Um estudo realizado com 1.310 colaboradores do Hospital das Clínicas de São Paulo mostrou que após a terceira dose do imunizante contra a Covid-19 a produção de anticorpos sobe para 99,7%, muito perto da totalidade. O trabalho teve o apoio do Instituto Todos pela Saúde, do Itaú.
A dosagem de anticorpos é uma das formas de medir a proteção de uma vacina.
A dosagem de anticorpos é uma das formas de medir a proteção de uma vacina. | Márcio Ferreira/Comus |
Para ampliar a proteção contra a variante
ômicron, no sábado (18), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, anunciou a
redução do intervalo de aplicação da dose de reforço da vacina contra a
Covid-19 de cinco para quatro meses.
Os participantes da pesquisa estavam em
acompanhamento desde o início da pandemia e receberam as duas primeiras doses
da Coronavac e o reforço da Pfizer.
A dosagem de anticorpos é uma das formas de
medir a proteção de uma vacina.
Para a infectologista do Hospital das
Clínicas e responsável pelo estudo, Silvia Figueiredo Costa, provavelmente, se
as duas primeiras doses tivessem sido de outro imunizante, a resposta seria
semelhante, o que ressalta a importância do reforço. Porém, não é possível
confirmar essa hipótese no momento, uma vez que estudos sobre a dose de reforço
começaram a sair recentemente.
"O que nos deixa mais tranquilos, como
parte da população brasileira, do Chile e de outros países receberam a primeira
e a segunda dose da Coronavac, após o reforço com a vacina de outro fabricante
houve essa pontuação bem elevada de produção de anticorpos", avalia Costa.
O reforço não impede as formas leves da
doença, mas protege da hospitalização. "Nós não tivemos nenhum caso [no
Hospital das Clínicas] com a terceira dose que tenha sido internado",
afirma.
Para a análise, os anticorpos foram medidos
quatro vezes e as amostras de soro coletadas submetidas ao teste de anticorpos
da classe IgG (Imunoglobulina G) pelo método de quimioluminescência.
"É um teste de última geração, o mesmo
método do ano passado, mas que agora está avaliando três partes da proteína S
[Spike] e ficou mais interessante trabalhar a resposta vacinal", explica.
Na mesma coorte foram analisados os
anticorpos neutralizantes —aqueles capazes de bloquear a entrada do vírus nas
células—, mas os resultados serão conhecidos em 2022.
Antes da disponibilização das vacinas, a taxa
de soroconversão de anticorpos no grupo estudado estava em 15,1% e
exclusivamente relacionada ao contato da pessoa com o vírus.
Após a aplicação da primeira dose, em
fevereiro, a taxa subiu para 28,9%. Com a segunda dose, em abril, o percentual
alcançou 89,5% e neste mês, após o reforço da Pfizer, chegou a 99,7%. "Nós
esperamos duas semanas após a terceira dose para dar tempo de ter a produção de
anticorpos."
Do grupo, apenas quatro pessoas não
apresentaram anticorpos contra a Covid-19.
Quem contraiu a doença nos dois últimos dois
meses foi excluído da pesquisa. "Excluímos para não ter nenhum viés no resultado
da sorologia, porque as pessoas que tiveram Covid vão ter a sorologia positiva.
Então, uma forma de diferenciar o que é sorologia positiva da resposta vacinal
do que é sorologia positiva de quem teve Covid recente é excluir quem pegou a
doença nos dois últimos meses, senão você não consegue diferenciar. Essa alta
positividade é por causa da vacina", explica a médica.
Para a especialista, o estudo mostra que a
Coronavac estimulou a imunidade de memória. "Quando foi feito o reforço,
aumentou bastante a produção de anticorpos, que seriam um dos sistemas para
proteger a população da doença, principalmente da forma grave da Covid",
afirma.
A pesquisa mostra também que a segunda dose
da Coronavac já havia elevado a produção de anticorpos a uma porcentagem alta,
mas com o tempo a proteção diminui e, por isso, é importante receber o reforço.
Na opinião da infectologista, ainda não é
possível estabelecer o intervalo para a revacinação. Segundo ela, dependerá das
variantes em circulação e da evolução da pandemia a partir de agora.
"Seria muito importante vacinar [a
população] na África, que está com baixa taxa de vacinação e em alguns países
na Ásia para que não tenhamos novas variantes circulando. Os dados com a
ômicron mostram que a terceira dose, dependendo da vacina tomada anteriormente,
têm uma produção de anticorpos de 70%", diz a médica.
O trabalho ainda sequenciou amostras de
funcionários do grupo estudado que testaram positivo para Covid-19 ao longo da
pesquisa e observou que, entre os meses de março e julho, houve predominância
de infecções causadas pela variante gama (P.1): março, 91%; abril, 98,5%; maio,
98,9%; junho, 100%; e julho, 88,5%.
A delta começou a ser identificada também em
julho entre funcionários do HC, quando era 6,5% dos casos, e nos meses
seguintes tornou-se predominante: agosto, 79,8%; setembro, 97,4%; outubro e
novembro, 100%.
Esse sequenciamento não detectou a presença
da ômicron.
"Mesmo no Brasil está havendo uma
procura menor pela terceira dose, o que nos preocupa bastante. Indivíduos com
alguma doença de base e população acima de 60 anos sem a terceira dose podem
sofrer um impacto maior na manifestação clínica da Covid-19 e necessidade de
hospitalização, e podemos evitar isso", afirma a médica.
A médica orienta que a terceira dose é
importante, mas não deve ser encarada como um passaporte para a não adesão ao
distanciamento social e ao uso de máscara, pois a população pode ter a forma
assintomática da Covid-19 e transmitir, inclusive para as crianças. "A
pandemia não acabou e temos que evitar o surgimento de variantes."
O Governo de São Paulo anunciou nesta
segunda-feira (20) a prorrogação da obrigatoriedade do uso de máscara em
espaços coletivos até 31 de janeiro de 2022. O objetivo é aumentar a proteção
contra a Covid-19, do influenza, causador da gripe, e de outros vírus
respiratórios.
FOLHAPRESS
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