O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) fez na manhã desta terça-feira
(22) seu discurso na abertura da Assembleia Geral da ONU. Tradicionalmente, o
chefe de Estado brasileiro é o primeiro a falar na conferência.
Agência BrasilNa abertura da Assembleia Geral da ONU, Bolsonaro ainda defendeu que concedeu mil dólares de auxílio emergencial, atacou a imprensa e disse que o país é alvo de desinformação sobre a Amazônia e o pantanal.
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Em uma fala gravada com cerca de
15 minutos, Bolsonaro atacou a imprensa e defendeu sua atuação frente à
pandemia de coronavírus.
O presidente brasileiro também
afirmou que seu governo é vítima de uma campanha de desinformação que tem como
alvo a Amazônia e o Pantanal.
Leia a seguir a íntegra do
discurso.
"Senhor presidente, da
Assembleia Geral, Volkan Bozkir;
Senhor secretário-geral da ONU,
António Guterres, a quem tenho a satisfação de cumprimentar em nossa
língua-mãe;
Chefes de Estado, de governo e de
delegação; Senhoras e senhores,
É uma honra abrir esta assembleia
com os representantes de nações soberanas, num momento em que o mundo necessita
da verdade para superar seus desafios.
A Covid-19 ganhou o centro de
todas as atenções ao longo deste ano e, em primeiro lugar, quero lamentar cada
morte ocorrida.
Desde o princípio, alertei, em
meu país, que tínhamos dois problemas para resolver: o vírus e o desemprego, e
que ambos deveriam ser tratados simultaneamente e com a mesma responsabilidade.
Por decisão judicial, todas as
medidas de isolamento e restrições de liberdade foram delegadas a cada um dos
27 governadores das unidades da Federação. Ao presidente, coube o envio de
recursos e meios a todo o país.
Como aconteceu em grande parte do
mundo, parcela da imprensa brasileira também politizou o vírus, disseminando o
pânico entre a população. Sob o lema "fique em casa" e "a
economia a gente vê depois", quase trouxeram o caos social ao país.
Nosso governo, de forma arrojada,
implementou várias medidas econômicas que evitaram o mal maior:
- Concedeu auxílio emergencial em
parcelas que somam aproximadamente US$ 1.000 para 65 milhões de pessoas, o
maior programa de assistência aos mais pobres no Brasil e talvez um dos maiores
do mundo;
- Destinou mais de US$ 100
bilhões para ações de saúde, socorro a pequenas e microempresas, assim como
compensou a perda de arrecadação dos estados e municípios;
- Assistiu a mais de 200 mil
famílias indígenas com produtos alimentícios e prevenção à Covid;
- Estimulou, ouvindo
profissionais de saúde, o tratamento precoce da doença;
- Destinou 400 milhões de dólares
para pesquisa, desenvolvimento e produção da vacina de Oxford no Brasil;
Não faltaram, nos hospitais, os
meios para atender aos pacientes de Covid.
A pandemia deixa a grande lição
de que não podemos depender apenas de umas poucas nações para produção de
insumos e meios essenciais para nossa sobrevivência. Somente o insumo da
produção de hidroxicloriquina sofreu um reajuste de 500% no início da pandemia.
Nesta linha, o Brasil está aberto para o desenvolvimento de tecnologia de ponta
e inovação, a exemplo da indústria 4.0, da inteligência artificial,
nanotecnologia e da tecnologia 5G, com quaisquer parceiros que respeitem nossa
soberania, prezem pela liberdade e pela proteção de dados.
No Brasil, apesar da crise
mundial, a produção rural não parou. O homem do campo trabalhou como nunca,
produziu, como sempre, alimentos para mais de 1 bilhão de pessoas.
O Brasil contribuiu para que o
mundo continuasse alimentado.
Nossos caminhoneiros, marítimos,
portuários e aeroviários mantiveram ativo todo o fluxo logístico para
distribuição interna e exportação.
Nosso agronegócio continua
pujante e, acima de tudo, possuindo e respeitando a melhor legislação ambiental
do planeta.
