Legenda: Desemboque do
Cinturão das Águas,liberando água do São Francisco para o Riacho
Seco Foto: Antonio Rodrigues.
Afluentes
como o Riacho Seco, o rio Batateira e o Salgado estão cheios em época em que,
geralmente, estão secos ou com volume baixo. Agricultores e pescadores estão
otimistas
A liberação das águas do Rio São Francisco pelo chamado “eixo emergencial” do Cinturão das Águas do Ceará (CAC), no último dia 1º, mudou o cenário de riachos e rios que cortam a região do Cariri. Além de aumentar seus volumes, encheu de esperança os olhos de agricultores e pescadores que vivem em suas margens. Os recursos hídricos, almejados há muitos anos, já percorreram 264 quilômetros, desde a barragem de Jati, desembocando no rio Jaguaribe em direção ao Açude Castanhão, para garantir a segurança hídrica da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF).
Há um ano, também na
primeira semana do mês de março, a equipe do Diário do Nordeste visitou o
Riacho Seco e a Cachoeira de Missão Velha, em Missão Velha, ainda na
expectativa pelas águas do Velho Chico. O primeiro, como o nome mesmo diz,
estava completamente seco. Já a Cachoeira, ainda formava suas belas quedas
d’água pelas precipitações sobre Crato, Juazeiro do Norte e Barbalha e que
seguem até lá pelo Rio Batateira, mas sem o mesmo volume.
“Nunca imaginei que o
São Francisco estaria correndo no quintal de minha casa”, confessa o agricultor
Roberto Silva, que mora ao lado do Riacho Seco. Natural de Aurora, há três anos
se mudou para a zona rural de Missão Velha e trabalha cultivando banana. Com o
rio cheio, nutre esperança. “Vai trazer muito benefício para a população que
tem seus terrenos perto do rio. Quem sabe, pode cultivar mais verdura aqui, no
Coité e Canabrava”, observa, citando as comunidades vizinhas. “Ainda tem o
benefício de trazer água para quem não tem. Ajudar quem necessita”, projeta.
Legenda: A Cachoeira de Missão Velha, em dois momentos: seca, em 2020, e com a água que recebeu do Rio São Francisco Foto: Antonio Rodrigues. |
O agricultor Expedito João Xavier já é mais contido. “A água aqui vai descer para o Castanhão, para abastecer Fortaleza”, comenta. Mesmo assim, a passagem do São Francisco por suas terras é benéfica. “Tem época que aqui a seca é grande. Então, acredito que vai descer muito peixe. Falam que são mais de três metros de água de lá para cá. Com muita gente precisando, isso chegou e a gente fica de braços abertos”, completa.
Ampliação
De acordo com o
Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), o volume liberado para o CAC é de
10m³/s. No entanto, em campo, será avaliado a capacidade de ampliar para 12
m³/s. A decisão de liberar a água neste mês de março foi motivada, justamente,
para minimizar a perda de água durante o percurso. “As calhas dos rios estão
bem úmidas e com algum fluxo natural, contribuindo para diminuir as perdas por
infiltração, evaporação e por retiradas. Ninguém irriga na chuva. Deste modo, o
tempo de viagem da água será menor que seria no segundo semestre, com leitos
dos rios secos”, explicou o secretário de Recursos Hídricos do Estado,
Francisco Teixeira.
Legenda: O leito do Riacho Seco, em Missão Velha, mudou
drasticamente, entre 2020 e 2021, como se vê nos registros Foto:
Antonio Rodrigues
Mais à frente, o pescador Francisco José da Silva,
o Titico, morador do sítio Araçá, em Aurora, se surpreendeu com o volume que
corre pelo rio Salgado. Ao longo de seus 79 anos de vida, o afluente foi sua
principal fonte de renda, a partir da captura e venda de peixes como piau e
curimatã. Nos últimos anos, com as chuvas mais escassas, a atividade foi se
enfraquecendo e, por isso, ver o Velho Chico passando na frente da sua casa o
emociona. “Nem imaginava. Já estou com uma idade tão alta, quase nos 80, e vê
assim, é muito bonito”, confessa.
Em época de cheia, a “fartura” é tão grande que
chegava a vender peixes em Missão Velha, Barbalha, Crato e Juazeiro do Norte “e
já voltava de lá com minha feira”, lembra Titico. “E não parava. Se tivesse
peixe, vendia. Era tanto, que terminava dando ao povo”, completa. Com o São
Francisco, imagina essa riqueza retornando e também melhorando as condições dos
agricultores. “Só se o povo não tiver coragem de trabalhar. Vai melhorar para
todo mundo. Em beira de rio, que a terra é úmida, tudo que planta dá. Melhor do
que limpar roça cheia de toco. O que vale é ter inteligência e correr para
aquilo ali”, acredita o pescador.
O Projeto de Integração do Rio São Francisco (Pisf)
tem como atendimento prioritário o abastecimento humano de aproximadamente 400
municípios, nos estados do Ceará, de Paraíba, de Pernambuco e do Rio Grande do
Norte. A obra, complementarmente, atenderá as comunidades rurais que estão
distribuídas ao longo dos eixos. As águas do São Francisco “funcionarão como
uma fonte hídrica permanente para o uso preponderante da população, que é o
abastecimento humano, urbano e complementarmente rural”, completou a SRH. Como
exemplo, citou o projeto Malha D’água, que criará quatro sistemas partindo do
canal do CAC com adutores que levarão a água a dezenas de municípios, distritos
e as comunidades rurais.
Monitoramento
A Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos
(Cogerh) está monitorando, diariamente, o percurso do recurso hídrico pelo
fluxo natural dos rios até a chegada no açude Castanhão. Um sistema criado a
partir de seções poderão acompanhar se há perda de volume durante o trajeto,
seja por infiltração, evaporação ou retirada.
Ao todo, o monitoramento acontece em 14 seções
instaladas ao longo dos de 347,5 quilômetros de distância, desde a comporta na
barragem de Jati até o açude Castanhão. Especificamente do desemboque do eixo
emergencial, que liberou a água ao Riacho Seco, até o maior reservatório do
Estado, são 294,1 quilômetros de trajeto. Na última atualização, as águas do
São Francisco alcançaram a seção de Cruzeirinho, em Icó, que fica a 211,2
quilômetros da liberação do Riacho Seco.
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