Na reunião da CPI da Covid realizada ontem (11/05) o diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, criticou algumas aglomerações provocadas presidente Jair Bolsonaro, dentre elas o passeio de motocicleta que o chefe do executivo fez no último domingo (09/05), acompanhado de vários outros motociclistas. Ele classificou o ato de “sanitariamente inadequado”, por causa da aglomeração.
O diretor-presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, na CPI da Pandemia (Foto: Edilson Rodrigues)
Torres deu sua opinião ao ser perguntado pela senadora
Eliziane Gama (Cidadania-MA). A parlamentar quis saber, também, se o depoente,
que é motociclista, participou do passeio. “Eu não estive nesse
evento, sou contra aglomeração. Nas mídias sociais dos grupos de motociclistas,
apareceram vários motogrupos, com todas essas questões, mas eu, realmente, não
compareci. Aliás, além de ser sanitariamente inadequado, não é preconizado.”
Perguntado
pela senadora se era contra aglomerações, o chefe da Anvisa se posicionou
contra vários tipos de comportamento do presidente durante a pandemia. “Não,
não concordo. Qualquer coisa que fale de aglomeração, não usar álcool, não usar
máscara e negar a vacina são coisas sem nenhum sentido do ponto de vista
sanitário”, enfatizou.
Apesar
do discurso, o chefe da Anvisa reconheceu, durante o depoimento, que cometeu um
erro ao participar, em 15 de março de 2020, ao lado de Bolsonaro, de uma
manifestação em frente ao Palácio do Planalto. À época, ele foi fotografado sem
máscara, enquanto o chefe do governo cumprimentava apoiadores em uma
aglomeração. Questionado sobre o assunto pelo relator da CPI, Renan Calheiros
(MDB-AL), ele disse que, se tivesse pensado por cinco minutos, não teria ido ao
local naquele momento.
O
depoente afirmou, ainda, que não foi ao Planalto para a manifestação, mas para
encontrar o presidente. Quando chegou, conforme disse, o ato já estava
acontecendo. “Tenho plena ciência de que, se pensasse mais cinco
minutos, não teria feito. O assunto (do encontro com o presidente) não
necessitava de urgência para ser tratado. Foi um momento em que não refleti na
imagem negativa que isso passaria, e, depois disso, nunca mais houve esse tipo
de comportamento meu.”
O
presidente da Anvisa também justificou o motivo de não ter usado máscara no
evento. “Naquela época, o que preconizava o Ministério da Saúde é
que máscaras deveriam ser usadas por profissionais de saúde, cuidadores de
idosos, mães amamentando e pessoas diagnosticadas com covid. Não havia consenso
do uso por parte da população”, argumentou. Segundo ele, “a
própria OMS (Organização Mundial da Saúde), um pouco antes, colocou dúvida
quanto à eficácia (da máscara)”. “Isso foi um processo que
evoluiu e, hoje, ninguém mais tem dúvida sobre a importância do uso.”
O
médico acrescentou que, apesar da amizade que tem com Bolsonaro, pensa
diferente do presidente no que diz respeito ao distanciamento social e às
determinações da ciência. “As manifestações que faço tem sido todas
no sentido do que a ciência determina”, destacou. “Na última
live em que participei com o presidente, permaneci de máscara, o que foi
comentado pela imprensa até de forma elogiosa. São formas diferentes (de
pensar) de pessoas diferentes”, afirmou.
Em
outro momento do depoimento, Torres relatou que “se sentiu ofendido” com
críticas feitas pelo líder do governo na Câmara, Ricardo Barros (PP-PR), ao
trabalho da agência. Em fevereiro, o parlamentar disse que iria “enquadrar
a Anvisa” por considerar exageradas as exigências para a aprovação
de vacinas contra a covid-19. Na ocasião, afirmou que os diretores da
agência “não estavam nem aí para a pandemia”.
“Recebi
muito mal (a declaração). Não só eu, os servidores da Casa se sentiram
profundamente ofendidos por essa declaração. Primeiro, porque ela não é
verdadeira. Pessoas que trabalham na Anvisa abriram mão de tudo o que um ser
humano pode abrir mão. Já abriram mão de família, tempo livre, final de semana,
noite de sono; e ouvir de uma autoridade do cenário político nacional que ‘não
estamos nem aí’ foi muito ruim. Eu não sou capaz de qualificar o quanto foi
ruim”,
concluiu.
Com
informações portal Correio Braziliense
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