Estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) aponta que o aumento do número de casos e internações por covid-19 em vários estados que vem sendo registrado desde o início de novembro está encontrando um sistema de saúde menos preparado para atender à demanda por leitos de enfermarias e unidades de terapia intensiva (UTIs), não só nas regiões metropolitanas, mas principalmente nas cidades menores do interior.
Os pesquisadores da Fiocruz alertam que a possibilidade de colapso do
atendimento aos novos casos é real e poderá acontecer nas próximas semanas,
agravada pela chegada das festas de fim de ano e das férias. “A circulação das
pessoas no período de festas de fim de ano e férias deve acelerar a
disseminação do vírus, que já circula com bastante velocidade e volta a ocupar
os leitos hospitalares. A movimentação das pessoas tende a aumentar a
necessidade de atendimento por outros agravos de saúde como os acidentes de
trânsito, por exemplo”, diz a instituição.
A nota técnica O fim do ciclo de interiorização, a sincronização da
epidemia e as dificuldades de atendimento nos hospitais, desenvolvida pela
equipe de pesquisa do Monitora Covid-19, destaca que no fim do ano a maior
movimentação de pessoas “sem cuidados devidamente adequados e sem manutenção do
isolamento social”, agravará um quadro composto por “desmobilização de leitos
extras dos hospitais de campanha; a ocupação de leitos por outros problemas de
saúde que ficaram represados durante o avanço da epidemia de covid-19; a maior
circulação de pessoas; as dificuldades de identificação de casos e seus
contatos devido à baixa testagem; e o relaxamento dos cuidados de
distanciamento social, uso de máscaras e higiene”.
De acordo com o epidemiologista do Instituto de Comunicação e Informação
Científica e Tecnológica em Saúde (ICICT/Fiocruz) e um dos autores do estudo,
Diego Xavier, no início da epidemia no Brasil, houve uma demanda grande nas
regiões metropolitanas, e só depois veio a interiorização da doença, num
momento em que a incidência da covid-19 já apresentava sinais de estabilidade
nas cidades maiores.
“Agora, a covid-19 está fortemente presente tanto nas regiões
metropolitanas quanto nas cidades do interior.
E a epidemia está sincronizada, não começa mais nas metrópoles para
depois ir para o interior. Um novo aumento dos casos pressionará a capacidade
do atendimento à saúde das regiões metropolitanas, reduzindo também seus
recursos para atender a pacientes vindos do interior. Na maioria dos lugares, a
assistência à saúde deverá ser incapaz de atender à demanda”, disse o
pesquisador.
Mortes fora das UTIs
De acordo com a Fiocruz, um importante indicador da falta de assistência
de saúde está nos números de mortos fora das UTIs. Segundo a nota técnica, a
“falta de UTI foi ainda mais expressiva nos municípios do interior, sobretudo
pela dificuldade de acesso e as longas distâncias que devem ser percorridas em
busca de atendimento”.
Há também os registros sem informação sobre o local da morte (9% no
interior e 13% nas regiões metropolitanas), que podem elevar esses
números.
Os estados que registraram maiores índices de mortes no interior fora da
UTI são Amapá (82%), Roraima (73%), Amazonas (66%), Pará (59%), Sergipe (58%),
Tocantins (50%), Acre (46%) e Ceará (45%). Já nas regiões metropolitanas, os
estados que tiveram mais óbitos fora da UTI foram Roraima (63%), Sergipe (53%),
Amazonas (47%), Rio Grande do Norte 42%), Minas Gerais (38%), São Paulo
(36%), Distrito Federal (35%) e Ceará (38%).
Foto: © Rovena Rosa/Agência Brasi
Fonte: Agência Brasil
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