A partir do próximo mês, começa a época de queimadas no Ceará, que devem ser intensificadas entre agosto e dezembro. A aproximação do tempo em que o sertão costuma arder traz preocupação para ambientalistas e gestores. O sinal de alerta está ligado pois, entre 1º de janeiro e 17 de junho deste ano, há um aumento de 154% em comparação com igual período de 2020.
Em junho, a tendência de alta também segue. Até quinta-feira (17), foram
observados 20 focos de queimadas no sertão cearense, um aumento de
65% em comparação com igual período de 2020, que registrou 12 focos em mata
nativa.
No ano de 2020, o Inpe registrou, no Ceará, 3.979 focos de queimadas,
inferior ao registro de 2019 (4.304) e mais do que em 2018 (3.034) e em 2017
(3.486). Já em 2016, os dados apontam uma quantidade maior: 4.316 incêndios em vegetação.
O coordenador da Unidade de Estudos Básicos da área de Meio Ambiente da
Funceme, Manuel Freitas, confirma que a maior incidência de queimadas se dá no
segundo semestre e apontou alguns fatores de condição natural:
Mais de 80% da área do Ceará é recoberta por vegetação de Caatinga, que
no período de escassez de chuva fica com os galhos e folhas secas, acumulando
umidade apenas na raiz; é um período de alta temperatura e de ventos fortes
MANUEL BARROS
Coordenador da Funceme
Aliado às condições ambientais típicas do sertão cearense, há o fator
comportamental do sertanejo que “ainda insiste em práticas antigas de queimar a
vegetação para limpar o terreno”, complementa Freitas.
AÇÃO HUMANA
Em 2019, a Funceme fez um estudo que apontou duas áreas mais suscetíveis
à ocorrência de queimadas: a região do Médio Jaguaribe e a do Sertão dos
Inhamuns. “O nosso mapeamento não quer dizer que houve mais incêndios nessas
duas regiões, mas que seriam mais vulneráveis”.
Para o major Mardens Vasconcelos, comandante do Corpo de Bombeiros, em
Sobral, “a observação prática indica que em anos mais chuvosos se verificam
mais incêndios no segundo semestre porque é maior o acúmulo de massa vegetativa
no sertão”.
A variação anual e mensal da quantidade de focos de queimadas, segundo
revela monitoramento do Inpe, “decorre de vários fatores relacionados
com a atividade agropecuária e a ação criminosa do homem”, segundo
avalia o agrônomo Vandeilton Francelino.
“Verificamos que em alguns anos de boas chuvas ocorrem mais queimadas do
quem em períodos de estiagem”, observa.
IMPACTO AMBIENTAL
Para o Corpo de Bombeiros do Ceará, mais de 90% são incêndios
criminosos. “São fruto da ação humana”, pontua o comandante do 4º Grupamento do
Corpo de Bombeiros, tenente-coronel Nijair Araújo.
“A legislação proíbe essa prática que traz impactos para o meio
ambiente, empobrece o solo, mas mesmo assim persiste”, diz o ambientalista
André Wirtzbiki. “A questão passa por conscientização de todos nós”.
O agrônomo e ambientalista Paulo Ferreira indicou, entretanto, que o
modelo de limpeza para o futuro preparo de solo se perpetua para reduzir
gastos com a mão de obra no campo, mas que “o agricultor de base familiar
em sua maioria abandonou a prática da queimada na roça”.
Ferreira entende que “as queimadas são promovidas para abertura de área
para plantio de capim, de pastagem para o gado, por criadores de maior porte”.
Já em áreas isoladas do sertão, segundo análise dos bombeiros militares
e de ambientalistas, “o fogo seria ateado por moradores por querer ver o mato
queimar, por maldade”.
INCIDÊNCIA DOS CASOS
No decorrer do segundo semestre de 2020, houve registro de vários focos
de incêndio em vegetação, tanto no entorno de áreas urbanas quanto em área
rural, nas regiões Norte, Centro-Sul e no Cariri.
Em dezembro de 2019, a vegetação seca favoreceu que o fogo destruísse
cerca de 2,6 mil hectares de vegetação, no Cariri, entre os municípios de Barbalha
e Jardim.
O fogo só foi controlado em janeiro de 2020 e deixou prejuízos
ambientais, com danos severos à fauna e à flora. O incêndio reduziu a pó o
sustento de dezenas de famílias extrativistas da cultura do pequi. Cerca de 80%
da safra foram consumidas pelo incêndio.
DECRETO FEDERAL
Em 2020, mediante o crescimento dos incêndios em matas nativas, no
Brasil, e no Ceará, o Governo Federal chegou a editar em julho daquele ano, um
decreto proibindo a prática de queimadas em todo o território nacional.
No mesmo período, pela primeira vez, o Governo do Ceará decretou
estado de emergência ambiental devido ao maior risco de incêndios
florestais e queimadas, no período compreendido entre os meses de julho de 2020
e janeiro de 2021.
De um total de 3.979 focos de queimadas em vegetação no sertão cearense
em 2020, apenas 182 foram registrados entre janeiro e julho. A ampla maioria
(3.797) ocorreu entre agosto e dezembro.
No período de julho a dezembro de 2020, na região Norte do Ceará, o
Corpo de Bombeiros registrou 927 focos de incêndio. A maior incidência ocorreu
em agosto daquele ano, 252, seguido de setembro, com 179.
Foto: Honório Barbosa
Fonte: Diário do Nordeste
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