Uma veterinária de Arujá, região metropolitana de São Paulo, afirmou em rede social ter recebido doses de vacinas contra a Covid-19 de diferentes fabricantes. De acordo com publicações no perfil de Jussara Barreira Sonner, ela recebeu as duas doses da Coronavac em fevereiro e março e uma dose da vacina da Janssen na quarta-feira (30). A vacinação, segundo ela, aconteceu em Guarulhos.
Mesmo tendo tomado mais doses do que o necessário, ela diz que não confia nas vacinas.
Depois de tomar as duas doses de Coronavac, ela tomou uma da Janssen | Reprodução
Misturas não testadas de vacinas diferentes, como é o caso da combinação
de Coronavac com Janssen, podem trazer algum risco para quem recebe os
imunizantes, uma vez que cada substância usa um mecanismo próprio para gerar
resposta imunológica. A atitude também torna a campanha de vacinação mais lenta
e ineficiente, já que tira doses de quem ainda não foi vacinado e está na fila.
Mesmo tendo tomado mais doses do que o necessário, Sonner diz em suas
redes sociais que não confia nas vacinas.
"Sei que nenhuma vacina é totalmente segura, pois não houve tempo
para a realização dos testes! Mas como no início do ano tomei a vachina, estava
bastt incomodada com isso! Esperei o tempo necessário –3 meses– e hoje consegui
tomar a da Janssen! Agora me sinto mais protegida, é dose única e estou
liberada para viajar", diz a veterinária em publicação excluída em seguida
e não mais disponível (grafia do texto original).
A reportagem não conseguiu contato com Sonner até a publicação deste
texto. Em sua postagem, a veterinária faz afirmações falsas.
Não existe nenhuma recomendação oficial das autoridades de saúde sobre
prazo necessário para receber novas doses de vacinas anti-Covid após uma
vacinação completa.
Todas as vacinas contra a Covid-19 registradas para uso no Brasil são
seguras e tiveram os dados de seus estudos revisados pela Anvisa (Agência
Nacional de Vigilância Sanitária). Apesar do desenvolvimento extremamente
rápido, nenhum desses imunizantes pulou etapas de testes pré-clínicos ou
clínicos. Eles tiveram seus estudos acelerados para estarem disponíveis o
quanto antes em meio à crise sanitária enfrentada pelo planeta.
Nenhuma vacina contra qualquer doença oferece 100% de proteção. No caso
da Covid-19, doença altamente transmissível, pessoas já vacinadas também têm
risco de serem infectadas pelo Sars-CoV-2 se a circulação do vírus estiver
muito elevada. Os imunizados, porém, têm muito menos chances de desenvolver a
doença grave ou morrer por complicações dela.
Cuidados básicos de prevenção, como uso de máscara, distanciamento
social e higiene das mãos devem permanecer até que a transmissão do coronavírus
seja controlada –e a principal ferramenta para isso é a vacinação em larga
escala, segundo médicos e cientistas.
Por email, a prefeitura de Guarulhos afirmou que o prefeito Guti (PSD)
determinou o envio do caso para investigação pelo Ministério Público do Estado
de São Paulo.
"Não se pode fechar os olhos para abusos e fraudes que visem burlar
esse sistema, ainda mais baseados em motivações desprovidas de amparo
científico que possam prejudicar grupos prioritários para a vacinação, como
neste caso", diz a prefeitura.
A Secretaria Municipal de Saúde de Guarulhos também abriu um
procedimento interno para apurar que tipo de falha pode ter ocorrido no caso,
segundo a prefeitura.
No Rio, o Ministério Público do Rio de Janeiro investiga pelo menos 16
casos semelhantes. De acordo com a prefeitura, pelo menos 16 pessoas teriam
tomado mais de uma vez a primeira dose do imunizante. O MPRJ afirmou que a
atitude pode ser considerada fraude e dano moral coletivo.
FOLHAPRESS
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