Mesmo assim, somos vítimas de uma
das mais brutais campanhas de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal.
A Amazônia brasileira é
sabidamente riquíssima. Isso explica o apoio de instituições internacionais a
essa campanha escorada em interesses escusos que se unem a associações
brasileiras, aproveitadoras e impatrióticas, com o objetivo de prejudicar o
governo e o próprio Brasil.
Somos líderes em conservação de
florestas tropicais. Temos a matriz energética mais limpa e diversificada do
mundo.
Mesmo sendo uma das 10 maiores
economias do mundo, somos responsáveis por apenas 3% da emissão de carbono.
Garantimos a segurança alimentar
a um sexto da população mundial, mesmo preservando 66% de nossa vegetação
nativa e usando apenas 27% do nosso território para a pecuária e agricultura,
números que nenhum outro país possui.
O Brasil desponta como o maior
produtor mundial de alimentos.
E, por isso, há tanto interesse
em propagar desinformações sobre o nosso meio ambiente.
Estamos abertos para o mundo
naquilo que melhor temos para oferecer, nossos produtos do campo. Nunca
exportamos tanto. O mundo cada vez mais depende do Brasil para se alimentar.
Nossa floresta é úmida e não
permite a propagação do fogo em seu interior. Os incêndios acontecem
praticamente, nos mesmos lugares, no entorno leste da floresta, onde o caboclo
e o índio queimam seus roçados em busca de sua sobrevivência, em áreas já
desmatadas.
Os focos criminosos são
combatidos com rigor e determinação. Mantenho minha política de tolerância zero
com o crime ambiental. Juntamente com o Congresso Nacional, buscamos a
regularização fundiária, visando identificar os autores desses crimes.
Lembro que a Região Amazônica é
maior que toda a Europa Ocidental. Daí, a dificuldade em combater, não só os
focos de incêndio, mas também, a extração ilegal de madeira e a biopirataria.
Por isso, estamos ampliando e aperfeiçoando o emprego de tecnologias e
aprimorando as operações interagências, contando, inclusive, com a participação
das Forças Armadas.
O nosso Pantanal, com área maior
que muitos países europeus, assim como a Califórnia, sofre dos mesmos
problemas. As grandes queimadas são consequências inevitáveis da alta
temperatura local, somada ao acúmulo de massa orgânica em decomposição.
A nossa preocupação com o meio
ambiente vai além das nossas florestas. Nosso Programa Nacional de Combate ao
Lixo no Mar, um dos primeiros a serem lançados no mundo, cria uma estratégia
para os nossos 8.500 km de costa.
Nessa linha, o Brasil se esforçou
na COP25 em Madri para regulamentar os artigos do Acordo de Paris que permitiriam
o estabelecimento efetivo do mercado de carbono internacional. Infelizmente
fomos vencidos pelo protecionismo.
Em 2019, o Brasil foi vítima de
um criminoso derramamento de óleo venezuelano, vendido sem controle,
acarretando severos danos ao meio ambiente e sérios prejuízos nas atividades de
pesca e turismo.
O Brasil considera importante
respeitar a liberdade de navegação estabelecida na Convenção das Nações Unidas
sobre o Direito do Mar.
Entretanto, as regras de proteção
ambiental devem ser respeitadas e os crimes devem ser apurados com agilidade,
para que agressões como a ocorrida contra o Brasil não venham a atingir outros
países.
*
Não é só na preservação ambiental
que o país se destaca. No campo humanitário e dos direitos humanos, o Brasil
vem sendo referência internacional pelo compromisso e pela dedicação no apoio
prestado aos refugiados venezuelanos, que chegam ao Brasil a partir da
fronteira no estado de Roraima.
A Operação Acolhida, encabeçada
pelo Ministério da Defesa, recebeu quase 400 mil venezuelanos deslocados devido
a grave crise político- econômica gerada pela ditadura bolivariana.
Com a participação de mais de
4.000 militares, a Força Tarefa Logística- Humanitária busca acolher, abrigar e
interiorizar as famílias que chegam à fronteira.
