As infecções por Covid-19 no Ceará já ultrapassam os 205 mil casos, e embora a velocidade de contaminação esteja mais estabilizada, o vírus segue se propagando. No Estado, uma comparação dos registros da doença por grupos etários (de 10 em 10 anos), entre junho e agosto, aponta que pessoas de 20 a 29 anos foram, proporcionalmente, as que mais tiveram novas contaminações pela doença.
Médicos ressaltam a exposição de jovens e reforçam que a pandemia não acabou (Helene Santos/Diário do Nordeste).
Em 1º de junho – dia da reabertura gradual das
atividades econômicas -, do total de contaminados, 14,61% eram deste grupo
etário. No dia 15 de agosto, subiu para 16,97%. Em números absolutos, até a
data, 201.772 pessoas foram contaminadas, sendo 34.246 com idade entre 20 e 29
anos. Este é o maior crescimento proporcional do período e fez com que esse
grupo fosse o terceiro de maior incidência da doença no Estado. Pessoas com 30
a 39 anos, seguidas pelas de 40 a 49 anos, ainda são as mais contaminadas.
Os dados constam na plataforma IntegraSUS da
Secretaria Estadual da Saúde (Sesa). Conforme análise feita pelo SVM, outros
dois grupos etários que também tiveram crescimento proporcional, no intervalo
de tempo analisado, no Estado foram os de 10 a 19 anos, e de crianças de 0 a 9
anos. Apesar do aumento, estes dois grupos não estão entre os que mais têm
casos.
Não há resposta única e definitiva sobre o que
tem provocado esse aumento. O acréscimo de casos pode ser resultado de vários
fatores, como: os jovens estarem mais expostos nas ruas em decorrência da idade
ativa para o mercado de trabalho; reduzirem os cuidados sanitários por terem
percepções menos drásticas do que a pandemia pode provocar às pessoas mais
novas; e também representarem a população mais numerosa do Estado, dentre
outros. No Ceará, é preciso considerar que o maior número de habitantes tem
justamente entre 20 e 29 anos, conforme o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). Dos 9.194.363 de residentes no Estado, segundo projeção do
órgão, 17,02% são jovens deste grupo etário.
A alta na contaminação dos jovens é um perigo
para os próprios indivíduos e também um alerta porque pode repercutir na
infecção de pessoas mais velhas e mais vulneráveis. Por isso, profissionais da
saúde reforçam: apesar de as evidências indicarem que as infecções em jovens
são menos severas, esta população não pode relaxar nas medidas de segurança no
momento em que o Ceará, de modo geral, tem alcançado um certo controle da
propagação do vírus.
Efeitos
“A menor probabilidade de ter casos mais graves,
não quer dizer que não tenha nenhuma ocorrência. E se tem muita gente se
infectando, isso pode resultar, sim, em mais mortes. Se você multiplicar o
número de infectados por mil, por 10 mil, isso é considerável”, avalia o
infectologista do Hospital São José e professor da Universidade de Fortaleza,
Keny Colares.
Além disso, Keny explica que ainda não se
conhece com precisão os efeitos da Covid tanto na fase aguda, como
posteriormente. Portanto, ter menos gravidade nos casos entre jovens não
assegura que as sequelas nesta população não existam. Outro dilema da
contaminação de jovens é a repercussão secundária que pode gerar risco para
outras pessoas como pais, avós, familiares mais velhos.
“Devemos continuar tentando separar aquilo que é
essencial do que pode ser adiado. Para não retroceder. Esse processo de
reabertura tem que continuar sendo lento e planejado. Se perdermos o controle
(da doença), vamos perder essa liberdade que vem sendo conquistada”, alerta.
Óbitos
O aumento da incidência de Covid nesta
população, conforme as evidências científicas vêm demonstrando devido à menor
gravidade dos casos e os dados apontam, não se traduz diretamente em
crescimento de mortes. Os óbitos por Covid-19, no Ceará, ocorrem predominantemente
entre os idosos.
Os grupos com maior quantidade de mortes,
conforme dados do Integrasus analisados até o dia 15 de agosto, são de 80 anos
ou mais (31,20%), 70 a 79 anos (25,32%) e 60 a 69 anos (18,14%). A cada 100
pessoas mortas por Covid no Ceará, uma tinha entre 20 e 29 anos até o dia 15
deste mês.
O médico infectologista e professor da
Universidade Estadual do Ceará e Universidade de Fortaleza, Érico Arruda,
aponta que é interessante observar a dinâmica de mudanças na contaminação por coronavírus.
Ele reitera que os jovens proporcionalmente, de fato, têm menor gravidade da
doença. Mas isto não descarta a necessidade de cuidados e preocupação. Tampouco
garante total conhecimento sobre o comportamento da doença e os impactos
futuros.
“Os jovens têm mais mobilidade e eles têm grupos
sociais com maior número de pessoas. Jovens encontram mais pessoas. E isso, de
fato, implica em aproximação. À medida que vamos abrindo a possibilidade de
reencontro, isso pode ter uma repercussão epidemiológica”, acrescenta.
Érico também reforça que “o jovem por natureza
se sente invulnerável. É preciso fortalecer a informação que a epidemia não
acabou. Esta tranquilidade em nosso Estado, e isso é algo que nos traz uma
expectativa no nível de baixa carga de doença, depende de todo mundo continuar
atento, mantendo as medidas de higiene”.
O infectologista orienta que se nesse momento de
relaxamento o jovem precisar sair, encontrar algum grupo, o ideal é adotar a
ideia de bolha, uma espécie de grupo restrito de contatos. “Quando você tem uma
enorme bolha é muito difícil o controle. Na bolha pequena, ele preserva o
grupo. É mais fácil. Ao invés de ter uma bolha de 50 pessoas, tem uma de 10. Um
grupo que, se for encontrar, vai mantendo as ações sanitárias. Onde uma pessoa
está se sentido mal, gripado, pode dizer que não vai e as demais terem essa
ideia de controle”.
Fonte:
Diário do Nordeste
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