O volume de chuva esperado para
todo o ano no Ceará deve ser atingido ainda ao fim do quarto mês de 2020.
Conforme dados da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos
(Funceme), até ontem (29), a pluviometria acumulada era de 797,2 milímetros, o
que representa 99,6% do volume médio histórico anual (800.6 mm). Com as chuvas
de hoje (30), este índice deve ser superado. O feito deve-se a regularidade e
intensidade das chuvas neste ano. Desde 1973, quando o órgão meteorológico
começou a divulgar, em seu site, os índices pluviométricos, em apenas sete anos
(2020, 2019, 2009, 1994, 1985, 1974 e 1973) as precipitações ficaram acima da
média, consecutivamente, nos primeiros quatro meses de cada ano.
Em 2020, março foi o mês mais
chuvoso, com 275.7 mm, o que representa 35,6% acima da média histórica para o
período. Em seguida aparecem fevereiro (192.2 mm), abril, com 188.8 mm até
ontem (29), e janeiro 142 milímetros. Os bons índices fizeram com que as
precipitações da quadra chuvosa, que se estende até maio, alcançassem a média
mesmo ainda restando 30 dias para o seu término. Até aqui (dia 29 de abril), o
volume observado chegou a 655.3 milímetros. A média da quadra (fevereiro a
maio) gira em torno de 505.6 e 695.8 mm.
Casos as precipitações de maio
sigam o padrão dos meses anteriores, o volume ao fim da quadra chuvosa de 2020
tende a ser o terceiro melhor dos últimos 20 anos, ficando atrás apenas dos
índices contabilizados em 2009, quando choveu 977.1 mm, e em 2008, que
registrou 771.9 mm de precipitações. A média histórica para março é de 90.6
milímetros. No fim de fevereiro, a Funceme divulgou estudo que prevê apenas 20%
de probabilidade de chuvas abaixo da média para o próximo mês de maio. A mesma
previsão foi atribuída aos meses de março e abril. Ao fim de cada período, o
prognóstico se confirmou.
O climatologista do Centro de
Previsão do Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC) do Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (Inpe), Diego Jatobá, acompanha a previsão da Funceme e
analisa que, para o próximo mês, as chuvas devem ficar dentro da média
climatológica no semiárido cearense.
"A manutenção das águas mais
quentes no Oceano Atlântico Tropical mantém atuante a Zona de Convergência
Intertropical que traz chuvas para o Estado", justificou o especialista do
CPTEC.
Na tarde de hoje, dia 30, o órgão
divulga prognóstico de chuva para os meses de maio a julho, em todas as regiões
brasileiras.
A gerente de meteorologia da
Funceme, Meiry Sakamoto, alerta, no entanto, que a primeira quinzena de maio
pode ser de chuvas diminutas no Ceará. Ela destacou que as análises mais
recentes indicam que a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) deve-se
posicionar mais distante da costa cearense e, diante disso, existe maior
possibilidade de redução das chuvas.
"Essa tendência de afastamento
da ZCIT está relacionada às condições oceânicas, que mostram as áreas com
anomalias positivas mais significativas na bacia Atlântico Tropical
Norte", pontuou Meiry Sakamoto.
No entanto, ainda conforme a
especialista, esse quadro pode se modificar ao longo dos dias. "É
importante ressaltar que eventos de Distúrbios Ondulatórios de Leste (DOL)
poderão alcançar o Ceará, trazendo chuvas para algumas regiões do Estado".
Recarga
Os bons volumes registrados em
2020 beneficiam diretamente os reservatórios cearenses. Até ontem, o volume
médio acumulado nos 155 açudes monitorados pela Companhia de Gestão dos
Recursos Hídricos (Cogerh) era de 33,2%, o que representa 6,1 bilhões de metros
cúbicos de água. Este é o melhor índice desde abril de 2013. Atualmente, são 40
reservatórios sangrando. Desde abril de 2009, ano marcado por uma quadra
chuvosa acima da média (1.211,3 mm), o Ceará não tinha tantos reservatórios
sangrando. Em abril daquele ano, o aporte total do Estado marcava mais de 90%.
Maiores aportes
As chuvas deste ano, bem
distribuídas, geraram aporte quase que homogêneo às 12 Bacias do Estado. Na do
Litoral, que acumula 99,65% da capacidade, nove dos 10 reservatórios estão
sangrando. O açude Mundaú, em Uruburetama, único que ainda não excedeu a
capacidade, já apresenta 96,46% do total. A Bacia do Acaraú vive situação
semelhante, com oito dos 15 açudes sangrando.
Já o Açude Orós, segundo maior do
Estado, atingiu 25,25% de sua capacidade, seu melhor volume nos últimos 40
meses. Com capacidade para 1.940 hm³, ele havia iniciado o ano com menos de 5%,
sua pior quantidade nos últimos 16 anos. O reservatório é estratégico para
abastecimento das cidades de Orós, Jaguaribe, Jaguaretama, Pereiro e de
localidades rurais na região do médio Jaguaribe.
Alerta
É nessa região (médio Jaguaribe)
que sinal de alerta está ligado. Por lá a situação ainda é vista com
preocupação, apesar da melhora ao longo deste no. A Bacia acumula 14,25% da
capacidade e 13 dos 15 açudes estão abaixo dos 30% de reserva. O ponto positivo
fica com o Castanhão, principal reservatório do Ceará. O gigante saiu de 2,81%,
no início do ano, para atuais 14,77% da capacidade, marcando um aporte
importante na garantia hídrica de milhares de cearenses. Já a Bacia do
Banabuiú, que tem como principal reservatório o açude homônimo, possui 12 dos
19 açudes abaixo dos 30%.
A região passou por anos de seca
severa, mas vem se recuperando nesta quadra chuvosa. Prova disso é que três dos
reservatórios já excederam sua capacidade - os São José I e II, em Boa Viagem e
Piquet Carneiro. Já o Açude Banabuiú, maior da Bacia e terceiro maior
reservatório cearenses, iniciou o ano com 6,19% e, hoje, marca 11,28%, segundo
dados da Cogerh.
Diário do Nordeste
Por Redação
Miséria.com.br
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