A secretária executiva do MME (Ministério de Minas e Energia), Marizete Pereira, afirmou nesta quarta-feira (14) que a bandeira tarifária de escassez hídrica, implementada em setembro, não está sendo suficiente para cobrir a elevação de custos dos combustíveis usados pelas térmicas do país.
Segundo ela, o governo vem analisando alternativas para cobrir o rombo,
mas não há expectativa de elevar novamente a taxa extra sobre a conta de luz,
que passou de R$ 9,49 para R$ 14,20 por cada 100 kWh (quilowatts-hora)
consumidos.
Pereira explicou que as projeções de gastos com térmicas até o fim do
ano foram frustradas pela elevação das cotações do gás natural e do óleo
diesel, combustíveis usados para poupar água nos reservatórios das
hidrelétricas brasileiras.
Assim, as distribuidoras de eletricidade começam a reclamar dos impactos
financeiros provocados pelo descasamento entre os valores que recebem do
consumidor e os montantes que têm que desembolsar para pagar pela energia.
"A bandeira de escassez hídrica não será suficiente para a
cobertura de todos os recursos que utilizamos para a segurança
energética", disse a secretária do MME, em entrevista virtual após o Enase
(Encontro Nacional do Setor Elétrico). "Os preços dos combustíveis estão
subindo muito."
Na última sexta (8), por exemplo, a Aneel (Agência Nacional de Energia
Elétrica) autorizou a elevação dos custos de geração de energia de três
térmicas no país para repasse do aumento dos preços dos combustíveis no Brasil
e no exterior.
Movida a gás natural, a térmica Araucária, no Paraná, passará a receber
R$ 2.553,20 por MWh (megawatt-hora) gerado, se tornando a usina mais cara do
país. As térmicas Potiguar 1 e 3, a óleo diesel, tiveram seus preços alterados
para R$ 1.379,89.
Antes, a usina William Arjona, no Mato Grosso do Sul, também já havia
tido autorização para aumentar o preço de venda da energia, também sob o
argumento de que precisava repassar elevações no preço do gás natural.
A secretária do MME não quis detalhar que medidas estão sendo
consideradas, alegando que o tema ainda está sendo estudado. Mas disse que não
há expectativa de reajuste no valor da bandeira de escassez hídrica, que vai
vigorar até abril.
"Vai aumentar a tarifa de energia? Isso não está ainda no cardápio
que a gente está analisando", afirmou. "A bandeira [de escassez
hídrica] se iniciou em setembro e vigora até abril de 2022. Em maio, a Aneel
vai definir o novo patamar de bandeira tarifária."
A elevação dos custos das usinas pressiona ainda mais a tarifa de
energia em meio a um cenário de inflação de dois dígitos e mercado de trabalho
ainda sofrendo os efeitos da pandemia. A fatura é dividida entre todos os
consumidores de eletricidade do país.
O gás natural bateu recorde histórico na semana passada, respondendo à
elevação da demanda na Europa e na China em meio a uma crise global de oferta
de energia, que também levou o carvão a patamares recordes.
O petróleo, por sua vez, vem operando acima dos US$ 80 por barril, nos
maiores patamares desde 2018. Há duas semanas, a Petrobras elevou o preço do
óleo diesel em 8,9%, mas ainda não conseguiu eliminar a defasagem em relação ao
mercado internacional.
Com a seca sobre os reservatórios das principais hidrelétricas
brasileiras, as térmicas respondem atualmente por cerca de um quarto da geração
de energia no país, o que justificou a adoção da bandeira de escassez hídrica.
O diretor-geral do ONS (Operador Nacional do Sistema Elétrico), Luiz
Carlos Ciocchi, repetiu nesta quarta que não vê possibilidade de racionamento
de energia este ano. Segundo ele, as medidas adotadas pelo governo e a chegada
das chuvas já vêm dando resultados no enfrentamento da crise energética.
Ele disse, porém, que a situação de 2022 ainda merece atenção e defende
a manutenção da operação das térmicas. "Não vemos risco de racionamento
nenhum em 2021, mas todas as medidas adotadas devem ser mantidas para temos
situação mais confortável em 2022."
Fonte: O
Tempo
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