O indicador do tempo de resposta do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) Ceará, que mede o intervalo de tempo entre o pedido de ajuda até a chegada da equipe, voltou a crescer após o pico da pandemia no estado em 34,7%, na comparação dos meses de maio a setembro. As informações são da plataforma IntegraSUS, da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa).
O ganho de tempo nas Unidades de Saúde Avançadas (USAs), consideradas
Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) móveis, chegou a mais de uma hora. Em
maio e junho, a média de resposta foi de três horas e 14 minutos. Em setembro,
o intervalo caiu para 126 minutos.
Já entre as Unidades de Saúde Básicas (USBs) houve aumento de 32,7%. Em
maio, o tempo médio da chegada foi de 55 minutos, o maior de 2020; já no mês
passado, caiu para 37 minutos. O valor se aproxima ao do trimestre de janeiro a
março, com 35 minutos.
Segundo o diretor geral do Samu Ceará, coronel João Vasconcelos Souza,
se o serviço não tivesse chegado aos 184 municípios em 2020, “a situação ia ser
muito feia”.
O governo do estado considerou o Samu universalizado em junho, com o
funcionamento de 114 bases.
O coronel atribui a maior demora no período crítico à paramentação dos
profissionais e às longas distâncias, “já que o atendimento ficou concentrado
em alguns hospitais”, sobretudo em municípios do interior. Segundo ele,
qualquer um dos 163 veículos disponíveis no estado poderia atender a casos de
Covid-19, desde que passasse por uma limpeza anterior. Ele confirmou que alguns
profissionais do setor foram afastados por contaminação.
Ana Paula Lemos, presidente interina do Conselho Regional de Enfermagem
do Ceará (Coren-CE), reitera que a demora nos atendimentos durante a fase mais
crítica se relaciona com a necessidade de higienização dos veículos e a troca
de equipamentos de proteção dos profissionais de saúde.
“O Samu teve um trabalho gigantesco para fazer a remoção de pessoas que
eram diagnosticadas em UPAs, até mesmo na atenção básica, para levar aos
hospitais”, pontua.
“Muitas vezes, ainda eram casos não confirmados porque o exame estava
demorando a sair. Se era caso suspeito, eles não poderiam pegar outro paciente
antes de desinfetar e higienizar. Foi um trabalho muito exaustivo para todos,
tanto físico como psicológico”.
O Ceará tem bases descentralizadas nas cinco Regiões de Saúde, conforme
a Sesa. Entre março e outubro deste ano, o Samu realizou 53.245 atendimentos,
sendo 5.165 de pacientes com suspeita ou confirmação de Covid-19. O número
representa quase 10% do total. Dos casos relacionados à doença, 52% foram
atendidos por USAs, com 2.687 ocorrências.
“Deixamos o serviço universalizado e isso nos ajudou muito. Estamos
tendo uma baixa bem substancial agora, mas o Samu teve um papel muito forte no
pico, nas transferências e atendimentos”, ressalta o coronel Vasconcelos. “Como
o Samu está bem distribuído no estado, ele consegue dar vazão a essas situações,
embora o atendimento da Covid seja mais longo”.
Capital
Em Fortaleza, o serviço é gerido pela Prefeitura. A Secretaria Municipal
da Saúde (SMS) declarou que 2.240 atendimentos entre março e setembro foram
específicos para casos suspeitos e/ou confirmados de Covid-19. Sete ambulâncias
e dois transportes sanitários foram destinados para esse processo. A pasta não
informou qual foi o tempo médio de resposta.
Na capital, o serviço conta com 540 profissionais, entre médicos,
enfermeiros, socorristas, técnicos de enfermagem e pessoal administrativo. A
frota atual é de 25 ambulâncias e 10 motolâncias, além do Bike Vida, que presta
atendimento na Avenida Beira Mar, distribuídos em nove bases descentralizadas,
“em todas as Regionais e em locais estratégicos da cidade”.
De acordo com o coronel Vasconcelos, para continuar diminuindo o tempo
de resposta, o Samu vem intensificando os núcleos de ensino profissional, ainda
de forma virtual, para que os 1.930 funcionários (condutores, enfermeiros,
técnicos e médicos) aprendam novas práticas a partir da conduta dos próprios
colegas de trabalho.
Por Nícolas Paulino, G1 CE
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