A médica oncologista Nise Yamaguchi decidiu processar o presidente da CPI da Covid, Omar Aziz (PSD-AM), e o senador Otto Alencar (PSD-BA), também membro da comissão, por danos morais. Ela pede ao menos R$ 320 mil em indenização.
Ela considera que os senadores a humilharam e foram misóginos
(preconceito contra a mulher) durante seu depoimento na CPI no Senado, em 1º de
junho.
Na oitiva, a médica passou por uma “prova” de conhecimentos científicos
ao ser interrogada por Otto, que também é médico. Insatisfeito com as respostas,
o senador interrompeu Nise diversas vezes e chegou a classificá-la como “médica
audiovisual”, em uma tentativa de expor suposto desconhecimento dela sobre
temas ligados à pandemia.
“Eu tenho que colocar meu repúdio à situação que estou colocada ali, em
um gabinete de exceção. Estou me sentindo aqui bastante agredida neste sentido
porque eu estou como colaboradora eventual de várias ações de uma relação
direta com a situação clinica dos nossos pacientes e eu gostaria de ter,
portanto, senador, a necessária avaliação dessa posição”, declarou Nise, na
ocasião.
Para Nise, Omar, como presidente da CPI, foi cúmplice por não ter
impedido ou minimizado “a agressiva sanha de seu colega”. Na ação, seus
advogados dizem que “a humilhação reverberou em milhões de visualizações no
YouTube por todo o Brasil”.
“Como se depreende dos documentos ora juntados e será demonstrado na
instrução processual, os requeridos [os senadores] agiram intencionalmente com
morbo e com deliberada crueldade no escopo de destruir a imagem da requerente
[Nise] perante toda a sociedade brasileira, que atônita, viu um ser humano ter
destroçada a sua dignidade enquanto médica, cientista e mulher”, diz trecho da
ação.
Segundo a defesa de Nise, Omar e Otto abusaram de seus direitos à
imunidade parlamentar e promoveram “um verdadeiro massacre moral” contra a
médica. Os advogados alegam que a conduta dos senadores foi “reconhecida” pela
imprensa e gerou nota de repúdio do CFM (Conselho Federal de Medicina).
Nise pede indenização de não menos que R$ 160 mil de cada um dos dois
senadores, o que dá um total de, no mínimo, R$ 320 mil. No entanto, no
documento, os advogados dela citam pedir R$ 360 mil considerando juros e
correção monetária a partir da sentença condenatória, além do pagamento de
custos com despesas processuais e honorários advocatícios.
Os advogados informam ainda que a médica tem interesse na realização de
uma audiência de conciliação ou mediação.
“A partir daquele momento, passei a ser extremamente vilipendiada nas
redes sociais com agressões em tons ameaçadores, o que é muito preocupante para
um estado democrático”, acrescentou.
“Não faço parte de nenhum partido político. Atuei nos últimos cinco
governos como colaboradora eventual, pelo bem da saúde do Brasil e do mundo,
sendo que entre 2007 e 2011, participei oficialmente do gabinete do Ministério
da Saúde. Meus principais trabalhos foram em ações de controle do tabaco,
tratamento personalizado e de precisão do câncer, dentre outros afazeres de
compliance e governança”, defendeu.
O senador Otto Alencar enviou nota em que afirma não ter sido notificado
e que, assim que o for, seus advogados “responderão de acordo com a lei”. No
entanto, disse que a Constituição “garante a senadores e deputados, o direito a
manifestações, opiniões e votos no exercício de suas funções”.
“O senador Otto Alencar reforça que durante os seus questionamentos se
referiu a médica Nise Yamaguchi, com respeito, sempre a tratando como doutora,
senhora e Vossa Senhoria”, afirma a nota.
“Quanto à pergunta sobre vírus e protozoário, a médica não soube
responder a indagação. O questionamento foi feito com o objetivo de indicar,
como atestam cientistas e especialistas na área de saúde, que nenhuma medicação
evita a contaminação pelo coronavírus e que o tratamento precoce, defendido por
Nise Yamaguchi, não funciona e não é recomendado”, completou.
Nise Yamaguchi passou para a condição formal de investigada pela CPI da
Covid, segundo o relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL), nesta sexta
(18). A lista inclui outros 13 nomes, como o atual ministro da Saúde, Marcelo
Queiroga, e os ex-ministros Eduardo Pazuello (Saúde) e Ernesto Araújo (Relações
Exteriores).
Ela é apontada por parte dos membros da CPI como integrante do chamado
“gabinete paralelo”, que teria assessorado informalmente o presidente Jair
Bolsonaro (sem partido) durante a pandemia da covid-19 e apoiado o uso da
cloroquina contra a doença, para a qual não tem eficácia científica comprovada.
Foto: Leopoldo Silva/Agência Senado
Fonte: Folhape
0 Comentários