Em pouco mais de 100 anos, Juazeiro do Norte se tornou uma das principais cidades do interior do Nordeste.
Neste curto intervalo de ‘vida’, o crescimento desenfreado da cidade
criou desafios e o tráfego de veículos é um deles. Por isso, o projeto do Anel
Viário do Cariri, que chegou a 80% de avanço nas obras, se tornou uma
importante alternativa para desafogar o trânsito e trazer desenvolvimento
econômico.
Com 270 mil habitantes, a terra do Padre Cícero é notabilizada pelo
setor de Comércio e Serviços, que detém 86% do Produto Interno Bruto (PIB),
assim como a Indústria, principalmente pelas fábricas de calçados, semijoias e
alumínio, que concentra 12% deste mesmo indicador.
Juazeiro do Norte também tem a segunda maior frota de veículos do Ceará,
com 127.956 unidades registradas. O número superior ao de Caucaia, por exemplo,
que tem 99.062, mesmo tendo uma população muito superior, 362.400 habitantes
contra 274.207, segundo a última estimativa do IBGE. A média de veículos por
morador na terra de Padre Cícero chega a superar Fortaleza. São 2,14 habitantes
para cada veículo, enquanto a capital cearense tem uma média de 2,29.
É neste contexto de ampla expansão e intenso fluxo de pessoas e veículos
que surge o projeto do Anel Viário do Cariri, realizado pela Superintendência
de Obras Públicas (SOP), que já finalizou a entrega de três trechos, que somam
8,56 km de via pavimentada, com dois viadutos, além de canteiro central com
bueiros, ciclovias, passeios acessíveis, iluminação e sinalizações horizontal e
vertical.
De acordo com o superintende da SOP, Quintino Vieira, o objetivo é
facilitar a mobilidade urbana no eixo principal da Região Metropolitana do
Cariri, formado por Juazeiro do Norte, Crato e Barbalha, que, juntos,
contabilizam quase meio milhão de habitantes. “Isso se dá através de vertentes
como redução de distâncias a estruturas importantes para a parte econômica e
social da região, como campi acadêmicos, centros de negócios e fábricas, e
também melhor plataforma para o transporte de cargas, ajudando a desafogar o
trânsito da região central”, explica.
Atualmente, o Anel Viário está na quarta etapa, que vai do entroncamento
da CE-292, entre Crato e Juazeiro do Norte, ao da CE-060, entre Juazeiro do
Norte e Barbalha. Ao todo, são 6,84 quilômetros de via, num investimento total
de R$ 40,5 milhões, com recursos do Governo do Ceará e do Banco Interamericano
de Desenvolvimento (BID). No entanto, o projeto ainda prevê os trechos 5 e 6,
da Avenida Leão Sampaio (CE-060) ao Aeroporto e, dele, ao trecho 1, próximo à saída
para a Rodovia Padre Cícero.
A professora da Universidade Federal do Cariri (UFCA), Lucimar Santiago,
doutora em Engenharia de Transportes, ressalta que estas obras sempre trarão
impactos, mas a decisão de fazê-las ou não é delicada pelo custo-benefício. “É
muito efetiva na questão do fluxo de transporte. Na medida em que as cidades
vão crescendo, cria-se novas necessidades. Com ela, o transporte de carga não
precisa passar pelo núcleo urbano. No caso de Juazeiro, já estão intensificados
nas avenidas Padre Cícero (CE-292) e Leão Sampaio (CE-060)”, detalha.
Desenvolvimento
“Vão sendo criadas ruas nestas regiões. É uma mudança no processo
socioeconômico. Com o tempo, o tecido vai ficando adensado e seriam necessários
novos anéis viários”.
Como exemplo, Lucimar cita a cidade de Forquilha, na região Norte, que
era um distrito de Sobral e, após a estruturação da BR-222, cresceu
economicamente a ponto de se tornar um novo município cearense.
No bairro Campo Alegre, por exemplo, uma das localidades que mais
carecem de infraestrutura, os moradores aguardam que a nova etapa do projeto,
interligando a CE-060 até o Aeroporto, traga desenvolvimento. “A maioria das
ruas não tem pavimentação, esgotamento sanitário e iluminação pública. O ponto
de ônibus mais próximo fica a 20 minutos a pé”, desabafa o comerciante Deivid
Barbosa, que mora ali há um ano. “Com o Anel Viário, a gente espera que
valorize”, completa.
Peculiaridades
Juazeiro do Norte, como a maioria das cidades, não foi pensada. O
planejamento urbano acontece no processo de desenvolvimento. “O ideal era cada
cidade ter planejamento de médio, curto e longo prazos. Juazeiro cresceu muito
e muito rápido em 100 anos. A gente chama ‘crescer’ mesmo. O ideal era
desenvolver. A população vai ocupando espaço e o poder público não consegue dar
conta de organizar”, enfatiza a professora.
O turismo religioso é outra característica peculiar da cidade. “As
romarias acontecem continuamente, mas quando tem as grandes romarias, a cidade
muda. A característica do tráfego muda. As pessoas evitam de se deslocar por
determinadas ruas. Mexe com o cotidiano das pessoas”. Como grande centro
comercial, pessoas de outros municípios vão até Juazeiro do Norte fazer
compras. “Há também o processo de conurbação. Barbalha, por exemplo, tem um
centro médico muito forte. Crato e Juazeiro se autoinfluenciam. Muitas pessoas
moram em uma cidade e trabalham na outra. Isso é muito intenso. O Anel Viário
vai facilitar muito”, avalia.
Tráfego
Quintino Vieira acredita que, até agora, os três trechos entregues do
Anel Viário têm cumprido seu papel. “Dividiu o trânsito que era concentrado na Avenida
Padre Cícero, fazendo com que as pessoas que vêm de Fortaleza a Crato não
tenham mais obrigatoriedade de passar pelo Centro de Juazeiro.
Foto: Antonio Rodrigues
Por Antonio Rodrigues
Fonte: Diário do Nordeste
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