Uma eventual prorrogação dos auxílios criados durante a pandemia de covid-19 pode ter o efeito contrário sobre a economia e resultar em contração e fuga de investimentos, disse hoje (16) o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto. Segundo ele, o lançamento de um programa que aumente os gastos públicos pode inibir, em vez de favorecer o crescimento.
“Passamos de um ponto de inflexão. Estender mais os auxílios agora pode significar menos [efeitos positivos].
Foi o teto de gastos que nos permitiu gastar mais na pandemia. Assim que
se começou a questionar o teto, o mercado reagiu imediatamente nos preços dos
ativos”, disse Campos Neto na 3ª Conferência Anual da América Latina,
organizada pela Chatham House e pelo Banco de Desenvolvimento da América Latina
(CAF).
Para o presidente do BC, o risco fiscal vindo das pressões para furar o
teto federal de gastos não apenas está provocando instabilidade no mercado
financeiro como está atrapalhando os investimentos privados. Ele classificou o
problema como uma das principais preocupações atuais do órgão.
Na avaliação de Campos Neto, o país não tem escolha a não ser retomar a
disciplina fiscal e reverter os déficits nas contas públicas em 2021. Segundo
ele, a recomposição da renda das famílias, por meio do auxílio emergencial,
gerou uma poupança na economia que deve começar a ser queimada no próximo ano.
“Não acho que tenhamos opção. O déficit fiscal tem de ser revertido a
partir do próximo ano. Para atrair investimento privado, é preciso termos essa
credibilidade. Só assim poderemos ter crescimento sustentável no longo prazo”,
concluiu o presidente do BC.
Ele acrescentou que o Brasil gastou bastante dinheiro para enfrentar a
crise gerada pela pandemia do novo coronavírus, com gastos acima da média de
outros países emergentes, e lembrou que o país encerrará o ano mais endividado
que economias semelhantes.
Foto: © 07.04.2020/Marcello Casal JrAgência Brasil
Fonte: Agência Brasil
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