Com o cenário de pandemia ainda instalado, partidos políticos no Ceará estão se adaptando para realizar as convenções partidárias em um formato inédito, sem aglomerações características dos eventos de anúncio de candidaturas e de formação de coligações para chapas majoritárias. Entre os modelos permitidos pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), estão o presencial e o virtual, com a possibilidade ainda de uma junção entre os dois. Dirigentes de agremiações dizem que o principal desafio é engajar os apoiadores virtualmente, já que, no formato tradicional, eles tornam os eventos uma grande 'festa'.
O período de convenções para anúncio de candidaturas começa amanhã (31) em todo o País e vai até 16 de setembro. Mesmo com a proximidade do período, alguns partidos ainda negociam alianças, em especial na Capital.
Mesmo as legendas que optarem por uma convenção presencial não poderão ter aglomerações e deverão obedecer as regras sanitárias vigentes. Já os que optarem pelo modelo virtual terão autonomia para escolher ferramentas tecnológicas, além de maior flexibilização para registro de presenças na ata do evento.
Para tentar ter êxito entre filiados e população, as agremiações começaram a capacitar pré-candidatos a utilizar melhor as redes sociais, além de apostarem em engajar a militância. Para alguns dirigentes cearenses, a pandemia também ajudou na adaptação aos formatos virtuais.
O termômetro desse
engajamento, no entanto, só poderá medido durante as convenções. Muitos
partidos devem apostar em 'lives' nas redes sociais para alcançar público.
Apesar disso, as transmissões ao vivo não poderão contar com apresentação de
artistas, remunerados ou não. A determinação foi anunciada pelo TSE na última
sexta-feira (28), após consulta do Psol.
Estratégias
Entre as principais
estratégias dos partidos para alcançar o eleitorado, está a mobilização de
filiados na captação de apoiadores para assistir às 'lives' e anunciar os
candidatos após os eventos. As legendas também têm buscado orientar
pré-candidatos sobre como devem se comportar no momento da convenção e após o
evento, para evitar deslizes que possam caracterizar ilícitos eleitorais.
Algumas agremiações vão
além e também opinam sobre como os pretensos postulantes devem se vestir, com
alguma cor que remeta à legenda, sobre a montagem de cenários para 'lives',
criação de adesivos e personalização de máscaras. Os métodos pretendem ajudar
na identificação dos candidatos, de seus apoiadores e de seu campo ideológico.
Além disso, dirigentes
acreditam que os eventos serão mais baratos para as agremiações neste ano, pois
exigirão menos aparatos físicos. Até os que vão alugar um espaço estimam uma
queda no valor a ser gasto. Os que irão aderir ao modelo virtual dizem que o
custo é quase zero.
Capital
Sem data ainda definida,
o PSD espera uma sinalização do principal aliado em Fortaleza, o PDT, para
marcar a convenção municipal, que deve ser feita em caráter semipresencial.
"A orientação do diretório nacional é realizar no dia 5 de setembro.
Talvez a gente autorize a comissão da executiva municipal a lançar todos os
vereadores no dia 5 e delegar à executiva municipal as articulações majoritárias,
já que deve ser apoio", explica Domingos Filho, presidente estadual do
partido.
O PDT, aliás, informou
apenas que a convenção deve ser realizada no dia 12 de setembro, sem dar nenhum
detalhe. Enquanto a definição do aliado não vem, Domingos Filho diz que o PSD
já realizou simulação de uma convenção com dirigentes e pré-candidatos, com
apoio de empresa de suporte técnico.
Já o PT ainda não
definiu o modelo da convenção, apesar de estar agendada, em Fortaleza, para o
dia 13 de setembro. O partido tem a deputada federal Luizianne Lins como
pré-candidata, mas vive impasses sobre alianças, já que o governador Camilo
Santana defende união com o PDT. Enquanto isso, a sigla tenta engajar
militâncias e pré-candidatos para convenção. "A gente tem adotado duas
estratégias para fazer essa mobilização: debates com a população e
fortalecimento da chapa de vereadores", afirma o vereador Guilherme
Sampaio, presidente do PT Fortaleza.
O presidente do Pros no
Ceará, deputado federal Capitão Wagner, diz que a convenção virtual, a ser
realizada no dia 7 de setembro, não preocupa porque a legenda já vem
mobilizando os filiados, mas reconhece que deve haver menos
"vibração". O nome dele deve ser confirmado para a disputa. "O
desafio é mobilizar os filiados, mas nós já temos feito isso de forma
antecipada e estamos bem seguros. Além disso, a gente quase não deve ter
despesa", ressalta.
