Considerado o alimento mais completo para os bebês, o leite materno sacia a fome, contribui para a melhora nutricional, reduz a chance de obesidade, hipertensão e diabetes, diminui os riscos de infecções e alergias, além de provocar um efeito positivo na inteligência e no vínculo entre mãe e bebê.
O leite materno é repleto de anticorpos, fundamentais para
a saúde e a resistência do bebê a doenças, por isso é fundamental que a criança
o receba como única fonte de alimento até os seis
meses. Especialistas, no entanto, sugerem que ele deve continuar até
os dois anos ou mais, ou seja, não há limite de idade para a amamentação.
O Ministério da Saúde mantém este mês a campanha “Todos
pela amamentação. É proteção para a vida inteira”. O evento ocorre anualmente
em parceria com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
“Para muitas crianças, é uma importante e significativa
fonte de nutrientes, especialmente na falta de outros alimentos para serem
ofertados; tem ainda efeitos protetores contra infecções mais comuns, como a
diarreia e a infecção respiratória, além de minimizar o risco de alergias e
obesidade. É muito mais prático e tem menor custo, além de promover o contato
mais íntimo entre mãe e filho”.
Para a criança, o aleitamento materno promove menor prevalência
de doenças infecciosas como otite, pneumonia, gastroenterite. Os efeitos a
médio e longo prazo para a saúde da criança amamentada são a menor prevalência
de obesidade, dislipidemias, doenças alérgicas.
“É um alimento específico, com todos os nutrientes,
proteínas, fatores de proteção imunológica, gordura e micronutrientes.
Pesquisas mais recentes têm mostrado que existe quase uma unicidade entre o
leite da mãe e a criança, ou seja, trata-se de uma secreção quase que
personalizada individualmente em seus componentes. A mulher que amamenta tem
menor prevalência de câncer de mama e de ovário. Oferece uma série de estímulos
sensoriais pelo contato entre mãe e filho, com efeitos na formação de vínculos
afetivos entre os dois”, reforça o pediatra.
Entre tantos profissionais que atuam na promoção, proteção
e apoio ao aleitamento materno, os pediatras têm papel fundamental pela sua
atuação diretamente com a dupla mãe-criança.
A SBP, com a participação ativa do Departamento Científico
de Aleitamento Materno, tem buscado proporcionar aos pediatras informações
atualizadas para qualificar o atendimento às mães, seus filhos e suas famílias.
“Essa atuação ocorre em diversos momentos: na consulta pediátrica de pré-natal,
no atendimento em sala de parto, proporcionando o contato pele a pele na
primeira hora pós-parto – quando a mãe e a criança apresentam condições
satisfatórias para isso – depois, no acompanhamento no alojamento
conjunto e, após a alta da maternidade, nas consultas de puericultura nos
primeiros anos de vida”, afirma Issler.
Desafio
A amamentação é importante, porém pode ser um desafio. As
especialistas alertam que, apesar das dificuldades que podem ocorrer, é
preciso insistir o tempo que for necessário para que se crie esse vínculo entre
mãe e filho e a amamentação aconteça.
Um dos passos fundamentais para ter sucesso na amamentação
é estar bem informada e criar uma rede de apoio, aconselha a ginecologista e
obstetra Laura Penteado, diretora da Theia, clinica de saúde centrada na mulher
gestante. “Pesquise sobre os benefícios, as técnicas e dificuldades frequentes
da amamentação. Tire suas dúvidas durante o pré-natal, consulte profissionais
especializados e peça ajuda a amigos e familiares”.
Ela também sugere à gestante se preparar,
conhecendo seu próprio corpo. “Observar como é seu seio, sua aréola e
principalmente seu mamilo: protuso, plano ou invertido. Mamilos invertidos
podem dificultar a amamentação, então converse com sua médica ou consultora de
amamentação e saiba o que fazer para ganhar mais bico”.
Outra orientação é não hidratar os mamilos. “Cremes
hidratantes podem afinar a pele dos mamilos e facilitar fissuras”, afirma a
médica, que completa. “Tome banho de sol: O sol ajuda a tornar a pele do mamilo
um pouco mais espessa e previne fissuras. Tome dez minutos por dia, das
8h às 10h, para evitar temperaturas elevadas e não causar queimaduras”.
Escolha um sutiã adequado, acrescenta. “Uma boa sustentação mamária reduz o
inchaço das mamas, promove maior conforto e diminui a mastalgia (dor mamária)”.
Um mito comum é sobre o “leite fraco”. “Não existe leite
fraco. Até o leite de mulheres desnutridas contém o essencial para o
desenvolvimento do bebê. Mas, para melhor qualidade do leite, o recomendado é
que a mãe tenha uma alimentação saudável e equilibrada. Ela não deve ingerir
bebida alcoólica e deve conversar com sua médica sobre medicamentos de uso
contínuo, se podem passar para o leite e se devem ser substituídos”, afirma a
ginecologista.