Como um membro fundador da ONU, o
Brasil está comprometido com os princípios basilares da Carta das Nações
Unidas: paz e segurança internacional, cooperação entre as nações, respeito aos
direitos humanos e às liberdades fundamentais de todos. Neste momento em que a
organização completa 75 anos temos a oportunidade de renovar nosso compromisso
e fidelidade a esses ideais. A paz não pode estar dissociada da segurança.
A cooperação entre os povos não
pode estar dissociada da liberdade. O Brasil tem os princípios da paz,
cooperação e prevalência dos direitos humanos inscritos em sua própria
Constituição, e tradicionalmente contribui, na prática, para a consecução
desses objetivos.
O Brasil já participou de mais de
50 operações de paz e missões similares, tendo contribuído com mais de 55 mil
militares, policiais e civis, com participação marcante em Suez, Angola, Timor
Leste, Haiti, Líbano e Congo.
O Brasil teve duas militares
premiadas pela ONU na Missão da Republica Centro-Africana pelo trabalho contra
violência sexual.
Seguimos comprometidos com a
conclusão dos acordos comerciais firmados entre o Mercosul e a União Europeia e
com a Associação Europeia de Livre Comércio. Esses acordos possuem importantes
cláusulas que reforçam nossos compromissos com a proteção ambiental.
Em meu governo, o Brasil,
finalmente, abandona uma tradição protecionista e passa a ter na abertura
comercial a ferramenta indispensável de crescimento e transformação.
Reafirmo nosso apoio à reforma da
Organização Mundial do Comércio que deve prover disciplinas adaptadas às novas
realidades internacionais.
Estamos igualmente próximos do
início do processo oficial de acessão do Brasil à OCDE. Por isso, já adotamos
as práticas mundiais mais elevadas em todas as áreas, desde a regulação
financeira até os domínios da segurança digital e da proteção ambiental.
No meu primeiro ano de governo,
concluímos a reforma da previdência e, recentemente, apresentamos ao Congresso
Nacional duas novas reformas: a do sistema tributário e a administrativa.
Novos marcos regulatórios em
setores-chave, como o saneamento e o gás natural, também estão sendo
implementados. Eles atrairão novos investimentos, estimularão a economia e
gerarão renda e emprego.
O Brasil foi, em 2019, o quarto
maior destino de investimentos diretos em todo o mundo. E, no primeiro semestre
de 2020, apesar da pandemia, verificamos um aumento do ingresso de
investimentos, em comparação com o mesmo período do ano passado. Isso comprova
a confiança do mundo em nosso governo.
O Brasil tem trabalhado para, em
coordenação com seus parceiros sul-atlânticos, revitalizar a Zona de Paz e
Cooperação do Atlântico Sul.
O Brasil está preocupado e repudia
o terrorismo em todo o mundo.
Na América Latina, continuamos
trabalhando pela preservação e promoção da ordem democrática como base de
sustentação indispensável para o progresso econômico que desejamos.
A liberdade é o bem maior da
humanidade.
Faço um apelo a toda a comunidade
internacional pela liberdade religiosa e pelo combate à cristofobia.
Também quero reafirmar minha
solidariedade e apoio ao povo do Líbano pelas recentes adversidades sofridas.
Cremos que o momento é propício
para trabalharmos pela abertura de novos horizontes, muito mais otimistas para
o futuro do Oriente Médio.
Os acordos de paz entre Israel e
os Emirados Árabes Unidos, e entre Israel e o Bahrein, três países amigos do
Brasil, com os quais ampliamos imensamente nossas relações durante o meu
governo, constitui excelente notícia.
O Brasil saúda também o Plano de
Paz e Prosperidade lançado pelo Presidente Donald Trump, com uma visão
promissora para, após mais de sete décadas de esforços, retomar o caminho da
tão desejada solução do conflito israelense-palestino.
A nova política do Brasil de
aproximação simultânea a Israel e aos países árabes converge com essas
iniciativas, que finalmente acendem uma luz de esperança para aquela região.
O Brasil é um país cristão e
conservador e tem na família sua base. Deus abençoe a todos!
E o meu muito obrigado!
FOLHAPRESS
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