É impossível mensurar a perda. A tragédia que afetou o mundo em 2020 tem desdobramentos e dores incalculáveis. Do ponto de vista epidemiológico, contudo, indicadores são contabilizados e analisados. O Ceará chegou, neste 1º de janeiro de 2021, à trágica marca de 10 mil mortos por Covid-19, nove meses após o primeiro caso confirmado. O Estado foi o quarto a somar esse número de óbitos em decorrência da infecção, seguindo São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Novo aumento de novos casos foi observado a partir de meados de outubro e festividades de fim de ano podem se refletir em explosão de casos no início de 2021.
O
governador Camilo Santana solidarizou-se, em uma rede social, ontem, com as
famílias que perderam entes queridos. "Minha solidariedade a todas as
famílias diante da imensurável dor pela partida dos seus entes queridos. No
Brasil já são mais de 195 mil vidas perdidas e famílias devastadas pelo
sofrimento", escreveu.
O
perfil dos óbitos continua sendo principalmente de pessoas idosas — com média de
idade de 70,62 anos — e com alguma comorbidade prévia, o que ocorre em 51,33%
das mortes. A perspectiva é de que o Estado inicie o plano de vacinação dos
grupos prioritários em fevereiro.
Porém,
em entrevista ao O POVO no dia 30 de dezembro de 2020, o secretário da Saúde do
Ceará, Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho, Dr. Cabeto, apontou a
expectativa de começar a vacinação na segunda quinzena de janeiro com a
Coronavac, produzida pelo Instituto Butantan em parceria com a empresa chinesa
Sinovac Biotech.
Até
a chegada do imunizante, o desafio é controlar a disseminação do vírus para
evitar mais mortes. Um fator que pode prejudicar o controle é o início do
período chuvoso, no qual há aumento da transmissão de vírus respiratórios.
Conforme Érico Arruda, médico infectologista do Hospital São José e professor
de medicina da Universidade Estadual do Ceará (Uece) e da Universidade de
Fortaleza (Unifor), o Ceará sofreu alta expansão de casos no começo da pandemia
no Brasil, quando não se tinha protocolos e abordagens bem estabelecidos para
os pacientes. Por isso, "ficamos à mercê desse momento cientificamente
nebuloso".
"Não
temos mais unidades lotadas e agora sabemos conduzir melhor as pessoas em
condição mais grave. O problema é o que vem pela frente. Estamos chorando as
nossas perdas, mas sem nenhuma certeza que daqui para a frente as coisas
tenderão a ser diferentes. O que se avizinha entre janeiro e fevereiro é chuva,
que historicamente causa maior transmissão de vírus respiratório",
explica.
Na
avaliação do médico, há confluência de fatores negativos: sem vacina até
fevereiro, pelo menos; chuvas; número de casos que tende a aumentar com as
festas de fim de ano. Além disso, a "bagunça na articulação federal traz
cenário de preocupação". "Mas temos esperança que não se
confirme", afirma.
De
acordo com Marcelo Gurgel, epidemiologista, professor e membro do GT de
Enfrentamento à Covid-19 da Uece, apesar de ser o 4º em número total de óbitos,
quando se considera as mortes por 100 mil habitantes, o Estado vai para a 7ª
colocação. "Boa parte das mortes foram concentradas nos primeiros meses.
Houve uma desaceleração no número de óbitos muito importante", analisa.
Ele
frisa que o novo aumento de casos e óbitos apresenta letalidade (proporção
entre número de mortes por uma doença e o número total de diagnosticados com a
patologia) menor, bem como velocidade reduzida em comparação ao crescimento
inicial da infecção no Estado. O epidemiologista explica que o número de novos
óbitos é menor porque os novos casos são caracterizados por pessoas mais
jovens.
Para
o médico, a quantidade de doses da vacina já assegurada para o Ceará — cerca de
3,2 milhões — ainda é insuficiente para a necessidade populacional cearense.
"Temos um mês e meio ainda para o início da vacinação, pelo menos. Vai ter
a lógica da distribuição e aplicação das duas doses para que a pessoa seja
considerada imunizada", afirma.
"Estamos
conseguindo controlar mas nas últimas semanas passamos por sustos. Vamos lutar
para que essa vacina esteja entre nós em breve para que a gente consiga vacinar
os grupos populacionais mais suscetíveis", acrescenta Érico Arruda.
Na
entrevista ao O POVO, Dr. Cabeto, prestou solidariedade aos cearenses atingidos
pelas perdas no Estado. "Não são 10 mil. São, no mínimo, 50 mil pessoas
afetadas diretamente, sem falar naquelas que adoeceram. Bastava um óbito e já
seria, do ponto de vista epidemiológico e do ponto de vista humano, muito
grave", afirmou. Além disso, reconheceu o trabalho prestado por todos os
funcionários da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa).
O
titular da Sesa destacou que a pandemia deixou claro que o País, como um todo,
"não pode mais tolerar essa desigualdade social". Entre as 10.004
vidas ceifadas pela Covid-19 no Ceará, a maioria foi entre pessoas mais pobres.
"Isso denota um problema de equidade. Acho que essa é uma grande
reflexão", afirmou. Nesse contexto, dr. Cabeto apontou a importância do
Sistema Único de Saúde (SUS) e da qualificação dos profissionais.
Com
informações portal O Povo Online
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