Documento elaborado pelo Palácio do Planalto e divulgado nesta segunda-feira (10), com dados do último sábado (8), traz em destaque os nomes de governadores e prefeitos das regiões com maior número de casos e óbitos por Covid-19.
Os dados se referem ao
dia em que o Brasil atingiu a marca de 100 mil mortes confirmadas pelo novo
coronavírus. O documento, com nomes de desafetos do presidente Jair Bolsonaro,
foi elaborado pela Secretaria de Governo da Presidência da República e
distribuído a parlamentares da base aliada.
O relatório destaca os
cinco estados que mais registraram casos e óbitos pela doença no sábado. O topo
é ocupado por São Paulo, com 13.352 novos casos, identificado com o nome do
governador João Doria (PSDB) ao lado.
O estado, que é o mais
populoso do país, também aparece na frente do ranking de novos óbitos. O
relatório não traz, porém, nenhuma observação de que são números absolutos –
desconsiderando, portanto, a taxa de mortos e casos por 100 mil habitantes.
Eleitos como aliados em
2018, Doria é atual adversário político de Bolsonaro e já protagonizou embates
públicos com o presidente. Em nota, o governador de SP reagiu à divulgação do
documento.
"Justamente quando
o Brasil atinge a triste marca de 100 mil mortos, vítimas do coronavírus, o
Governo Federal dá mais uma demonstração de desprezo pela vida e politiza a
guerra contra o vírus. A falta de compaixão do Governo Bolsonaro entristece o
País", declarou o político.
Em seguida a São Paulo,
aparecem no ranking de novos casos Rio Grande do Sul, Bahia, Minas Gerais e
Santa Catarina, também com destaque para os governadores – respectivamente,
Eduardo Leite (PSDB), Rui Costa (PT), Romeu Zema (Novo) e Comandante Moisés
(PSL). No caso deste último, porém, apenas a palavra "comandante" aparece
no documento.
Já no ranking de óbitos,
aparecem os estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Goiás, do governador
Ronaldo Caiado (DEM), e Bahia, todos com a indicação dos governadores.
O relatório também traz
um "top 5" dos municípios com total de casos confirmados. O município
de São Paulo, chefiado pelo prefeito Bruno Covas (PSDB). Em seguida, estão
Brasilia, Rio de Janeiro, Salvador e Fortaleza.
Em todos os municípios,
o documento traz os nomes dos prefeitos locais – exceto no caso de Brasília.
Sem prefeito, a cidade é regida pelo governador Ibaneis Rocha (MDB), que tem se
alinhado a Bolsonaro em declarações recentes.
Reação de parlamentares
No Congresso, a lista
gerou reação negativa entre os parlamentares. Reservadamente, mesmo aliados de
Bolsonaro disseram ao G1 que o documento parece uma
"manobra" do governo para retirar a responsabilidade federal das
mortes causadas pela doença.
O vice-líder do PL na
Câmara, deputado Marcelo Ramos (AM), criticou a tentativa de vincular as mortes
e casos aos chefes locais.
"O número de 100
mil é muito forte, muito significativo, está repercutindo muito. Imagino que o
governo tenha pesquisa do impacto negativo disso e esteja tentando criar uma
narrativa de transferir a responsabilidade para os estados", disse.
Já o líder do PSB,
deputado Alessandro Molon (RJ), classificou o documento como uma tentativa do
Executivo de transferir a responsabilidade federal aos governos locais.
"Depois de ter
sabotado todas as medidas que poderiam ter poupado milhares de vidas de
brasileiros, Bolsonaro tenta mais uma vez transferir sua responsabilidade,
apontando o dedo para governadores e prefeitos. Seu comportamento é vergonhoso,
é o contrário do que se espera de um presidente da República", afirmou.
Governo confirma autoria
Em nota, a Secretaria de
Governo confirmou a autoria o documento. Segundo o órgão, vinculado à
Presidência da República, o relatório foi elaborado pela Secretaria Especial de
Assuntos Federativos (SEAF), para "monitorar a disseminação da Covid-19
nos Entes Federativos para auxiliar na articulação do Governo Federal".
“O documento em questão
foi criado para contribuir internamente na gestão de curto prazo de como a
pandemia está se comportando nos Estados e Municípios. Os dados apresentados
são todos públicos e retirados do site do Ministério da Saúde”, diz a nota.
O governo não explicou
por que enviou cópia do relatório a parlamentares da base aliada, e nem por que
identificou os gestores locais, em grande parte opositores de Bolsonaro, nos
gráficos.
Fonte: G1
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