O senador paraense Zequinha Marinho (PL), pré-candidato ao governo do Pará nas eleições de 2022, foi um dos políticos citados pelo delegado da Polícia Federal, Alexandre Saraiva, em entrevista à Globo News nesta terça-feira (14). O delegado fazia uma participação ao vivo comentando sobre o desaparecimento do jornalista inglês Dom Phillips e do indigenista Bruno.
Ex-superintendente da PF no Amazonas, delegado Alexandre Saraiva, acusa senador Zequinha Marinho (PL) de interferência para liberação de madeira apreendida em Santarém. O texto é do portal O Estado Net.
Segundo ele, os criminosos, responsáveis pelo desmatamento na
Amazônia e exploração de garimpos ilegais, têm boa parte dos políticos da
região Norte no bolso, incluindo governadores, deputados e senadores. “Eu tenho
aqui, uma coleção de ofícios de senadores de diversos estados da Amazônia, que
mandaram para o meu chefe dizendo que eu estava ultrapassando os limites da
lei, que estava cometendo abuso de autoridade. Teve senador junto com
madeireiro me ameaçando”, disse.
Saraiva afirma em um trecho da entrevista que não é fácil
estar na Amazônia, justamente por causa da interferência de políticos, que são
financiados por grupos criminosos. "Vou dizer nomes: Zequinha Marinho, que
estava junto lá com o Ricardo Salles, no dia da Operação Handroanthus, Telmário
Mota, Messias de Jesus, Jorginho Melo (de Santa Catarina!), mandou ofício...
Carla Zambelli foi lá também, defender madeireiro junto com Ricardo Salles. Nós
temos uma bancada do crime. Na minha opinião, de marginais. São bandidos",
afirmou o delegado Alexandre Saraiva.
De fato, no dia 31 de março de 2021, o senador Zequinha Marinho esteve
na Cachoeira do Aruã, no rio Arapiuns, em Santarém, no oeste do Pará,
acompanhando o ex-ministro Ricardo Salles. Na comitiva, estava também a
deputado Carla Zambelli. Neste dia, a equipe do ex-ministro foi recepcionada
por madeireiros liderados pelos parlamentares, que eram os porta-vozes dos
supostos donos dos lotes de madeira apreendidos.
Antes da viagem para Cachoeira do Aruã, o Ricardo
Salles se reuniu em um hotel em Santarém com um grupo de empresários ligados ao
setor madeireiro.
A região Cachoeira do Aruã, no Rio Arapiuns, foi onde a
Polícia Federal apreendeu um carregamento de madeira ilegal. Mas a maior parte
da carga já foi liberada pela Justiça Fedeal do Amazonas.
A ligação de Zequinha Marinho com grupos de madeireiros e grileiros de
terra é histórica. Em 2020, ele postou um vídeo nas redes sociais, onde aparece
acompanhado de nada menos que Jassonio Leite, apontado como o maior grileiro de
terras indígenas da Amazônia.
Marinho também intermediou encontro de
representantes da Rondobel, alvo da operação Handroanthus com o vice-presidente
Hamilton Mourão.
A Rondobel Indústria e Comércio de Madeiras foi responsável, segundo a
PF, pela extração da maior parte da madeira apreendida na operação. Diretores
da madeireira integram a Associação das Indústrias Exportadoras de Madeiras do
Pará (Aimex), que fez lobby para acabar com a necessidade de que o Ibama
autorize a exportação de cargas de madeiras retirada das florestas no país.
O parlamentar paraense, em janeiro do ano passado,
foi um dos políticos que se queixou dos supostos ‘excessos’ cometidos pelos
federais. Marinho inclusive chamou agentes do Ibama de ‘bandidos’ e considerou
a ação da PF “pior do que o Estado Islâmico”.
Ex-vice-governador do Pará, e atual senador, já
exerceu mandatos de deputado federal e estadual, hoje se apresenta como
pré-candidato ao governo do Estado.
O delegado Alexandre Saraiva esteve à frente da
Operação Handroanthus da PF, deflagrada em 2020 e que apreendeu 226.760
metros cúbicos de madeira ilegal na divisa entre Amazonas e Pará. Foi a
maior apreensão de madeira ilegal da história da PF. Uma carga avaliada em
cerca de R$ 130 milhões.
A investigação da Polícia Federal, à época, apontou desmatamento ilegal,
grilagem de terra, fraude em escrituras e exploração madeireira em áreas de
preservação permanente.
Em 2021, Alexandre Saraiva foi transferido da
Superintendência da PF no Amazonas e foi retirado do cargo um dia após
apresentar ao Supremo Tribunal Federal (STF), uma notícia-crime contra o
ex-ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Saraiva acusava Salles de
dificultar as investigações.
Na entrevista à Globo News, o delegado afirma
categoricamente que é difícil conter o avanço dos crimes ambientais na Amazônia
e ratificou que a interferência de políticos é maior entrave no combate às
ilegalidades na região.
O Estado Net
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