A cardiologista Ludhmila Hajjar, que rejeitou convite para assumir o Ministério da Saúde, afirmou ter recebido ameaças de morte após ter se reunido neste domingo (14) com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), em Brasília, para discutir a possibilidade de ela assumir a pasta no lugar no general Eduardo Pazuello.
As declarações foram dadas em entrevista à CNN Brasil, na tarde desta segunda (15).
Arquivo Pessoal
As declarações foram dadas em entrevista à
CNN Brasil, na tarde desta segunda (15). A médica afirmou que seu número de
celular foi divulgado em grupos de WhatsApp, o que resultou em uma onda de
ataques que a deixou assustada.
"Recebi ataques, ameaças de morte que
duraram a noite, tentativas de invasão em hotel que eu estava, fui agredida,
[enviaram] áudio e vídeo falsos com perfis, mas estou firme aqui e vou voltar
para São Paulo para continuar minha missão, que é ser médica."
A cardiologista contou ter deixado o hotel
após as ameaças, mas garantiu que isso não influenciou sua decisão em recusar o
ministério. Ela ainda disse que não teve medo, pois a "causa é muito
maior".
"Onde estou? Aqui, falando para o
Brasil. Onde estarei à tarde? Atendendo meus pacientes. Onde estarei amanhã? À
disposição do Brasil. Isso [ameaças] não vai mudar o que eu penso, o que eu
falo e o que eu acho."Hajjar também criticou na entrevista a polarização
pela qual passa o país e como isso tem prejudicado a todos.
"Num momento de tristeza do Brasil, de
dificuldade que nós estamos vivendo, uma pessoa da sociedade civil, sem nenhuma
ligação política, sem nenhum outro interesse está aqui ao bem do país e sofre
esse tipo de agressão."
"Então isso me assustou porque mostra
que infelizmente boa parte dos maus resultados que o Brasil tem hoje, eles são
consequência desse tipo de atitude, que vai continuar acontecendo",
lamentou Hajjar.
A médica ainda disse que a recusa do convite para
assumir a Saúde se deu por motivos técnicos. Hajjar é defensora de medidas de
isolamento social e da vacinação em massa para o combate à pandemia e combate o
uso de medicamentos sem comprovação de eficácia no combate à Covid-19. .
"Fiquei muito honrada pelo convite do
presidente [Jair] Bolsonaro, tivemos dois dias de conversas, mas infelizmente
acho que esse não é o momento para que eu assuma a pasta do Ministério da Saúde
por alguns motivos, principalmente por motivos técnicos."
"Sou médica, cientista, especialista em
cardiologia e terapia intensiva, tenho todas as minhas expectativas em relação
à pandemia. O que eu vi, o que eu escrevi, o que eu aprendi está acima de
qualquer ideologia e acima de qualquer expectativa que não seja pautada em
ciência", completou.
Hajjar ainda disse acreditar que Bolsonaro se
preocupa com a evolução da pandemia no país e que encontrará para o ministério
alguém que "esteja alinhado com esse discurso, com aquilo que o governo
pretende, e que vai dar certo para salvar o Brasil".
"O presidente que está preocupado com o
Brasil, entende a necessidade de mudança, de salvar as pessoas, sem dúvida. Mas
é claro que ele tem os posicionamentos dele, a visão dele, e isso tem que ser
respeitado, é o líder maior da nação."
A médica ainda relatou que Bolsonaro recebeu
diversas informações equivocadas sobre ela, a fim de que "nosso encontro
não fosse tão agradável e fizeram de tudo para que não houvesse uma
convergência entre nós."
Sobre as críticas que recebeu ao aceitar
conversar com o presidente, Hajjar garante que continuará trabalhando da mesma
forma, sem influência de partidarismo ou ideologia.
"Vou continuar atendendo pessoas de
esquerda e de direita. Isso, talvez, para algumas pessoas muito radicais, e que
estão defendendo o discurso da polarização, é algo que me diminui. Pelo
contrário. Se eu fizesse isso, não seria médica, não estaria exercendo a
profissão, negaria o juramento que fiz no dia que me formei na Universidade de
Brasília."
FOLHAPRESS
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