Um homem cego teve sua visão parcialmente restaurada usando terapia optogenética e óculos especiais – o primeiro caso de sucesso deste tipo de terapia em humanos.
A retinite pigmentosa muda a forma como a retina responde à luz. Pessoas
com essa condição perdem a visão lentamente ao longo do tempo, de acordo com a
Academia Americana de Oftalmologia.
Os cientistas usaram uma forma de terapia genética para reprogramar
células na retina, injetando um vetor viral e tornando-o fotossensível. “Na
terapia optogenética…criamos uma camada fotossensível artificial sobre a retina
cega”, disse o pesquisador Botond Roska, professor na faculdade de ciência da
Universidade de Basel, em uma coletiva de imprensa.
Antes do tratamento, o paciente não conseguia ver nada ainda que usasse
os óculos. Mas meses após a injeção, o homem podia ver as linhas brancas de
faixas de pedestres, detectar objetos como pratos, canecas e celulares, e
identificar a mobília em uma sala ou uma porta em um corredor com eles.
“Inicialmente o paciente não conseguia ver nada com o sistema, e
obviamente isso deve ter sido frustrante. E então, espontaneamente, ele começou
a ficar muito animado, relatando que conseguia ver linhas brancas nas ruas”,
afirmou José-Alain Sahel, professor de oftalmologia na Escola de Medicina na
Universidade de Pittsburgh e no Instituto de Visão em Paris, na coletiva.
Cientistas também identificaram que o comportamento visual é compatível
com a atividade cerebral registrada. Ele foi o primeiro paciente no primeiro
coorte do estudo que conseguiu ser treinado antes da eclosão da pandemia da
Covid-19, que interrompeu o estudo temporariamente.
“Um marco significativo”
“A retinite pigmentosa é uma das causas mais comuns de cegueira em
pessoas jovens e resulta da perda de células fotorreceptoras na retina, no
fundo dos olhos”, disse o professor de oftalmologia na Universidade de Oxford,
Robert MacLaren, ao Centro de Mídia Científica em Londres.
“Nesse teste os cientistas usaram a terapia genética para tentar
reprogramar outras células na retina para torná-las sensíveis à luz e então
restaurar algum grau de visão. Esse é um marco significativo e indubitavelmente
ajustes futuros de refinamento tornarão a terapia optogenética uma opção para
muitos pacientes no futuro”, MacLaren, que não está ligado ao estudo,
acrescentou.
James Bainbridge, professor de estudos da retina na Universidade de
Londres, disse que a tecnologia “pode ajudar pessoas que possuem a visão
severamente prejudicada”.
“É um estudo de alta qualidade. É conduzido de modo cuidadoso e
controlado. Os resultados são baseados em testes laboratoriais em apenas um
indivíduo. Trabalhos futuros são necessários para descobrir se a tecnologia
poderá prover visão útil”, disse Bainbridge, não envolvido no estudo, ao Centro
de Mídia Científica.
Foto: Sahel, J.A. Boulanger-Scemma, E. Pagot, C. et AL./Nature Medicine
Fonte: CNN Brasil
0 Comentários