Jair Bolsonaro (sem partido) nomeou nesta
terça-feira (28) o advogado André de Almeida Mendonça para o comando do
Ministério da Justiça, na vaga deixada pelo ex-juiz federal Sergio Moro, que deixou o cargo na
semana passada ao acusar o presidente de interferências na Polícia Federal.
A nomeação de Mendonça foi publicada no
"Diário Oficial da União", assim como a nomeação do delegado
Alexandre Ramagem, amigo dos filhos do presidente, para o comando da Polícia
Federal.
Na segunda-feira (27), a Folha de S.Paulo
antecipou que Mendonça, que estava à frente da AGU (Advocacia Geral da União),
havia sido convidado pelo presidente para substituir o ex-juiz federal Sergio
Moro.
Para o lugar de Mendonça na AGU, Bolsonaro
oficializou o atual procurador-geral da Fazenda, José Levi do Amaral, nome apoiado
pelo ministro da Economia, Paulo Guedes.
Ele foi corregedor da AGU na gestão de Fabio
Medina Osório, no governo Michel Temer. Mendonça chegou ao governo Bolsonaro
por indicação do ministro da CGU (Controladoria Geral da União), Wagner
Rosário, com o apoio da bancada evangélica.
A sua transferência para a Justiça teve o apoio
da cúpula militar e a articulação do presidente do STF (Supremo Tribunal
Federal), José Dias Toffoli. A expectativa agora é a de que ele melhore a
relação de Bolsonaro com o Poder Judiciário.
A transferência de Mendonça fortalece a
indicação de seu nome para uma das duas vagas a que Bolsonaro terá direito de
preencher no STF. O presidente já disse que considera o ministro, a quem se
referiu como "terrivelmente evangélico", a um dos postos.
ACORDOS
A indicação atenderia a um apelo da bancada
evangélica, que pediu ao presidente que um representante deles ocupe um cargo
no Supremo, na tentativa de tornar o perfil da corte mais conservador.
Pelo critério de aposentadoria compulsória aos
75 anos dos ministros do Supremo, as próximas vagas serão as de Celso de Mello,
em novembro deste ano, e Marco Aurélio Mello, em julho de 2021. O presidente
indica o nome, que deve ser aprovado em seguida pelo Senado.
Mendonça conheceu Bolsonaro em 21 de novembro de
2018, no mesmo dia em que foi escolhido para comandar a AGU. A conversa, no
gabinete da transição no CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) de Brasília,
durou cerca de 40 minutos.
O então presidente eleito nada perguntou. Os
questionamentos ficaram a cargo do general Augusto Heleno, que assumiria o GSI
(Gabinete de Segurança Institucional), e de Jorge Oliveira, hoje ministro da
Secretaria-Geral da Presidência –responsável por analisar o currículo de
Mendonça e apresentá-lo ao chefe.
Mendonça costuma dizer que "mais do que
falar, você precisa ouvir para entender a realidade". Naquele dia, no
entanto, ele fez um "bom jockey", disse Bolsonaro, para em seguida
explicar: "Na área militar, quando um cara está indo bem, a gente diz que
está em um bom jockey. Pode continuar!".
Conhecido pelo perfil técnico, Mendonça fez à
ocasião uma aprofundada análise política da eleição de Bolsonaro e seu
significado para os rumos do país.
O futuro AGU disse ao presidente eleito que,
como ele havia se proposto a governar na contramão do presidencialismo de
coalizão, construindo uma nova forma de diálogo e relacionamento com o
Congresso, enfrentaria um período de maior resistência da chamada política
tradicional.
Com a nomeação de Mendonça, a tendência é a de
que Bolsonaro faça uma cisão no Ministério da Justiça e recrie a pasta da
Segurança Pública.
Neste caso, a expectativa de assessores do
presidente é que ele nomeie o secretário de segurança pública do Distrito
Federal, Anderson Oliveira, para a função. Anderson conta com o apoio do
ex-deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF), amigo de Bolsonaro.
AMIGO
DOS FILHOS
Já o novo diretor-geral da Polícia Federal era
diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) e é homem de
confiança do presidente e de seus filhos.
O vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) é
um dos seus principais fiadores e esteve diretamente à frente da decisão que o
levou ao comando da agência de inteligência em junho passado.
O aval do "filho 02" foi conquistado
durante a crise política que levou à saída do então ministro da Secretaria de
Governo, general Carlos Santos Cruz. Ramagem atuava como assessor especial da
pasta e se manteve fiel à família. Santos Cruz caiu após ataques do chamado
"gabinete do ódio" comandado por Carlos.
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