Detectada no começo desta semana, uma nova variante do Sars-Cov-2, que causa Covid, gerou uma grande onda de preocupação em vários países do mundo.
Nova mutação está preocupando vários países.
A nova cepa apresenta várias mutações ainda desconhecidas. | NIH/NIAID |
Ainda é cedo para entender seus efeitos sobre o
contágio, a gravidade da doença ou a eficácia da vacina, mas, como ela
apresenta muitas mutações, governos preferiram se antecipar enquanto
forças-tarefa de cientistas trabaham "24 horas por dia" para
entendê-la.
Quando ela foi detectada?
Na terça (23), cientistas começaram a chamar a
atenção para uma variante com um grande número de mutações, algumas descritas
como "terríveis", na proteína S (de spike, ou espícula), usada pelo
Sars-Cov-2 para entrar nas células humanas.
Na quarta (24), ela recebeu o "nome"
(classificação dentro das linhagens de coronavírus) de B.1.1.529.
Onde ela apareceu?
O sequenciamento foi feito na África do Sul, o que
não quer dizer que a variante tenha surgido lá. O país tem investido na
vigilância da pandemia e no sequenciamento genético do coronavírus, o que
aumenta suas chances de encontrar mutantes.
Por que os cientistas se preocuparam?
Um dos primeiros virologistas a alertar para a
variante, Tom Peacock, do Imperial College de Londres, ressaltou que as
mutações feitas na proteína S eram as "mais horríveis" já vistas, e
que era a primeira vez que ele via não uma, mas duas mutações "no local de
clivagem da furina".
O diretor do Ceri (centro para resposta a epidemias
e inovação da África do Sul), Túlio de Oliveira, afirmou na quinta (25) que a
variante surpreendeu os virologistas, porque "deu um grande salto na
evolução e tem muito mais mutações do que se esperava.
A variante apresenta 50 mutações no total e mais de
30 na proteína S, as mais preocupantes, porque é a partir dela que são
produzidas as vacinas.
Se sua estrutura é muito alterada em relação à
usada para a produção de vacinas contra Covid, há preocupação de que os
imunizantes percam eficácia contra a variante.
Isso quer dizer que as vacinas não funcionam contra essa variante?
Não há pesquisas suficientes ainda sobre como a
variante atua nem como reage às vacinas e anticorpos de quem desenvolveu
imunidade natural.
Quando será possível saber se a variante consegue driblar a vacina?
Nesta quinta (25), a OMS afirmou que pode levar
algumas semanas até que se entenda melhor o impacto da nova variante.
A variante é mais contagiosa?
Ainda não se sabe. O
diretor do Ceri (centro para resposta a epidemias e inovação da África do Sul),
Túlio de Oliveira, afirmou na quinta (25) que a B.1.1.529 "tem potencial
para se espalhar muito rapidamente", e que os cientistas estão trabalhando
"24 horas por dia" para entender os efeitos da nova variante em cinco
pontos: 1) transmissibilidade; 2) efeito das vacinas; 3) possibilidade de
reinfecção; 4) severidade da doença, e 5) diagnóstico.
Por que se suspeita que ela seja mais contagiosa?
Dados preliminares apontam que a variante aumentou
rapidamente na província de Gauteng, a mais populosa do país e que inclui
Pretória e Johannesburgo, e já pode estar presente nas outras oito províncias
do país.
Segundo o diretor do Ceri, a vigilância genômica
aponta que a B.1.1.529, em menos de duas semanas, já sobressai em relação às
infecções pelas outras variantes da Covid, logo após "uma devastadora onda
da delta".
Pesquisadores afirmam que cerca de 90% dos novos
casos em Gauteng poderiam estar associados à variante B.1.1.529.
O NICD (Instituto Nacional de Doenças
Transmissíveis da África do Sul), porém, não atribui o crescimento de caso
locais à nova variante.
No país, que vacinou completamente 24% de sua
população, cerca de 2.500 casos novos foram registrados na quinta, contra 100
no início do mês.
A variante terá o nome de uma letra grega?
Possivelmente. Isso
deve ser decidido em reunião na tarde desta sexta, pela OMS, que atribui letras
gregas a mutações que considera como variantes "de atenção" (que
devem ter seus efeitos acompanhados) e "de preocupação" (que são mais
transmissíveis ou causam mais danos, como a alfa e a delta, por exemplo).
A próxima letra a ser atribuída é a nu (pronuncia-se
niu), a 13ª do alfabeto grego.
Se ainda não há evidências sobre o impacto da variante, porque países
estão proibindo voos e impondo quarentenas?
Por precaução, já que os cientistas chamaram a
atenção para o potencial de risco, por causa do grande número de mutações na
proteína S.
Onde há casos sequenciados?
Até esta quinta (25), havia 77
casos confirmados na província de Gauteng, na África do Sul, 4 em Botswana e 1
em Hong Kong (diretamente relacionado a uma viagem da África do Sul).
FOLHAPRESS
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