A variante Delta foi detectada pela primeira vez na Índia, mas já está presente em 85 países e causou a primeira morte no Brasil no último fim de semana. Uma grávida, de 42 anos, não resistiu à doença e morreu.
Trabalho foi publicado na revista científica Cell.
Reprodução/Freepik
Uma pesquisa que teve participação de cientistas da Fundação Oswaldo
Cruz (Fiocruz) sugere que a variante Delta do novo coronavírus SARS-CoV-2 tem
potencial maior de causar reinfecções e novos quadros de covid-19 em pessoas
que haviam se curado da doença.
O trabalho foi publicado na revista científica Cell e detalhes foram
divulgados ontem (29) pela Agência Fiocruz de Notícias. As conclusões da
pesquisa mostram que pessoas previamente infectadas por outras cepas do novo
coronavírus têm um soro com anticorpos menos potentes contra a variante Delta,
que é uma das quatro variantes de preocupação já identificadas pela Organização
Mundial da Saúde (OMS).
A Fiocruz destaca que o aumento do risco é marcante no caso das pessoas
que tiveram uma infecção anterior da variante Gama, que foi identificada pela
primeira vez em Manaus e se tornou a cepa dominante no Brasil. Nesses casos, a
capacidade de os anticorpos neutralizarem a variante Delta é 11 vezes menor. O
mesmo ocorre com a variante Beta, que foi descoberta na África do Sul.
A divergência antigênica da variante Delta é menor quando comparada à
variante Alfa, que foi a primeira de preocupação a entrar no radar da OMS, ao
surgir no Reino Unido. De acordo com a Fiocruz, cientistas avaliam que "o
achado indica que vacinas baseadas na variante Alfa podem proteger amplamente
contra as variantes atuais, o que pode ser uma informação relevante para a
formulação de novos imunizantes".
Apesar de sugerir um escape maior do vírus ao ataque dos anticorpos
produzidos em infecções anteriores, a pesquisa revela que as vacinas de RNA
mensageiro e vetor viral, como Pfizer e AstraZeneca, continuam eficazes contra
a infecção pela cepa Delta. Essa eficácia, porém, é reduzida com a mutação
sofrida pelo vírus na proteína S, que forma a estrutura viral usada para
iniciar a invasão da célula do hospedeiro.
A pesquisa constatou que a capacidade de neutralizar a variante Delta é
2,5 vezes menor no caso da vacina da Pfizer, e 4,3 vezes menor para a
AstraZeneca. Segundo o artigo, esses índices são semelhantes aos que já haviam
sido registrados nas variantes Alfa e Gama. Desse modo, a variante Beta
continua a ser a única em que há evidência de fuga generalizada da
neutralização.
“Parece provável, a partir desses resultados, que as vacinas atuais de
RNA e vetor viral fornecerão proteção contra a linhagem B.1.617 [que tem três
sublinhagens, incluindo a variante Delta], embora um aumento nas infecções
possa ocorrer como resultado da capacidade de neutralização reduzida dos
soros”, afirma um trecho do artigo traduzido pela Fiocruz.
O estudo foi liderado pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, e
envolveu 59 pesquisadores do Reino Unido, da China, do Brasil, dos Estados
Unidos, da África do Sul e Tailândia. No Brasil, participaram o Laboratório de
Vírus Respiratórios e do Sarampo do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), o
Laboratório de Ecologia de Doenças Transmissíveis na Amazônia do Instituto
Leônidas e Maria Deane (Fiocruz Amazônia) e a Fundação de Vigilância em Saúde
do Amazonas (FVS/AM).
Nas análises, os pesquisadores investigaram a ação de 113 soros, obtidos
a partir de pacientes infectados e imunizados, englobando seis cepas do novo
coronavírus: uma linhagem próxima do vírus inicialmente detectado em Wuhan, na
China, no começo da pandemia; as variantes de preocupação Alfa, Beta, Gama e
Delta; e a variante de interesse kapa, que é a mesma da linhagem variante
delta.
Agência Brasil.
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