Mesmo sem haver um retorno generalizado de aulas no Brasil, o tempo de fechamento de escolas por causa da pandemia de coronavírus já é maior por aqui do que na média dos países ricos. A suspensão das atividades escolares terá impacto na economia global, indica relatório da OCDE (Organização para a Organização e Desenvolvimento Econômico).
A organização divulgou ontem a
edição de 2020 do relatório Education at a Glance (educação num relance). Neste
ano, o estudo contempla um capítulo especial sobre os desdobramentos da
pandemia. O documento relaciona a interrupção das aulas com o acúmulo de perda
de habilidades e o reflexo na produtividade. Os efeitos econômicos do gap
educacional serão sentidos ao longo de décadas, segundo a OCDE.
“Como a perda do aprendizado
reflete em perdas de habilidades, isso reflete na produtividade. O impacto
relativo sobre o PIB pode ser de 1,5% em média até o final do século”, diz o
texto, ancorado em regressões históricas de crescimento para estimar o impacto
de longo prazo de uma perda aproximada de 1/3 de ano de estudos para os
estudantes.
A expectativa é que a economia
global encolha ao menos 6% em 2020. A economia brasileira registrou retração de
9,7% no segundo trimestre de 2020 e as projeções de mercado para o ano são de
queda de 5,28%.
A OCDE pontua que a reabertura de
escolas e universidades trará “benefícios inquestionáveis aos estudantes, à
economia e às famílias”, mas pondera que esses benefícios “precisam ser
cuidadosamente ponderados com os riscos à saúde” e à necessidade de contenção
da pandemia. A organização ressalta a necessidade de coordenação entre autoridades
educacionais e de saúde nos diferentes níveis governamentais.
AUSÊNCIA
No Brasil, o MEC (Ministério da
Educação) tem sido ausente na articulação nacional sobre manutenção de
atividades educacionais neste período. Também tem participação tímida na
determinação de protocolos para o retorno às aulas presenciais.
Os jovens menos qualificados
serão os mais afetados, o que deve aumentar ainda mais a desigualdade dentro de
um país e entre os diferentes países, afirmou o secretário-geral da OCDE, Angel
Gurría, no lançamento do trabalho.
Segundo o superintendente do
Instituto Unibanco, Ricardo Henriques, o estudo reforça conclusões de que a
pandemia tende a aumentar a desigualdade, com efeitos piores para os estudantes
mais vulneráveis. “Mas o nosso agravante não é a Covid, é a baixa coordenação
da politica educacional que, sob um cenário desafiador, solicitaria mais
coordenação, sobretudo do governo federal”, diz.
Segundo ele, quem comanda “a
dança” para a volta das aulas é a área da saúde, mas a qualidade disso depende
da educação. Isso depende, diz ele, de protocolos claros para o interior das
escolas (que sejam elaborados, comunicados e tenham condições de sair do
papel), análise localizada da realidade das escolas e dos professores, e também
de uma atuação intersetorial (com saúde, assistência social).
O Education at a Glance compara
dados de 46 países -além dos 38 membros da OCDE, são analisadas informações do
Brasil, China, Rússia, Índia, Indonésia, Argentina, Arábia Saudita e África do
Sul. O Brasil tem um contexto mais desafiador para a reabertura. Até o fim de
junho, o país já acumulava 16 semanas de interrupção de aulas, contra uma média
de 14 semanas nos países da OCDE.
No começo de setembro, só 8 dos
46 países avaliados pela entidade ainda estavam com as aulas suspensas por
causa da pandemia de coronavírus. O Chile, por exemplo, registra 15 semanas.
O impacto real em alguns países,
diz o documento, pode ter sido menos severo pela capacidade de manter aulas
regulares durante o período. Também há ponderações com relação ao calendário
escolar no momento em que a pandemia atingiu cada país.
FOLHAPRESS
0 Comentários