Um pastor garimpeiro, um acusado de assassinato de sem-terra, um pecuarista com multa milionária por desmatamento e até o ex-assessor do senador Zequinha Marinho (PL). Esses são alguns representantes da elite rural do sul do Pará que não apenas estão inconformados com a derrota de Jair Bolsonaro (PL) como fazem campanha aberta por um golpe militar desde a eleição presidencial.
De acusado de assassinato a ex-assessor do senador Zequinha Marinho (PL): veja os perfis de alguns dos golpistas integrantes da elite rural no sul do Pará que incitaram atos antidemocráticos. A apuração foi feita pelo Repórter Brasil e portal UOL.
Ex-assessor do senador Zequinha Marinho, o pecuarista Luciano Guedes marca presença constante em Brasil e no acampamento em frente ao QG do Exército. | Reprodução/Redes Sociais
Vídeos e
fotografias obtidos com exclusividade pela Repórter Brasil mostram fazendeiros,
comerciantes e garimpeiros da região participando de atos golpistas, tanto em
seus redutos como em Brasília. Com cartazes ou palavras de ordem, convocam as
Forças Armadas, espalham notícias falsas e instigam mais brasileiros a se
rebelarem contra a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Todos são
apoiadores de Bolsonaro — alguns fizeram doação de campanha — e vivem em uma
região marcada por altos níveis de desmatamento, grilagem de terras públicas,
pecuária predatória e garimpo ilegal, inclusive dentro de terras indígenas.
Lauriano, ex-candidato a
primeiro suplente de senador na chapa de Flexa Ribeiro (PP/PA) no ano passado,
e seu pai, Onício Lauriano, que tem fazendas espalhadas por pelo menos três
municípios do Pará. Mas a família não é a única que clama por intervenção
militar.
Foi com
destino a Marabá (PA) que o empresário Wellington Francisco Rosa saiu
de casa após a vitória de Lula, ainda em novembro. "Vou lutar bravamente
para que as autoridades brasileiras possam ser claras e objetivas quanto ao
resultado das urnas", disse em vídeo.
Em Marabá
está o 52º Batalhão de Infantaria de Selva, um dos pontos de encontro dos atos
antidemocráticos no Pará. Mas os protestos dos fazendeiros também chegaram ao
quartel-general do Exército em Brasília, onde montaram uma barraca.
Em dezembro,
Rosa esteve no acampamento da capital federal e convocou "os brasileiros
de bem" a se juntarem aos manifestantes nos dias 10, 11 e 12 daquele mês,
quando seria estabelecido "o dia da vitória, o dia D". "O
Exército brasileiro vai agir a nosso favor", afirmou.
Mais
conhecido como T.A, Rosa é
pecuarista e dono da Casa da Roça, rede de produtos agropecuários com 12 lojas
no Pará. Em setembro, a Repórter Brasil apurou que a Fazenda Maranata, de Rosa,
em São Félix do Xingu (PA), recebeu animais criados ilegalmente na Terra
Indígena Apyterewa.
O empresário milita no grupo Direita Xinguara, organização conhecida por fazer campanhas em prol de Bolsonaro e divulgar ataques a Lula.
Direita Xinguara é uma organização conhecida por fazer campanhas em prol de Bolsonaro e divulgar ataques a Lula no sul do Pará |Reprodução/Redes Sociais
No
vídeo, Rosa tem a seu lado mais dois pecuaristas do Pará. O de boné é Lázaro de Deus Vieira Neto, conhecido como Lazinho, um dos acusados do assassinato
de duas lideranças do MST em Parauapebas (PA) em 1998. O caso deve ir a júri
popular. O fazendeiro afirma ser inocente. Nas eleições passadas, doou R$ 100
mil na pré-campanha para o PL e R$ 1.000 para Bolsonaro.
O
outro homem que aparece é João Franco da Silveira Bueno,
pecuarista com R$ 9 milhões em multas ambientais recebidas de 2009 a 2019, por
vender gado proveniente de áreas embargadas, segundo o Ibama. No dia 12 deste
mês, o produtor foi alvo de denúncia do MPF relacionada ao descumprimento do
embargo.
Vieira Neto e
Bueno aparecem em outro vídeo gravado em dezembro no QG de Brasília, convocando
manifestantes a se juntarem ao grupo.
