Com o Brasil batendo recorde em número de mortes devido ao
novo coronavírus, o Observatório Covid-19 BR defendeu medidas de
restrições mais duras para interromper a tendência de crescimento da pandemia
no país.
O Observatório Covid-19 BR é uma iniciativa independente
de pesquisadores do Brasil e do exterior para disseminar descobertas
sobre a nova doença.
“A diretriz básica seria o fechamento do comércio e serviços não
essenciais”, diz o comunicado do grupo, que é contra o funcionamento
de restaurantes e academias, além de discordar da realização de festas e
eventos neste momento. “Eventualmente e localizadamente, pode ser necessária a
decretação de toque de recolher noturno.”
Atualmente, o país já ultrapassou os 7 milhões de casos
oficiais e está perto de atingir a marca de 185 mil mortes. Os dados, em
números absolutos, mostram que o Brasil tem o segundo pior cenário do mundo,
atrás apenas dos Estados Unidos.
Restrições já
As restrições, na opinião do grupo, têm que começar agora, antes do
Natal, e seguir até ao menos meados de janeiro para uma reavaliação. Os
especialistas ressaltam o distanciamento social como uma das ferramentas para
evitar o contágio. A defesa do grupo é para que as medidas sejam implementadas
nas localidades em que haja tendência de crescimento da pandemia.
“A catástrofe que se anuncia não vai se reverter de forma natural. A
lógica de multiplicação de casos é simples e incomplacente: novos casos geram
outros novos casos”, traz a nota do observatório.
Não podemos colocar a perder todo o esforço feito até agora. Com o aumento de
casos e a saturação do sistema de saúde em vários estados, somados às festas de
final de ano que se aproximam, é imperativo que medidas sejam tomadas com a
urgência necessária, de modo que possamos reduzir o número de vidas perdidas.
“Nunca é muito tarde para reagir”
Integrante do grupo, Lorena Barberia, professora do Departamento de
Ciência Politica da USP (Universidade de São Paulo), diz ao UOL que o
comunicado é para mostrar que “nunca é muito tarde para reagir”.
“E este é um momento muito importante para a gente reagir. Quando houve
cenários parecidos [de intensificação da pandemia] no passado, foram
necessárias medidas mais rígidas para reverter esse quadro.”
Se isso funcionou no passado, por que este não seria o momento para
adotar as mesmas [medidas]?
Lorena Barberia, membro do Observatório Covid-19 BR
Governos não têm implementado medidas mais duras. Em Búzios (RJ), por
exemplo, restrições foram adotadas por determinação da Justiça.
“A gente está vendo aqui um novo crescimento depois de uma queda. Esse novo
crescimento precisa ser interrompido”, diz Roberto Kraenkel, professor do IFT
(Instituto de Física Teórica) da Unesp (Universidade Estadual Paulista) e
membro do observatório. “A gente está vendo uma subida de casos. E ela não tem
nenhuma razão de parar agora.”
Nos angustia ver uma inversão na tendência de número de casos. [Ver]
casos subindo e mortos subindo.
Roberto Kraenkel, membro do Observatório Covid-19 BR
O estado de São Paulo chegou a regredir no plano de reabertura. Mas as
decisões do governo são alvos de críticas por parte do observatório. Bares e
restaurantes, por exemplo, podem continuar abertos, mas por menos tempo,
pela determinação do governo paulista.
Segundo o estado, as novas regras se fizeram necessárias devido ao
aumento das internações entre jovens. Entre março e novembro, a faixa etária
com maior demanda por leitos se dava entre 55 e 75 anos. No começo de dezembro,
caiu para a faixa entre 30 e 50 anos.
“Não adianta dizer que o bar pode ficar aberto e depois dizer para o
sujeito não ir para o bar. Isso gera mensagens contraditórias”, diz Kraenkel.
“O governo tem que se claro sobre o que pode ou o que não pode. Não vamos
esperar uma auto-organização da sociedade nesse sentido.”
Se está permitido fazer as coisas, o cidadão as faz porque não há nada
que proíba. Junta isso com um certo cansaço e a sensação de que isso não acaba
nunca mais, e você acaba tendo um monte de gente na rua.
Para Kraenkel, as pessoas não podem deixar de cumprir as medidas de
proteção contra a pandemia em razão da expectativa pela vacina contra a
covid-19.
Na visão dele, quem faz isso está “de acordo que, dentro desses dois,
três meses, morram mais pessoas do que é necessário morrer”. “Ainda acho que o
esclarecimento da população é importante. O objetivo final é diminuir o número
de mortes, de casos. E isso é alcançado com o distanciamento”, diz o professor.
Barberia complementa: “Para uma campanha de vacinação dar certo, é crítico que
a pandemia esteja controlada”.
Foto: Reprodução
Fonte: UOL
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