O incêndio em uma subestação em Amapá fez com que boa parte do estado tivesse o fornecimento de energia suspenso. As dificuldades já duram 7 dias. Mas, no Ceará, as chances de algo parecido ocorrer, segundo especialistas consultados pela reportagem, são remotas. Com uma diversidade maior de subestações e linhas de transmissão, o fornecimento de luz no Estado é considerado muito mais robusto.
De acordo com o Jurandir Picanço, consultor de energia da Federação das
Indústrias do Estado do Ceará (Fiec), o Ceará desenvolveu, ao longo dos últimos
anos, uma estabilidade muito maior quando o assunto é segurança energética. Ele
afirmou que, caso algo semelhante viesse a acontecer por aqui, o sistema teria
capacidade de redirecionar a demanda para outras unidades geradoras e fazer com
que o "blackout" durasse apenas algumas horas.
"A situação no Ceará é completamente diferente em relação ao Amapá,
que é abastecido por uma única linha de transmissão e uma só subestação. É um
problema sério, mas é preciso apontar responsabilidades. Havia apenas uma
reserva, e essa reserva estava inoperante. É uma situação muito peculiar lá no
Amapá. Aqui nós temos várias linhas de transmissão, assim como é no Brasil
quase todo. Mas lá no Amapá é diferente porque eles estão muito isolados",
explicou.
Ele ainda destacou que o Ceará vem construindo essa segurança energética
"há anos" e que não lembra de o Estado ter passado por uma situação
semelhante ao ocorrido no Amapá nas últimas cinco décadas.
"Pode até cair o sistema todo se houver um problema muito grande no
Ceará, mas isso pode ser contornado muito rápido por aqui. A gente passaria
horas, mas não corremos o risco de passar dias sem energia, como está sendo no
Amapá", afirmou Picanço.
Condições específicas
Segundo o secretário executivo de energia e telecomunicações do Governo
do Estado, Adão Linhares, a situação no Amapá foi potencializada pelo caráter
específico da linha de transmissão na região. Segundo ele, o equipamento conta
com uma complexidade muito grande já que foi desenvolvida para não causar danos
à vegetação florestal. Contudo, essa especificidade acaba gerando riscos à
linha.
"A situação do Amapá é muito específica porque é uma linha de
transmissão altíssima, cheia de cuidados por conta da floresta. O Brasil tem
características diferentes em tudo que é lugar, mas aqui no Ceará, e no
Nordeste como um todo, a situação é completamente diferente: todas as
subestações tem redundância dupla, então se falhar de um lado, chega de outro",
explicou.
Análise de caso
O coordenador do núcleo de energia da Fiec, Joaquim Rolim, corroborou
com as análises e destacou que o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS)
deverá, após a resolução dos problemas, desenvolver um relatório sobre a
situação no Amapá para evitar que o problema se repita no futuro.
"A probabilidade disso acontecer é muito pequena, é praticamente
desprezível. A gente tem muita robustez no sistema do Ceará e isso permite o
retorno de forma muito rápido, em no máximo uma hora ou duas. A situação no
Amapá é muito diferente, e, por isso, o ONS deverá realizar um estudo para
entender todos os problemas para garantir que isso não se repita", disse
Rolim.
Em nota, a Enel Distribuição Ceará informa que "tem feito os
investimentos necessários para a modernização e digitalização da rede elétrica,
com equipamentos de automação comandados a distância, o que permite uma rápida
atuação em caso de falhas".
A companhia destacou que, nos últimos cinco anos, investiu cerca de R$
3,5 bilhões no Estado. "O sistema da companhia está dimensionado para
garantir o fornecimento de energia, mesmo em momentos de alta demanda de
consumo", arremata a Enel.
Fonte: Diário do Nordeste
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