade], é o tempo de arar [a terra], plantar a semente e torcer para que
chova no dia seguinte para que ela possa germinar bem”.
Com a palha
do milharal já secando, o agricultor projeta a colheita para a segunda quinzena
de junho. A safra já tem destino certo: alimentar a criação de suínos e bovinos
mantida pela família. “A gente usa o milho para engordar os porcos e a palha
serve de comida para o gado”, explica Reginaldo. É com a venda dos animais,
após o período de engorda, que o pequeno produtor garante o sustento da
família.
Se tudo
começa na lavoura, o preparo do solo é fundamental para uma colheita farta.
Atento a isso, Reginaldo solicitou apoio à Secretaria Municipal de Agricultura
do Município, que disponibilizou um trator para a aração da área de cultivo do
agricultor. Segundo o engenheiro agrônomo da pasta, Danilo Colares, o serviço
está disponível para todos os agricultores da cidade mediante fila de espera.
“A demanda cresce bastante quando temos um ano chuvoso assim”, frisa ele.
Durante a
estação chuvosa, Danilo percorreu quase todas as comunidades rurais da cidade
para prestar assistência técnica a pequenos agricultores. Nas andanças, ele
testemunhou situações opostas em territórios com características geográficas
muito diferentes, embora localizados no mesmo município.
“Em algumas
áreas, como essa [Lagoa do Juvenal], que historicamente é mais seca, foi muito
bom porque choveu bastante e não alagou.Mas temos outros locais que chegaram a
sofrer por excesso de água, principalmente onde o solo é mais raso”, explicou.
O acumulado
da quadra chuvosa em Maranguape foi de 1.028 mm, segundo a Funceme, volume 35%
acima da normal climatológica do período. O índice, contudo, é menor do que os
1.248 mm observados no mesmo quadrimestre de 2022.
Além do
ganho para a agricultura, as chuvas também recarregaram o estoque hídrico do
município. “Todos os açudes estão cheios, a maioria sangrando, estamos entrando
em junho ainda com chuvas pontuais”, comemora Danilo.
Com
informações portal O Povo +
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