O Instituto Butantan iniciou a produção da vacina Coronavac, produzida pela fabricante chinesa Sinovac, em sua fábrica na zona oeste de São Paulo nesta quinta-feira (10).
O governo paulista havia anunciado na segunda-feira (7) que a vacinação em SP iniciará no dia 25 de janeiro de 2021.
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O anúncio foi feito pelo próprio governador do estado, João Doria
(PSDB), em entrevista coletiva na sede do instituto, em um momento em que
outros países iniciam a campanha de vacinação e o governo federal patina para
anunciar um plano.
Doria falou em nome do Instituto e pelo governo de São Paulo. A presença
de insumos suficientes para a produção de 1 milhão de doses do imunizante, além
da chegada até o dia 15 de janeiro do restante das 46 milhões de doses, o
governo tem vantagem no planejamento e obtenção dos insumos em relação ao
governo federal.
O governo paulista havia anunciado na segunda-feira (7) que a vacinação
em SP iniciará no dia 25 de janeiro de 2021, embora isso ainda dependa da
aprovação do imunizante pela Anvisa, a reguladora do setor.
O plano de vacinação apresentado pelo Ministério da Saúde no último dia
1o. previa o início apenas em março. O governo federal realizou a compra de 100
milhões de doses da vacina da Universidade de Oxford (Reino Unido) em parceria
com a AstraZeneca, a primeira do mundo a publicar em uma revista científica de
prestígio os resultados de eficácia, de 70%.
Doria e Jair Bolsonaro (sem partido), prováveis adversários nas eleições
presidenciais de 2022, travam uma disputa retórica na corrida pela produção e
distribuição das vacinas. O tucano saiu na frente.
Em outubro, o presidente chegou a desautorizar o ministro da Saúde,
Eduardo Pazuello, ao dizer que não compraria a vacina da Sinovac para
integração ao plano de vacinação nacional. Pazuello acabara de anunciar a
intenção de comprar a vacina paulista, mais adiantada do que aquela produzida
pela AstraZeneca/Universidade de Oxford, a aposta principal do governo federal.
Nesta quinta-feira, o governador reforçou o desejo de a vacina produzida
pelo Butantan ser a "a vacina do Brasil" e disponibilizá-la
prontamente a toda a população. Segundo o peessedebista, 11 estados e 912
municípios entraram em contato com o governo para adquirir doses da Coronavac.
As conclusões sobre os testes de eficácia da Coronavac, no entanto,
ainda não foram divulgadas, e o pedido por registro na Anvisa ainda não foi
feita. A conclusão do ensaio de fase 3 e apresentação dos dados são
pré-requisitos para a aprovação da agência. Na última segunda-feira (7), a
Anvisa afirmou que não deverá liberar registros de vacinas em prazo inferior a
60 dias.
"Por que aqui em São Paulo que já temos a vacina, a vacina do
Butantan, temos que aguardar mais tempo? Por que iniciar em março se podemos
iniciar em janeiro a vacinação mais eficiente?", disse o governador.
O governador disse ainda que é preciso eliminar todo discurso político e
de viés ideológico da disputa pela vacina e que deseja ofertar uma "vacina
segura, eficaz, com credibilidade e que permita a imunização de milhões de
brasileiros".
Em meio a elogios ao instituto centenário e com um histórico de grandes
nomes que passaram pelo Butantan, o diretor do instituto, Dimas Covas,
apresentou informações sobre a produção da Coronavac, cuja capacidade será de
até 1 milhão de doses por dia. Em um primeiro momento, no entanto, a vacina
deve ser apenas envasada e rotulada no instituto.
A fábrica para produção da Coronavac foi construída no espaço destinado
ao antigo projeto de Hemoderivados do instituto, nunca completado e motivo de
disputa entre o ex-diretor, Jorge Kalil, e o atual dirigente, Dimas Covas. O
governo de SP solicitou ao Palácio do Planalto R$1,9 bilhão para a adequação da
fábrica e compra das doses de vacinas.
O pedido de dinheiro foi o estopim para que Bolsonaro se colocasse
contra a produção do imunizante, que ele afirmou ser de origem
"duvidosa" por ser fabricado na China.
Os ensaios clínicos da Coronavac são atualmente conduzidos em três
países no mundo: Brasil, Indonésia e Turquia. O Instituto Butantan afirmou que
já foi atingido o número mínimo de casos para uma análise preliminar do
imunizante, e deve divulgar os resultados em breve. A Indonésia disse que
possui dados primários do seu ensaio, mas afirmou ainda não ser possível
calcular uma eficácia para a vacina.
Além da produção, o Instituto Butantan coordena os ensaios clínicos da
vacina no país. Os dados desse ensaio devem ser apresentados à Anvisa nos
próximos dez dias. Equipes da agência visitaram a fábrica da Sinovac, em
Pequim, para avaliar as condições da fábrica.
A construção e adequação da fábrica para produção da vacina em São Paulo
contou ainda com a contratação de mais 120 técnicos, segundo o governador. O
Butantan já fornece cerca de 20 vacinas e soros diferentes para o Ministério da
Saúde todos os anos, com produção de 120 milhões de doses anual.
FOLHAPRESS
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