Segundo depoimentos colhidos pela Justiça junto ao Ministério Público de Goiás e à Polícia Civil, o padre Robson Oliveira Pereira, de 46 anos, que comandava a Basílica do Divino Pai Eterno, em Trindade-GO, teve dois casos amorosos, sendo um com um dos hackers envolvidos na extorsão.
Reprodução.
Ao todo o padre pagou R$ 2,9
milhões com dinheiro da Associação dos Filhos do Divino Pai Eterno (Afipe) em
troca do arquivamento das mídias. Foi esse processo que desencadeou a operação
que investiga desvio de doações de fiéis.
Investigado por supostamente ter desviado cerca de R$60 milhões em
doações de fiéis, o padre Robson de Oliveira Pereira negou ter praticado
qualquer atividade criminosa e disse que
todo o dinheiro recebido por associações católicas fundadas e presididas por
ele foi usado para a evangelização.
O religioso, que é considerado
celebridade e costuma reunir multidões em suas missas pelo Brasil, publicou um
vídeo nas suas redes sociais no sábado (22) se pronunciando pela primeira vez
sobre uma operação do Ministério Público de Goiás que fez apreensões em
endereços ligados a ele na última sexta (21).
"Sexta foi um dia corrido, pesado, e devido à situação na qual eu
fui colocado eu entendi que o melhor caminho seria me afastar temporariamente
da reitoria do Santuário Basílica de Trindade e também da presidência da Afipe.
Eu sempre estive e continuo à disposição do Ministério Público", declarou
o pároco.
"Esse meu pedido de
afastamento vai me permitir colaborar com as apurações da melhor forma e com
total transparência para que seja confirmado que toda a doação que fazemos ao
Pai Eterno, terços rezados, dinheiro doado, tempo, carinho, trabalho empregados
na evangelização foi toda –repito– toda empregada na própria associação, a
Afipe, em favor da evangelização", continuou.
O padre Robson era, até este final de semana, presidente da Associação
Filhos do Pai Eterno (Afipe) e de outras duas associações investigadas. Era
também reitor da Basílica do Divino Pai Eterno, em Trindade (a 23 km de
Goiânia), santuário que atraiu 3 milhões de fiéis para a festa do Divino Pai
Eterno no ano passado.
INVESTIGAÇÕES
Segundo as investigações do Ministério
Público, essas instituições vêm sendo geridas como empresas, envolvendo
movimentações financeiras que somam R$ 1,7 bilhão, a compra e venda de casas,
apartamentos e fazendas em diversos estados e a exploração de atividades como
agropecuária e mineração, inclusive por meio de supostos laranjas.
Parte dos valores doados estariam
sendo usados para pagar despesas pessoais dos envolvidos e não para propósitos
religiosos, dizem os promotores, como a compra de uma casa de luxo de R$ 2
milhões na Praia de Guarajuba, na Bahia. Os crimes apurados são organização
criminosa, apropriação indébita, lavagem de dinheiro, falsificação de
documentos e sonegação fiscal.
"Não existe nenhuma má
intenção, nenhuma atividade criminosa, nenhuma atitude [ilícita]. Agora, são
números altos? São. Os números é que me condenam? Não. Porque tudo que a Afipe
faz é dentro da regra, da finalidade e da lei", disse o pároco ao
Fantástico, da TV Globo, no domingo (23).
A justificativa do padre e da
defesa da Afipe é de que o dinheiro das doações foi investido legalmente em
imóveis e outras atividades econômicas para gerar mais dinheiro para a
evangelização, em vez de ser aplicado em um banco, por exemplo.
"Entendemos que a melhor
coisa seria: vamos fazer investimentos imobiliários, compramos fazendas, gados,
fizemos investimentos que são totalmente dentro das finalidades da entidade, e
por isso totalmente lícitos, e por isso a gente foi fazendo. Chegamos a um
patamar grande", disse o religioso ao programa.
Segundo a associação o dinheiro é
empregado principalmente na construção de uma nova basílica com capacidade para
6.000 pessoas em Trindade, que está sendo erguida há oito anos, e no
conglomerado de mídia que inclui a TV e a rádio Pai Eterno, entre outras ações.
As doações são feitas por boleto, cartão de crédito ou transferência.
A investigação já dura três anos
e começou depois que o padre foi extorquido em 2017. Ele pagou R$ 2 milhões a
cinco pessoas que hackearam seu computador e seu celular e ameaçaram divulgar
imagens e mensagens com informações pessoais, amorosas e profissionais, segundo
o Ministério Público –cinco pessoas foram condenadas.
A alta quantia acendeu o alerta do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de
Combate ao Crime Organizado), que passou a apurar a origem do dinheiro que o
padre deu aos criminosos. A partir daí, o órgão teria descoberto "uma
grande teia de movimentações financeiras", disse o promotor Sebastião
Marcos Martins.
Ao Fantástico, o padre Robson
admitiu ter usado o dinheiro da Afipe no resgate. "Porque eu mesmo não
tenho condições financeiras para atender esse tipo de pedido que foi
feito", disse, alegando que todos os pagamentos foram monitorados pela
polícia. "O processo ainda está em andamento, os valores estão retornando
para a associação", afirmou.
Questionado sobre o fato de que a
diretora financeira da entidade, Rouane Carolina, e mais dois homens sacaram
mais de R$ 109 milhões em dinheiro vivo das contas da Afipe ao longo de dez
anos, o pároco respondeu que não sabia. "Eu não tenho conhecimento disso,
acho que precisa ser apurado para entender se é uma suposição ou uma
verdade."
Neste domingo, a Arquidiocese de
Goiânia suspendeu temporariamente o uso de ordens do padre, "considerando
a necessidade de prevenir escândalos, garantir o curso da justiça e tutelar a
fé". Isso significa que por enquanto ele não pode celebrar missas nem
absolver pecados, por exemplo.
A reportagem vem tentando contato
com a Afipe por telefones e e-mails desde sábado, mas não obteve resposta.
Com informações da Folhapress
0 Comentários