A Repórter
Brasil tentou contato com Rosa, Neto e Bueno por meio de seus advogados, e
também com o ex-senador Flexa Ribeiro, mas não obteve resposta.
MILIONÁRIO, MAS QUE GANHAVA
APENAS R$ 5 MIL...
Desde que
começaram as prisões dos golpistas em Brasília, o produtor rural Luciano Guedes usa suas redes sociais para
questionar a legalidade das detenções, espalhar fake news e acusar o Exército
de ser "traidor do povo". Mas, antes dos ataques, ele esteve em um
protesto no batalhão de Marabá carregando um cartaz escrito "SOS Forças
Armadas".
Guedes foi
prefeito de Pau D'Arco (PA) entre 2009 e 2012, ano em que perdeu a reeleição.
Naquele pleito, declarou ao TSE R$ 12,4 milhões em bens. Apesar do patrimônio,
ele aceitou um cargo com salário de cerca de R$ 5.700, de agosto de 2019 a
julho de 2022, no gabinete do senador Zequinha Marinho (PL-PA), que já recebeu
lobistas pró-garimpo em Brasília.
O produtor
rural esteve em Brasília no último 7 de Setembro para apoiar Bolsonaro.
"Faça o que for necessário", pediu ao então presidente, em cartaz.
Com a derrota do candidato, passou a frequentar protestos em quartéis.
Em 2017, quando Pau
D'Arco foi palco do maior massacre no campo dos últimos 25 anos, ele insinuou
que os dez sem-terra assassinados eram bandidos.
Guedes não
respondeu aos contatos da reportagem. Procurado, o gabinete de Zequinha Marinho
disse, em nota, que "não se manifesta a respeito de atos e/ou
posicionamentos de seus ex-assessores".
Quem também
passou pela porta do 52º batalhão de Marabá foi o pecuarista Vitório Guimarães da Silva, candidato a vice-prefeito
de Redenção (PA) em 2008, quando declarou patrimônio de R$ 1,9 milhão. Em
novembro, ele aparece em vídeo evocando o golpe que instalou a ditadura no
Brasil. "Quero lembrar vocês que, em 64, quem fez a diferença foi a Marcha
da Família, liderada pelas mulheres."
Procurado, o
advogado de Guimarães, Carlos Eduardo Teixeira, atribuiu o posicionamento
político de direita do pecuarista ao fato de uma de suas fazendas ter sido alvo
de ocupação de trabalhadores rurais sem terra.
PASTOR GARIMPEIRO
Desde a
derrota de Bolsonaro, o pastor, pecuarista e garimpeiro João José de Sousa, conhecido como Pr. J Sousa, utiliza suas redes sociais para questionar
o pleito, declarar guerra ao comunismo e evocar a intervenção militar. Alguns
de seus vídeos foram gravados no acampamento de Brasília.
Em 16 de
dezembro, o pastor da Assembleia de Deus declarou que a sociedade deve
"agir e convocar o seu Exército" quando "as instituições não dão
conta de cuidar do país".
A Repórter
Brasil conversou com Sousa por telefone, que pediu as perguntas por mensagem,
mas não respondeu.
O pastor foi candidato a
deputado estadual no Pará em 2022 pelo PL e não se elegeu. Seus bens declarados
ultrapassam R$ 9 milhões. Além de pecuarista, Sousa atua no garimpo. Em janeiro
de 2020, quando era secretário de Finanças de Ourilândia do Norte (PA), esteve
em Brasília e foi recebido na Agência Nacional de Mineração para reunião sobre
a defesa dos garimpeiros.
Logo no
início do novo governo, o pastor protestou contra a decisão de Lula de revogar
decreto de Bolsonaro que estimulava o chamado "garimpo artesanal".
"Por que tanta perseguição contra o trabalhador brasileiro? Garimpeiro não
é bandido", declarou.
LESA PÁTRIA
Na última
sexta-feira (20), a Polícia Federal deflagrou a Operação Lesa Pátria, que tem
como alvos bolsonaristas envolvidos nas invasões ocorridas nas sedes dos Três
Poderes em 8 de janeiro.
Eles vão
responder sob acusação dos crimes de abolição violenta do Estado democrático de
Direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa, incitação ao
crime, destruição e deterioração ou inutilização de bem especialmente protegido.
As
investigações seguem em curso. Nenhum empresário mencionado nesta reportagem é
alvo dos inquéritos até agora divulgados.
Autor:Repórter
Brasil/UOL
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