O PSL também realizaria
a convenção na Capital no dia 7 de setembro, mas, após o anúncio de liberação
de eventos com até 100 pessoas pelo Governo do Estado, decidiu transferir a
data para 14 de setembro. O presidente da agremiação, deputado federal Heitor Freire,
deve anunciar candidatura a prefeito em evento presencial. "Estamos nos
preparando para atender a todas as orientações sanitárias. Naturalmente,
teremos custos com aluguel de espaço, mas isso ainda está em definição".
Indefinições
Diferentemente dos
demais, o PSDB ainda não tem uma data definida nem um modelo. Para o presidente
do diretório tucano em Fortaleza, Carlos Matos, que também é apresentado como
pré-candidato, o maior desafio para a legenda será despertar interesse na
população para os eventos. Matos também admite que sua candidatura é incerta.
"Se for no modelo
virtual, o PSDB está bem preparado. Temos uma equipe técnica fazendo esse
trabalho de articulação digital. As articulações sobre candidaturas ainda estão
ocorrendo, até a convenção a gente decide", explica.
Outro que não tem data
definida nem modelo para o evento na Capital é o PCdoB. A legenda deve anunciar
Professor Anízio como candidato a prefeito. "A ideia é realizar a
convenção no último fim de semana do prazo, para ter mais tempo de se
organizar. Numa situação normal, é uma verdadeira festa e isso afeta, mas temos
estimulado a organização dos filiados", detalha Luís Carlos Paes,
presidente estadual da sigla.
O Psol também vê o
cenário atual como um desafio. O partido definiu a data da convenção para 5 de
setembro, em modelo híbrido, com os membros da Executiva Municipal na sede do
partido e os candidatos em casa. A legenda deve confirmar o nome do deputado
estadual Renato Roseno à disputa. "O desafio é o fato de não realizar (de
modo) presencial como era antes, mobilizar gente sem olhar no olho, mas estamos
conseguindo mobilizar", afirma Ailton Lopes, que preside o partido no
Ceará.
Atuação deve ser mais
intensa nas redes sociais
De olho no pleito deste
ano, parlamentares e pré-candidatos já têm intensificado a presença na redes
sociais na pré-campanha. A atuação de alguns ficou ainda mais forte durante a
pandemia, por conta das restrições sanitárias, e deve se intensificar ainda
mais no período de campanha. É o que avaliam publicitários que atuam com
marketing político entrevistados pela reportagem.
De acordo com eles, as
redes sociais que devem gerar um maior alcance do eleitorado são o Facebook e o
Instagram, além do aplicativo de troca de mensagens WhatsApp. O publicitário
Ricardo Alcântara, especialista em comunicação eleitoral, explica que tal
fenômeno não é novo e tende a ser cada vez mais comum por conta do crescimento
do público nas plataformas digitais.
"Esse é um processo
que vem ocorrendo no Brasil e no mundo inteiro. Nas últimas eleições, isso se
intensificou muito com a eleição do presidente (Jair) Bolsonaro, que foi uma
candidatura que se constituiu praticamente inteira nas redes sociais",
lembra Alcântara.
Ele acrescenta que,
diante disso, políticos da "velha guarda", mais velhos, estão sendo
forçados a se alfabetizar digitalmente para não ficar para trás e se comunicar
com o eleitorado nas diferentes plataformas. Além disso, ele destaca que o
eleitorado também passa a ter um acesso mais fácil aos representantes para
fazer cobranças. Por isso, segundo ele, é como se os políticos "estivessem
em constante campanha".
O publicitário Marcelo
Lavor também observa que, nas redes sociais, é possível segmentar o público e
impulsionar conteúdo de acordo com os interesses dos candidatos. No entanto,
mesmo na pandemia, ele ressalta que, em alguns locais do interior, por exemplo,
a atuação corpo a corpo é mais difícil de ser substituída pelas redes sociais,
porque muitas pessoas não têm acesso à internet.
"São tantas as
possibilidades nas redes sociais, mas é preciso ter estratégias. A população
também está informada. No marketing político, é preciso uma boa estratégia para
não se comunicar de maneira errada e saber o que funciona. Em locais onde o
sinal de internet é muito precário, quase não se usa rede social, o que
funciona para levar a informação é o rádio", pontua Marcelo Lavor.
Fonte: Diário do
Nordeste
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