Cientistas estrangeiros têm se dedicado ao conhecimento sobre fatores que influenciam a quantidade e a distribuição das chuvas, além de mapear o uso da água, em regiões do Ceará. São seis pesquisadores de países como Colômbia, Benin e Tunísia, que estudam as previsões da quadra chuvosa e como o cearense faz uso do recurso hídrico para sobrevivência e para agricultura. O grupo auxilia na gestão da água no Estado por meio dos programas de pesquisa da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), em parceria com instituições de ensino locais e internacionais.
Foi ao perceber as similaridades entre o semiárido tunisiano e o
cearense que a doutoranda em recursos hídricos, Fajr Fradi, resolveu atravessar
fronteiras para dar continuidade aos seus estudos sobre seca. "Meu
objetivo é entender a perspectiva do uso das águas por diferentes usuários
porque tem, por exemplo, em um açude, pessoas que querem fazer agricultura,
criar gado ou peixes. Estou estudando essas diferentes perspectivas e as opções
para cada usuário de como combater essa seca", conta.
Para isso, a cientista fez diversas visitas técnicas à bacia do Riacho
Forquilha, em Quixeramobim, no Sertão Central, e à bacia do Riacho do Sangue,
no Vale do Jaguaribe. "Vou criar indicadores de resiliência para seca.
Então, um usuário que tem duas opções para manter o uso da água, como um açude
e um poço, ele é mais resiliente do que um outro usuário. É essa informação que
eu quero colocar porque acredito que no Estado tem uma infraestrutura hídrica muito
sólida, só que falta a percepção social, e entender se as pessoas querem alocar
o açude para abastecimento ou para agricultura".
Avaliação
De olho no que acontece nos oceanos, o cientista colombiano Luis Carlos
Hernández consegue estabelecer relação com o volume de chuva esperado para o
Ceará com antecedência em torno de seis meses. "Eu trabalho com previsão
de variação dos afluentes nos reservatórios estratégicos do Estado. Para fazer
isso utilizo modelagem hidrológica. São (metodologias) estatísticas, mas estou
entrando com inteligência artificial. O objetivo é fazer essa previsão e
incluir informações climáticas", explica o pesquisador.
Na rotina de pesquisas, foram produzidos artigos científicos com as
informações em constante troca com o grupo de trabalho formado por outros
pesquisadores e orientadora. "A gente coloca as informações nos modelos
para ter ganhos na previsão e com essas informações dos indicadores, como as
temperaturas da superfície do mar, por exemplo, a gente tenta ter um ganho da
previsão para a quadra chuvosa, prever os volumes entre fevereiro a maio e
auxiliar a gestão dos recursos para tomar decisões no Estado", destaca
Luis Hernández.
O físico Gbekpo Aubains Honsou-Gbo, de Benin, país da África Ocidental,
também estuda os fenômenos dos oceanos e a série histórica de chuvas no Ceará
para encontrar padrões. "No ano passado, a gente analisou a influência do
Atlântico Tropical, na região equatorial, sob a chuva com antecedência de mais
de quatro meses. Ou seja, olhando as condições oceânicas, entre julho e
setembro, a gente tenta ver o cenário de chuva no Nordeste entre fevereiro e
maio", frisa o especialista com doutorado pela Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE).
Dessa forma, é possível entender, dentre outras coisas, como o El Ñino -
aquecimento das águas nos oceanos - influencia direta ou indiretamente nas
precipitações do Nordeste. "O modelo que a gente desenvolve, a gente usa
para dar um suporte na tomada de decisões. O Governo pode ter uma ideia da
estação chuvosa desde essa época, por exemplo, para fazer o planejamento e
gerenciamento", explica o físico.
Importância
Eduardo Sávio, presidente da Funceme, avalia as iniciativas como exemplo
de fortalecimento entre instituições internacionais dedicadas ao estudos da
seca. "Isto favorece outros olhares sobre o nosso semiárido, uma vez que
nossos parceiros trabalham neste contexto com ferramentas, metodologias e
envolvendo profissionais de várias disciplinas no entendimento dos problemas
enfrentados pelas terras secas".
Fonte: Diário
do Nordeste
0 Comentários