A 13 dias do início da aplicação do Enem, o órgão do MEC (Ministério da Educação) que organiza o exame sofre uma debandada em protesto contra a atual gestão. Ao menos 29 servidores já pediram exoneração nesta segunda-feira (8).
Servidores dizem que, com essas baixas, a realização do Enem fica sob alto risco de falhas.
Os funcionários pediram desligamento de cargos
ligados à organização do Enem, marcado para 21 e 28 deste mês. No pedido de
dispensa, eles citam a "fragilidade técnica e administrativa da atual
gestão máxima do Inep [Instituto nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais]".
O presidente do Inep, Danilo Dupas Ribeiro, é
acusado pelos servidores de promover um desmonte no órgão, com decisões sem
critérios técnicos, e também de assédio moral, segundo denúncia da Assinep
(Associação de Servidores do Inep). Ele foi levado ao cargo pelo atual ministro
da Educação, o pastor Milton Ribeiro, de quem é próximo.
Desde o início do governo Jair Bolsonaro (sem
partido) há turbulências no Inep, que já passou por quatro mudanças de comando.
Mas o clima atual dentro do instituto é relatado como insuportável.
Servidores dizem que, com essas baixas, a
realização do Enem fica sob alto risco de falhas. Questionados, MEC e Inep não
responderam.
O pedido coletivo de dispensa tem sido assinado
eletronicamente pelos servidores desde o fim da manhã desta segunda. Do total
de 29 baixas registradas até as 14h20, ao menos 20 eram de coordenadores de
área.
O principal departamento atingido é a Diretoria de
Gestão e Planejamento -responsável, entre outras coisas, pela logística das
provas.
Os 29 pedidos de
demissão se somam a outros dois, da semana passada. O coordenador-geral de
Logística da Aplicação, Hélio Júnio Rocha Morais, e o coordenador-geral de
Exames para Certificação, Eduardo Carvalho Sousa, pediram exoneração.
As saídas de Morais e da coordenadora-geral do
Desenvolvimento da Aplicação, Andréia Santos Gonçalves (que pediu exoneração
nesta segunda) são as que causam maior preocupação. Ambos estão envolvidos no
Enem e em outras avaliações há muitos anos e são conhecidos pela experiência de
resolver problemas com essas tarefas.
A gestão de Dupas Ribeiro tem sido fortemente
criticada por integrantes do setor educacional e sobretudo pelos técnicos do
instituto. Os servidores denunciaram, em carta aberta, Dupas Ribeiro por
assédio moral e omissão. Segundo os funcionários, exames como o Enem estão sob
risco com a atual gestão.
Dupas Ribeiro teria ainda se negado integrar um
time que gerencia riscos das provas, as chamadas Equipes de Incidentes e
Resposta do Enade 2021 e do Enem 2021. Historicamente o presidente do Inep
capitaneia esses trabalhos.
A Assinep (Associação de Servidores do Inep)
promoveu na quinta (4) um ato público em frente à sede do instituto, em
Brasília. Cerca de 50 pessoas participaram da manifestação, que contou com
faixas com dizeres como "Enem e censos em risco" e "assédio moral
não".
"Para além de problemas estruturais que foram
negligenciados ao longo da atual gestão do Inep, os servidores denunciam o
assédio moral, o desmonte nas diretorias, a sobrecarga de trabalho e de funções
e a desconsideração dos aspectos técnicos para a tomada de decisão", diz a
carta.
Os servidores afirmam que não há autonomia para o
trabalho de diretores e documentos estariam sendo gerados como restritos no
sistema eletrônico sem que haja necessidade dessa classificação -informação
confirmada pela Folha. O presidente do instituto ainda se esquivaria de assumir
decisões e assinar atos.
A associação de servidores do
Inep tem mantido posição crítica a Dupas Ribeiro. A organização já divulgou
cartas em que critica esvaziamento do órgão e nomeações por critérios
ideológicos.
FOLHAPRESS
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