A riqueza paleontológica do município de Salitre, margeado pela Chapada do Araripe, no interior do Ceará, ganhou reforços com a descoberta de um conjunto de fósseis anunciada nesta terça-feira, 29. Achado foi tornado público por duas pesquisadoras cearenses que integram a equipe que estuda a região, que estimam que os fósseis encontrados tenham cerca de 110 milhões de anos.
“O fóssil vai nos contar a história de Salitre, da evolução da vida e de
como era o ambiente no passado”, explica Maria Edenilce Peixoto. A pesquisadora
é também professora da Universidade Regional do Cariri (Urca), da unidade de
Campus Sales, e participou ativamente no processo de descoberta dos fósseis.
Foram achados diversos exemplares de peixes fossilizados, camarões de
três espécies, conchas, moluscos e também um aglomerado de ossos que passará
por um processo de investigação mais detalhado para que seja identificado a
quais seres vivos pertenciam.
A descoberta ocorreu em uma área de cerca de 52 km de extensão, entre as
localidades de Baixio do Mocó e sítio Boa Sorte. O mapeamento arqueológico da
região, com implementação de sítios de exploração paleontológicas, ocorre tendo
o Museu de Geodiversidade de Salitre como principal articulador dos estudos na
região desde 2018.
O museu reuniu estudos independentes anteriormente e sistematizou uma
rede de parceria entre pesquisadores, fazendo com que um grande acervo de dados,
assim como o mapeamento geológico da região, pudesse ser mais facilmente
acessível para novas pesquisas. A medida garantiu o avanço dos trabalhos no
local.
Coordenando o museu, Tereza Mara pontua que as pesquisas envolvem
cientistas e estudantes da Urca, das universidades federais do Ceará (UFC), do
Piauí (UFPI) e do Rio de Janeiro (UFRJ). Para ela, o mais recente achado apenas
reforça o que chamou de “incrível potencial paleontológico” do município.
PRÓXIMOS PASSOS APÓS A DESCOBERTAS DOS FÓSSEIS EM SALITRE
Tereza esclarece que, diante da mais recente descoberta, terá início um
processo de busca por apoio institucional e financeiro para viabilizar a
continuidade dos estudos em Salitre. “Vamos galgar atrás de apoio do Geopark
Araripe, do governo do estado do Ceará, não queremos trazer esse material de
qualquer forma”, pontua sobre a retirada dos fósseis do local e envio para
estudos mais detalhados em centros de pesquisas parceiros.
Em paralelo, um processo minucioso de catalogação dos fósseis deve ser implementado
ainda em nível regional e então nacional e internacional. “É preciso olhar com
muita cautela cada detalhe dos fósseis, comparar com artigos científicos já
publicados, com o que já conhecemos e então formalizar o anúncio para
comunidade científica”, conforme completa Maria Edenilce.
A importância de disseminar informações sobre a relevância da descoberta
e seu significado na comunidade local também é outra preocupação das
pesquisadoras. “Quanto mais disseminado o conhecimento, mais disseminado vai
estar a preservação”, pontua Edenilce.
A professora frisa que somente por meio da instrução dos moradores das
localidades sobre a riqueza do subsolo de Salitre será possível firmar uma
parceria com a sociedade local para enfrentar eventuais casos de tráfico de
fósseis. Tereza Mara partilha do mesmo pensamento e destaca a necessidade de
uma relação mais próxima entre moradores, pesquisadores e museu.
“O museu, se firmando no local, funciona como uma barreira de proteção
contra o tráfico de fósseis”, conforme declarou. Ela frisa ainda a necessidade
de investimentos para manter os fósseis na localidade, de modo a valorizar todo
o entorno dos sítios de descoberta arqueológica.
De antemão, ações informativas por meio de oficinas de apresentação das
descobertas e das pesquisas que são desenvolvidas na região já estão sendo
idealizadas para ocorrerem em parcerias com as escolas da cidade e de
municípios vizinhos, conforme esclareceu Edenilce. “Tendo conhecimento, a
população preserva”, completou.
FOTO: Divulgação
Fonte: O Povo Online
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