A taxa de transmissão de casos de covid-19 no Brasil chegou a 1,01 em 9 de agosto, segundo estudo divulgado nesta semana pela universidade Imperial College, do Reino Unido. O dado está em queda em relação à semana anterior, mas ainda indica que a doença está em expansão.
Acácio Pinheiro/Agência Brasília.
Uma taxa de 1,01 significa que
cada 100 pessoas infectadas pelo novo coronavírus transmitem a doença para
outras 101 pessoas, e que, portanto, o número de novos doentes continua
crescendo. Na semana passada, o indicador do país era de 1,08 - uma transmissão
de 108 novos casos a cada 100.
O relatório do Imperial College
trouxe nesta semana dados sobre 69 países em que a transmissão da doença é
considerada ativa. Na semana passada, havia 65 países nesse grupo. Para ser
considerado na pesquisa, é preciso ter ao menos 100 mortes reportadas desde o
início da pandemia e pelo menos 10 em cada uma das duas últimas semanas.
As maiores taxas de transmissão
foram estimadas para a Palestina, com 1,69, e para Porto Rico e Japão, ambos
com 1,55. Já as menores taxas estão na Espanha (0,42), Suécia (0,51) e Egito
(0,51). Dos 69 países pesquisados, 34 ainda apresentam uma taxa de transmissão
maior do que um, e 35 chegaram ao patamar em que 100 casos geram menos que 100
novas infecções.
A taxa de 1,01 inclui o Brasil na
lista dos países com pandemia classificada como "estável ou crescendo
lentamente". Na América do Sul, a maioria dos países se encontra neste
mesmo grupo, com exceção do Equador, onde há declínio (0,82), e da Argentina,
onde a taxa está em crescimento (1,22).
Com a taxa de transmissão
estimada para o Brasil, o estudo prevê que o país pode ter cerca de 7,4 mil
mortes por covid-19 nos sete dias seguintes da pesquisa, divulgada ontem. O
número é o maior entre os 69 países pesquisados, lista que não inclui os
Estados Unidos.
Dados regionais
A queda na taxa de transmissão a
nível nacional também vem sendo observada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz),
que mantém um painel de dados com informações a nível estadual e municipal. A
doutora em matemática e pesquisadora da Fiocruz Bahia, Juliane Oliveira,
destaca que quaisquer avaliações sobre o controle da pandemia no Brasil
devem priorizar os dados mais locais que estiverem disponíveis.
"O Brasil é um país bem
heterogêneo", define. "O ideal é olhar a menor região possível, pela
questão das heterogeneidades. Olhar a nível de estadual é muito melhor do que
olhar o país como um todo", afirma Juliane Oliveira, pós-doutoranda no
Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs/Fiocruz) e uma
das responsáveis pela modelagem matemática da Rede CoVida, que exibe os dados.
Enquanto o Brasil tem taxa de
transmissão 1,01, é possível observar no painel da Fiocruz que há estados acima
desse patamar. No Rio Grande do Sul, no Mato Grosso do Sul e em Tocantins, por
exemplo, a taxa está em 1,2 - cada 100 casos gerando 120 novas infecções. Já no
Amazonas e no Pará, a taxa está em 0,9, indicando queda no ritmo da pandemia,
com 100 casos gerando novos 90.
A pesquisadora explica que a
série histórica da taxa de transmissão demonstra que as medidas de isolamento
social produziram uma queda na taxa de transmissão no início de abril.
Em São Paulo, por exemplo, a taxa
caiu de 2,1 em 5 de abril para 0,8 em 8 de abril. Após uma nova subida, a
transmissão chegou a 1,3 em 14 de abril, patamar que foi mantido até o início
de junho. Na semana passada, São Paulo tinha uma taxa de transmissão de 1,1,
segundo o painel da Rede CoVida.
No Rio de Janeiro, a taxa fechou
março em 2,4, com 100 casos gerando 240 novas infecções. Já nos primeiros dias
de abril, ela se estabilizou em 1,4, e, desde o início de julho, está em 1,0.
"Com as medidas que foram
implementadas em março, você vê uma queda na taxa de transmissão, mas que ainda
não foi o suficiente para estar abaixo de um", avalia Juliane Oliveira.
A pesquisadora analisa que as
medidas de isolamento chegaram antes da explosão de casos em alguns estados,
como na Região Sul e em Minas Gerais, o que fez com que a pandemia crescesse de
forma mais lenta que nos primeiros estados atingidos, como São Paulo, Rio de
Janeiro e Amazonas. Na visão dela, porém, perdeu-se uma oportunidade de adotar
medidas de rastreio que cortassem a transmissão e impedissem que esses estados
tivessem o crescimento da pandemia que foi observado mais recentemente, a
partir da flexibilização.
"Faltou a questão do
rastreio de casos. Não adianta fazer as medidas de distanciamento sem ter o
rastreio e o isolamento de casos. Quando você rastreia e isola, você corta a
transmissão", afirma. "Quando abriram, começou a subir de novo,
porque ainda não se tinha o controle dos casos".
Agência Brasil
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