Esperada desde a decretação do estado de pandemia, a vacinação contra a Covid-19 se tornou uma realidade para os brasileiros neste ano de 2021 e reafirmou o que já apontavam os especialistas: a vacinação é capaz de ajudar a controlar a doença. Com o cenário bem mais favorável do que o observado na virada do ano anterior, a pandemia entra em seu terceiro ano com uma perspectiva mais otimista, mas ainda demandando alguns cuidados por parte da população e do poder público.
O DIÁRIO ouviu dois infectologistas falarem sobre o cenário atual da pandemia no país e no mundo, com a vacinação e a chegada de novas variantes, bem como o quadro que se desenha para o futuro.
Uso de máscaras continua sendo essencial para se combater a pandemia | Mauro Ângelo/Diário do Pará |
Mestre em Saúde na Amazônia pelo Núcleo de Medicina
Tropical da Universidade Federal do Pará (UFPA) e Coordenador Médico de
Pesquisas Clínicas do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, o médico
infectologista Bernardo Porto Maia destaca que é inegável que as coisas vêm
melhorando no Brasil nos últimos meses, porém, não se pode esquecer que o mundo
está lidando com uma pandemia e que, portanto, acomete todos os territórios do
planeta.
Hoje, diante de um mundo globalizado e da
facilidade tão grande de deslocamento de pessoas entre os territórios, não se
pode ignorar a existência de ‘bolsões’ onde ainda tem uma circulação viral e um
número de casos muito grandes, o que mantém o alerta para um possível risco de
surgimento de novas variantes e de retomada de aumento do número de casos em
localidades onde a pandemia já se encontra mais controlada.
“É muito pouco provável que a gente volte a viver
aquele caos completo que a gente viveu no início da pandemia, quando a gente
estava diante de uma doença absolutamente nova. Agora, a gente tem vacina, um
cardápio de imunizantes e todos eles com excelente eficácia principalmente no
que tange a proteger de formas graves e óbitos, que são os grandes responsáveis
por superlotar o serviço de saúde e dificultar a assistência adequada à
população. Então, a gente não imagina que se vá viver novamente aquela
situação”.
VARIANTES
Apesar disso, o médico alerta que, com essas novas
variantes surgindo, como é o caso da última de maior interesse internacional, a
Ômicron, ainda é preciso sempre manter todas as medidas de precaução e
prevenção à infecção, não só as vacinais, como também as não farmacológicas que
a população já conhece.
“É muito difícil a gente dispensar o uso de
máscaras, é muito difícil a gente dispensar a higienização das mãos que, na
verdade, é algo que a gente aprendeu com a pandemia e que deveria levar para o
resto da vida”, considera. “Essas são lições que a pandemia deixa: ter uma
higienização adequada e frequente das mãos com álcool em gel ou com água e
sabão, ter aquela etiqueta respiratória ao tossir e espirrar. A pandemia vai
embora em algum momento, sim, mas não vai ser porque ela foi embora que a gente
vai deixar essas lições aprendidas de lado”.
No que se refere ao uso de máscaras, por exemplo, o
infectologista acredita que a obrigatoriedade ainda vai perdurar por mais um
tempo. No cenário atual, é de extrema importância que se mantenha todas as
estratégias de prevenção que já vem sendo utilizadas para que se evite
surpresas.
“A gente já teve, inclusive, exemplos internacionais
de países na Europa e o próprio Estados Unidos em que suspenderam precocemente
o uso de máscaras pela queda do número de casos e esse número de casos voltou a
crescer exponencialmente em uma velocidade impressionante, então, a gente tem
que ter um pouco de cautela nesse tipo de recomendação”, explica Bernardo.
“Desde que a gente
consiga perceber que, após esse momento de festas de fim de ano, de maior
aglomeração e em vigência de novas variantes de interesse de saúde pública,
como é o caso da Ômicron, não houve um aumento exponencial de novos casos, pode
ser que a gente consiga evoluir, em 2022, com a suspensão dessa recomendação de
uso obrigatório da máscara”.
Com relação à possível necessidade de inclusão da
vacina contra a Covid-19 no calendário vacinal rotineiro, o médico acredita que
ainda é cedo para afirmar, mas que se acredita muito que a Covid-19 vai ser uma
doença que vai permanecer. “Ela não vai mais permanecer enquanto seu caráter
pandêmico, mas, bem como a gripe, que sazonalmente aparece, a gente acredita
que a Covid-19 também vai figurar na nossa realidade em saúde pública dessa
mesma forma”, avalia.
“E quando a gente fala de doenças que,
sazonalmente, aumentam o número de casos, a gente precisa ter uma estratégia de
vacina, sim, para prevenir. Não existe prevenção melhor do que a imunização, do
que a vacina. Se a gente conseguir controlar o número de novos casos, a gente
consegue, nesse novo cenário, postular essa frequência adequada da
periodicidade com que a gente vai precisar vacinar as pessoas. Mas eu acho
muito improvável que a gente não tenha que vacinar daqui para frente pelo menos
anualmente toda a população”.
Necessidade de manutenção da vacinação
Para a médica infectologista Deborah Crespo, o
cenário também aponta para a provável necessidade de manutenção da vacinação
contra a Covid-19, com os intervalos de doses devidamente ajustados. “O que nós
temos observado é que, à medida que você vai desenvolvendo as suas defesas,
seja porque houve uma exposição direta ao vírus, ou para aqueles que fizeram a
vacina, essa imunidade não é para sempre”, considera.
“A gente precisa ter
esse estímulo de memória para que a gente possa formar mais anticorpos,
melhorar o nosso perfil de defesa para que as pessoas venham a adoecer menos e,
obviamente, tenhamos aquilo que a gente, graças a Deus, já está constatando no
nosso país, que é um número menor de óbitos”.
A médica considera que, em um horizonte mais
positivo, o que se vê é a perspectiva de a pandemia passar para uma fase de
endemia, considerando justamente o avanço das vacinas e a ampliação da oferta
de doses, inclusive com diminuição do período de dose de reforço.
“Historicamente, as pandemias geralmente duraram de dois a três anos, então a
nossa esperança é que com o advento da tecnologia, do avanço que todo mundo
teve dentro da área das ciências e diversas outras áreas de tecnologia, a gente
possa realmente vislumbrar que essa pandemia consiga se encerrar antes do
término do terceiro ano”, aponta.
“A nossa esperança é que em 2022 a gente possa ver
as autoridades sanitárias globais já nomeando a nossa, hoje, pandemia no que
nós chamamos de endemia, tal qual nós temos várias outras doenças como o vírus
HIV, a malária e tantas outras doenças que são consideradas endemias”.
CIRCULAÇÃO
Deborah considera que já se tem o entendimento de
que o vírus da Covid-19 não vai desaparecer, portanto, a tendência que se
espera é que esse vírus fique circulando, mas de uma forma que não venha a
acometer diferente daquilo que já conhece da gripe, da Influenza. “Que o
surgimento de variantes e de cepas é um comportamento normal de todo vírus isso
nós já sabemos, a diferença desse foi a rapidez com que ele se disseminou na
população no mundo todo e que tem sido um desafio também para as vacinas.
Então, realmente foi um grande desafio que ninguém podia imaginar passar”,
considera a infectologista.
“Tem sido um
período de dois anos transformadores na saúde, na economia, no social, na
família e a gente olha 2022 com o aprendizado dessas transformações, com um
olhar de grande esperança. A gente tem que entender que, mais do que nunca, a
gente tem que zelar pela nossa saúde para manter o bem-estar de todos, da nossa
comunidade”, destaca.
Cintia Magno/Diário do Pará
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