A Polícia Civil suspeita que a menina de 10 anos que foi morta pela mãe em Guarapuava, na região central do Paraná, tenha sido mantida viva junto ao cadáver do irmão mais novo, de três anos.
Segundo a delegada responsável pela investigação, a
mulher de 30 anos confessou ter matado as duas crianças às autoridades quando
eles chegaram no apartamento e realizaram a prisão, no sábado (27). Depois, no
interrogatório oficial, ela permaneceu em silêncio e teve a prisão preventiva
decretada pela Justiça.
Ana Hass afirmou nesta terça-feira (30) que a
suspeita só será confirmada com o resultado do laudo pericial.
Ainda conforme a delegada, se comprovado que a
criança foi mantida junto ao cadáver, o inquérito pode ainda indiciar outros
crimes, como de tortura e cárcere privado.
“Nós estamos aguardando laudo pericial que vai ser
a única forma da gente comprovar essa informação. Mas já no local dos fatos,
entrando em contato com os cadáveres, restou evidente sim que o cadáver do
menino estava um pouco mais perecido”, disse.
A advogada de defesa da mãe, Eliara Paz Nardes,
disse que busca contato com a cliente e que vai pedir exames médicos
psiquiátricos para apurar a saúde mental da mulher.
Até o momento, ela deve ser responder pelos crimes
de duplo homicídio, ocultação de cadáver e fraude processual.
Suspeita de crime premeditado
Ainda segundo a delegada, após a decretação da
prisão preventiva, a mulher foi levada da delegacia para um outro local o que
não é de praxe. “Mantê-la no convívio com outras presas seria bastante arriscado”,
de acordo com Ana Hass.
A delegada também afirmou que a polícia suspeita de
crime premeditado. Anteriormente, a versão de surto foi desconsiderada no
inquérito policial, sem pedido por parte da polícia para um laudo psiquiátrico.
Isso porque, segundo a delegada, a mulher afirmou
nunca ter feito tratamento nem ter tido outro episódio de surto.
“Toda a dinâmica dos fatos leva a crer que isso não
aconteceu. Primeiramente, ela teria até premeditado esse crime e possivelmente
ao passar cerca de 15 dias com os cadáveres das crianças, nós entendemos que
ela passou esse tempo bolando estratégias de defesa ou bolando formas de se
escusar, achar desculpas, escusas para apresentar às forças policiais”,
explicou.
Também foi divulgado que a mulher escreveu cartas
durante os cerca de 15 dias no apartamento, apresentando justificativas para o
crime.
“Em suma, sempre, mais uma vez, justificando. São
cartas longas. São duas cartas, uma de oito páginas outra de três ou quatro.
Mas dizendo ali que até o momento que ela tinha apenas a filha, a vida dela era
boa, apesar do pai da filha ser falecido ela ainda conseguia. Mas depois que
ela encontrou o pai do menino, tudo se tornou, ela até fala e escreve um
palavrão, porque ele era um pai também um palavrão”, disse.
A delegada também falou que a mulher tinha renda
mensal de cerca de R$ 3 mil e recebia pensão do filho mais novo. Por conta
disso, a polícia não considera problemas financeiros.
Vida normal após crime
A delegada afirmou que os indícios são de que a
mulher levou uma vida normal após o crime. Testemunhas afirmaram terem recebido
ligações dela oferecendo créditos consignados – ela era representante de uma
empresa no ramo. Segundo a polícia, a mulher trabalhava de casa.
Além disso, a presa relatou que saiu de casa um dia
para tentar tirar a própria vida ao se jogar em um rio, mas desistiu pois
“estava frio”. Câmeras de monitoramento do prédio serão analisadas pela Polícia
Civil. A delegada também informou que a mulher limpou os cômodos onde ficava no
apartamento.
“É difícil a gente imaginar para qualquer tipo de
situação um ser humano permanecer com um cadáver dentro do ambiente. Até por
questões de odor, de sujeira. O apartamento estava sujo, com bastante sangue,
tanto que ela limpou a parte que ela estava habitando. Para não se incomodar
com aquela visão enquanto ela ensaiava ali as suas justificativas para a
autoridade”, afirmou.
Escola e vizinhos
A polícia informou que apenas a menina de 10 anos
frequentava a escola e a criança de três ficava em casa com a mãe.
A delegada disse que a instituição de ensino chegou
a dar falta da vítima e ligou para a mãe, mas a mulher afirmava que a criança
estava doente, com gripe. A mesma justificativa era dada ao porteiro do prédio.
Já o motorista da van que levava a menina até a escola
foi ignorado pela mãe. A polícia suspeita que isso tenha sido feito para evitar
que ele tentasse contato no apartamento.
Tanto professores da escola quanto o porteiro serão
ouvidos no processo, segundo a delegada.
A delegada afirmou que os vizinhos não perceberam
mudanças nas movimentações. Eles também serão ouvidos pela polícia. A família
tinha se mudado para o local há cerca de cinco meses.
Próximos passos
A Polícia Civil tem até o dia 6 de setembro para
encerrar o inquérito. A irmã, o pai da criança e a suspeita foram ouvidos. A
delegada disse que ainda devem prestar depoimentos professores, vizinhos e o
porteiro. A polícia aguarda laudos de perícia e imagens de monitoramento do
prédio.
Uma vez encerrado o inquérito, a denúncia é
oferecida ao Ministério Público do Paraná (MP-PR) que define se será feita
denúncia ou não. Depois, cabe à Justiça aceitar e instaurar o processo
criminal.
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