Tipos de leite materno
O colostro é o primeiro leite, ele é rico em anticorpos e
é fundamental para o sistema imunológico do bebê, produzido em pequena
quantidade, mas altamente nutritivo.
Foto: Daniel Dresch/ Arte Agência Brasil
Leite de transição: da apojadura (descida do leite) e até
15 dias após o parto. Há um aumento da produção e maior teor de gordura. Leite
maduro: apresenta diferentes características ao longo da mamada e possui
vitaminas, minerais e proteínas essenciais.
Um mito antigo é que alguns alimentos ajudam a aumentar o
leite. A médica, no entanto, afirma que não. “Nenhum alimento irá aumentar
os hormônios relacionados com a produção e ejeção do leite. O que realmente
estimula a produção é a sucção do bebê: quanto maior a frequência maior a
produção hormonal”.
A mãe também deve fazer a hidratação materna adequada: o
leite materno é rico em água e a desidratação ou baixa ingestão de líquidos
pode interferir na quantidade de leite a ser produzida. O descanso materno e o
ambiente calmo também contribuem para a amamentação. “O estresse pode reduzir
os hormônios responsáveis pela produção e ejeção do leite. A rede de apoio é
importante, a mãe deve cercar-se de pessoas que incentivam a
amamentação”.
Rede de apoio
A consultora de amamentação da Theia, Amanda Sena, explica
o papel da rede de apoio. “A amamentação leva um tempo para se estabelecer
– para que a mulher consiga se envolver e se dedicar ao processo sem
preocupações desnecessárias, ter pessoas com ela realizando outras tarefas da
casa, auxiliando nos cuidados com o bebê e cuidando também da mulher, apoiando
e incentivando a amamentação e até mesmo afastando pessoas com comentários
indesejados. Tudo isso ajudará a blindar a amamentação para que ela
consiga alcançar seus objetivos”.
A recomendação de entidades e especialistas é o
aleitamento materno exclusivo por seis meses e complementado até os dois anos
ou mais. Mas, na opinião da consultora, até um ano de idade o leite humano é o
principal alimento do bebê, a alimentação sólida é que é complementar nesse
período.
“Tanto que é comum perceber alimentos inteiros nas fezes
do bebê, ou seja, seu organismo ainda não consegue digerir aquele alimento
para usar os nutrientes. Após esse período, embora a criança já possa
estar aceitando bem a comida sólida, o leite humano ainda é importante fonte de
alimento, fornecendo nutrientes e energias de fácil absorção”, observa a
consultora.
Ela cita os anticorpos que continuam passando da mãe para
o filho, ajudando na prevenção de infecções. “O corpo da mulher continua
produzindo um leite nutritivo durante toda a amamentação, ele nunca será só
água. Assim, a amamentação prolongada vai ser uma excelente fonte de energia,
nutrientes e proteção para a criança, e também uma continuidade da relação
mãe-bebê. Não há motivos para indicar o desmame quando mãe e criança estão bem
e felizes”, defende Amanda.
Bebês de alta complexidade
A presença do leite materno na recuperação da Luísa, de 2
anos e 4 meses é fundamental para a sua recuperação. Ela foi diagnosticada
com leucemia linfoide aguda (LLA) quando tinha 1 ano e 4 meses, e
começou o tratamento. Recentemente precisou passar por uma ECMO (técnica de
suporte de vida extracorporal) onde ficou 12 dias no aparelho, 11 na unidade de
terapia intensiva (UTI) e, mesmo internada, recebia o leite materno.
Assim que foi extubada, voltou a amamentar.
“O leite foi extraído da mãe e passado por meio
de sonda. A gente viu que realmente ajudou bastante na recuperação
dela e na aceitação das próprias medicações que poderiam ser feitas por sonda
para que ajudassem no tratamento. A gente tinha tentado outras dietas e dar somente
medicação pela sonda, sem sucesso. A partir do momento em que colocamos o
leite da mãe bem devagar, junto com as medicações e depois com um pouco da
outra dieta, vimos que tudo começou a dar certo, que ela aceitou as medicações
e depois a outra dieta, de forma plena. Mesmo tendo um diagnóstico tão grave, a
presença do leite materno na recuperação da Luísa foi fundamental”, relatou a
cardiologista pediátrica Rafaella Gato, diretora do programa de ECMO do
Departamento de Cardiologia do Sabará Hospital Infantil.
A mãe de Luísa conta que insiste no aleitamento
materno porque sabe dos benefícios. “Sei que mesmo depois de anos amamentando,
o leite materno não perde suas propriedades. Continuo também porque, por
meio desses momentos de amamentação, construí uma conexão com a minha
filha muito grande e ela adora esse momento só nosso. Ele foi um grande aliado
no tratamento, durante e depois de procedimentos doloridos é “mamando” que
minha filha encontra conforto”, disse a enfermeira de formação Nádia Cristina
Oliveira Lima.
Foto: © Fernando Frazão/Agência Brasil / Fonte: Agência
Brasil
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