A Justiça do Rio de
Janeiro determinou nesta terça-feira (3) à noite a quebra dos sigilos fiscal e
bancário e bloqueou os bens do sargento da reserva da PM Ronnie Lessa, acusado
de matar a vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes. Ao todo, foi
sequestrado patrimônio de Lessa avaliado em R$ 3,5 milhões, de acordo com
levantamento feito pelo UOL com base em valores atualizados do mercado
imobiliário.
A investigação já
rastreou um patrimônio de ao menos R$ 7 milhões pertencente a Lessa -o valor
envolve apreensões policiais nos últimos meses e a lista completa de
propriedades bloqueadas pela Justiça, que inclui imóveis, terrenos, uma lancha
e um carro blindado. Segundo a Polícia Civil, Lessa ocultou parte da sua
fortuna com o auxílio de "laranjas", que também tiveram os seus
sigilos quebrados. O ex-PM Élcio Queiroz, que responde com Lessa pela morte da
vereadora, também teve os sigilos quebrados.
Em uma ação em
parceria com o Gaeco/MP-RJ (Grupo de Atuação Especial do Combate ao Crime
Organizado do Ministério Público do Rio de Janeiro), o inquérito concluiu que
os valores são incompatíveis com a renda mensal de R$ 7.400 da aposentadoria de
Lessa. O patrimônio do policial aposentado seria o equivalente a 73 anos de
pagamentos integrais recebidos da corporação, incluindo o 13º.
A delegacia
especializada no combate a crimes como corrupção e lavagem de dinheiro,
responsável pelo inquérito, baseou a investigação na análise de relatórios de
inteligência financeira.
Parte do patrimônio
pode ser usada para indenizar os parentes das vítimas do duplo homicídio, em
caso de condenação.
"Verificamos
movimentações atípicas, como depósitos em espécie com valores acima de R$ 100
mil. São indícios de lavagem de dinheiro e da participação de Ronnie Lessa em
outras atividades criminosas, como homicídios encomendados e o envolvimento em
jogos de azar. Agora, vamos verificar a origem desses valores", afirma o
delegado Thiago Neves, responsável pela investigação.
O sargento da reserva
tinha ainda outras fontes de renda. Reportagem do UOL apontou que ele ainda foi
dono de um bingo clandestino e pretendia expandir o seu negócio de distribuição
de água para áreas dominadas pelo tráfico, segundo relatório do MP-RJ.
Entre os
"laranjas" usados por Lessa, estão a esposa, o irmão e um amigo. A
Justiça ainda bloqueou os dados de uma filha dele e do ex-PM Élcio Vieira de
Queiroz, também acusado participar do atentado. A dupla, acusada de cometer o
duplo homicídio, foi presa em março de 2019.
A investigação ainda
irá verificar se há contas bancárias ligadas a Lessa no exterior.
Lessa é dono de um
imóvel luxuoso na Barra da Tijuca, zona oeste carioca, avaliado em pelo menos
R$ 1,2 milhão, com valor atualizado. Entretanto, a Polícia Civil suspeita de
ocultação da propriedade. Durante cumprimento de mandado de busca e apreensão,
os agentes encontraram uma escritura de compra e venda do imóvel, de 7 de julho
de 2015.
Manobras para ocultar
o patrimônio No documento, a propriedade consta como pertencente a Dennis
Lessa, irmão do sargento reformado. Contas de luz, IPTU e certidões do imóvel
também estavam em nome de Dennis. Os comprovantes de pagamento de contas de luz
apareciam na conta-corrente de Elaine, esposa de Lessa.
Documento emitido
pelo Crea-RJ (Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro)
com a autorização de uma obra no imóvel em nome do sargento reformado também
foi anexado ao inquérito. Em 29 de junho de 2015, um dia antes do pagamento do
ITBI (Imposto de Transmissão de Bens Imóveis), Dennis forneceu uma procuração
ao irmão, dando a ele poderes para representá-lo em instituições financeiras.
Uma casa no bairro
Pechincha, zona oeste do Rio, também foi bloqueada. Adquirido em outubro de
2002, o imóvel hoje está avaliado em cerca de R$ 400 mil, segundo estimativa de
duas entidades especializadas na análise do mercado imobiliário.
LANCHA DE AMIGO
DESEMPREGADO
O casal também possui
um terreno de 3.400 metros quadrados no condomínio Portogalo, em Angra dos Reis
(RJ), e outra propriedade em Mangaratiba (RJ). Lessa pagou R$ 600 mil à vista
pelo lote de Angra. Corrigido pela inflação, o valor chega a R$ 718 mil.
O policial aposentado
construiu uma casa no local, onde guardava uma lancha avaliada em R$ 600 mil em
nome de Alexandre Motta de Souza, que está desempregado. Em março de 2019, a
Delegacia de Homicídios da Polícia Civil apreendeu, no imóvel de Alexandre, um
arsenal com peças para montagem de 117 fuzis, um recorde na história do estado.
Segundo a
investigação, ele é um dos "laranjas" usados por Lessa. Para
comprovar a tese, a delegacia especializada no combate à lavagem de dinheiro
anexou ao inquérito o contrato do seguro da lancha, enviado para o endereço do
amigo. Também conta na investigação um documento com o comprovante de pagamento
de pouco mais de R$ 2 mil à Marina de Portogalo, onde ficava a embarcação, efetuado
em uma agência nas imediações do local onde morava Ronnie Lessa.
Lessa também era dono
de um terreno em Mangaratiba (RJ), adquirido em setembro de 2010. Em valores
atuais, o imóvel é avaliado em cerca de R$ 300 mil.
Carro zero e
blindagem pagos à vista De acordo com o inquérito, Elaine Pereira Figueiredo
Lessa, mulher do sargento reformado, pagou R$ 81 mil em dinheiro no dia 30 de
outubro de 2018 para comprar um Jeep Renegade zero quilômetro. Ela ainda
desembolsou outros R$ 40 mil para fazer a blindagem do veículo.
Segundo a
investigação, Elaine não possui renda comprovada ou registro de atividade
profissional no Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), do
Ministério do Trabalho.
FOLHAPRESS
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