Quando o atacante Bill, do Dnipro, aceitou o convite para jogar na Ucrânia, ele disse que aceitaria a aventura de jogar no leste europeu para ter uma grande história a contar aos filhos. Mas jamais poderia imaginar que essa grande história incluiria percorrer mais de 1.000 km em um país tomado pela guerra e pela destruição.
Atletas que estavam na Ucrânia quando o país foi invadido pela Rússia contaram os momentos de desespero e incertezas que viveram nos últimos dias.
Bill foi um dos atletas na Ucrânia que conseugiu voltar ao Brasil. | Divulgação |
Bill foi um dos primeiros jogadores a desembarcarem no Brasil após
deixarem para trás a guerra entre Rússia e Ucrânia. Ele foi recebido pelos pais
no aeroporto do Galeão, no Rio, no fim da manhã de hoje (27).
"Quando ele foi convidado para jogar na
Ucrânia, ele disse que queria ir para ter uma história pra contar pros filhos,
queria dar um testemunho. Ele só não imaginava que a história seria essa",
disse Elson Luís Gomes, pai de Bill, ao UOL enquanto aguardava o filho no
saguão de desembarque do Galeão.
Emocionado, depois de abraçar os pais Carla e Elson
e a namorada Maiara, Bill refletiu no que testemunhou em sua longa jornada para
deixar a Ucrânia. É o tipo de história que ele realmente não esperava ter de
contar.
"É muito difícil ver o povo ucraniano sofrendo.
Você ver as pessoas que moram no país, que são do país e que não podem fazer
nada para sair e salvar suas famílias. Os homens, os chefes de família,
deixando as suas filhas, esposas e mães e tendo que voltar sem saber para onde
ir. Isso para mim foi o mais chocante. Essa foi a cena mais chocante da minha
vida", disse.
Em meio a essas lembranças de terror, o jogador
disse ao UOL Esporte que teve sorte, por exemplo, ao conseguir deixar a Ucrânia
com uma mala, ao contrário de outros cidadãos que não conseguiram resgatar nem
mesmo os próprios documentos.
"Eu tive recurso para conseguir sair e voltar para casa, mas tem
muita gente que está em situação precária, gente que não conseguiu pegar
dinheiro, documento, cartão. Depois que passam da fronteira, eles não sabem o
que fazer. Isso está sendo uma dificuldade muito grande. Deixei muita coisa pra
trás, consegui uma mala porque tinha acabado de chegar da pré-temporada e não
tive tempo de me desfazer de um dia para o outro", contou.
Nascido em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, Bill jogou nas
categorias de base do Flamengo, clube pelo qual se profissionalizou. Ele tem
mais um ano de contrato com o Dnipro, mas agora não sabe quando poderá voltar a
jogar futebol. O campeonato ucraniano está suspenso.
Bill embarcou ontem (26) em Madri, na Espanha,
depois de conseguir atravessar a fronteira da Ucrânia com a Romênia. Além dele,
seus companheiros de equipe Busanello e Felipe Pires também chegaram ao Brasil
no mesmo voo.
"Só estavam passando mulheres e crianças, não nos
deixaram passar logo quando chegamos e ficamos com essa roupa [moletom] em um
frio de 0 ou -1 graus até liberarem a saída [...] fiquei traumatizado, primeiro
ano na Ucrânia e uma guerra acontece", disse Felipe ao desembarcar em São
Paulo sobre como aconteceu a travessia da fronteira com a Romênia.
Pires e Busanello desembarcaram em São Paulo, onde
moram. Já Bill, seguiu em um outro voo em direção ao Rio de Janeiro, com
destino ao Galeão.
Antes de começar a caminhada em direção a
fronteira, o Dnipro reuniu seus atletas num hotel da cidade, onde poderia ter
maior controle sobre a situação deles e protegê-los. O chamado foi feito na
madrugada da última quinta-feira, quando caíram as primeiras bombas. A cidade
foi alvo de ataques da Rússia, que atingiu as bases militares afastadas da
região central.
Pouco tempo após as
primeiras bombas caírem em solo ucraniano, a diretoria do clube também
autorizou seus jogadores e funcionários a deixarem o país.
FOLHAPRESS
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