O iraniano Farhad Marvizi,
investigado por uma sequência de execuções sumárias praticadas em Fortaleza,
irá a júri pela segunda vez no dia 6 de maio deste ano. Apontado como chefe de
um grupo de extermínio formado por policiais militares, ex-PMs e outros civis,
Marvizi está isolado em uma cela na Penitenciária Federal de Campo Grande, no
Mato Grosso, a 3.300 Km de Fortaleza.
No cárcere, o iraniano
sofre com doenças crônicas, mas ainda é considerado perigoso e sua vinda ao
Ceará para o júri é de alto risco. Por isso, o julgamento sobre a morte do
comerciante e eletricista Francisco Cícero Gonçalves de Sousa, conhecido como
‘Paulo Falcão’, será por videoconferência.
Farhad Marvizi foi
condenado a 20 anos de prisão por ordenar atentado contra um auditor fiscal da
Receita Federal, José de Jesus Ferreira, em dezembro de 2008, no Ceará. O
iraniano foi acusado, também, de comandar uma organização criminosa envolvida
em assassinatos, contrabando, sonegação de impostos e falsificação documental
em Fortaleza.
Amizade
Os casos que envolvem o
estrangeiro e seus comparsas são marcados por falsas amizades, negócios
ilegais, traições e mortes. No caso de Marvizi e Paulo Falcão, o contato
começou no ano de 2008 por um motivo inusitado: altos gastos com contas de
energia elétrica. Além de ter uma pizzaria, Paulo Falcão fazia bicos como
eletricista, e foi apresentado a Marvizi por um amigo em comum dos dois, o
comerciante Carlos José Medeiros Magalhães. Por suas habilidades, Paulo foi
contratado para fazer uma ligação de energia irregular, conhecida popularmente
como ''gato'', em dois imóveis do iraniano nos bairros Meireles, em Fortaleza,
e Porto das Dunas, em Aquiraz.
Inimigo
No entanto, não eram
apenas os gastos com energia que preocupavam o estrangeiro. Farhad Marvizi
“sofria” com as fiscalizações da Receita Federal contra os negócios ilegais de
venda de aparelhos eletrônicos. Tentando burlar o fisco com a compra de
mercadorias sem nota e contrabandeadas, as lojas de Marvizi instaladas em
shoppings da Capital passaram a ser alvo de fiscalizações cada vez mais
intensas da Receita entre os anos de 2006 e 2008, com prejuízos em apreensão de
mercadorias superiores a R$ 1 milhão.
Diante da ofensiva, o
chefe da Divisão de Repressão ao Contrabando e Descaminho da Receita, José de
Jesus Ferreira, passou a ser considerado principal inimigo do iraniano e teve a
morte encomendada por ele. No dia 4 de dezembro de 2008, Tony contratou os
“serviços” de Paulo Falcão para matar o auditor e ofereceu a quantia de R$ 15
mil, dos quais R$ 4 mil foram pagos adiantados.
Cinco dias depois, na
tarde do dia 9 de dezembro de 2008, o plano criminoso foi posto em prática e
Jesus Ferreira foi alvo de uma emboscada no bairro Varjota, em Fortaleza, na
qual sofreu cinco tiros. O auditor, porém, escapou com vida do atentado. Mesmo
sem ter concluído o serviço pelo qual havia sido contratado, Paulo Falcão
passou a cobrar de Marvizi o restante do dinheiro prometido. Com as seguidas
cobranças e por ser conhecedor dos negócios ilegais do grupo criminoso, o
eletricista irritou o iraniano e passou de pistoleiro a alvo.
Conforme a denúncia do
Ministério Público do Estado (MPCE), às 19h40 do dia 2 de junho de 2009, ‘Paulo
Falcão’ foi executado a tiros dentro da pizzaria dele, no bairro Vila Manoel
Sátiro, cerca de seis meses depois de ter tentado matar o auditor da Receita.
Marvizi foi o mandante do crime, mas a ação foi intermediada por Carlos
Medeiros, que contratou o policial militar Ivanildo Mariano Silva para executar
o assassinato.
Denúncias
A análise das
comunicações por meio de celular entre Marvizi, Carlos e Ivanildo colocaram os
três nas imediações da cena do crime e em horários próximos aos do homicídio. O
iraniano e o policial militar Ivanildo foram denunciados por homicídio
qualificado por motivo torpe e com meio que impossibilitou a defesa da vítima.
Para o MP, não resta dúvida de que eles tramaram e executaram Paulo Falcão.
Carlos Medeiros não
chegou a ser denunciado pois foi executado junto com a mulher Maria Elisabeth
Almeida Bezerra, no dia 2 de agosto de 2010, cerca de um ano depois da morte de
‘Paulo Falcão’, também a mando de Marvizi em uma nova queima de arquivo. O casal
estava com a Polícia Federal (PF) para desvendar os crimes de Marvizi.
Após as mortes de Carlos
e Maria Elisabeth, chegou ao fim o rastro de sangue feito pelo estrangeiro, que
também tinha as marcas do empresário Francisco Francélio Holanda Filho,
assassinado em julho de 2010. Ainda em agosto do mesmo ano, o iraniano e seus comparsas
que ainda estavam vivos foram presos na Operação Canal Vermelho.
Desde então, o
estrangeiro permanece preso e já foi condenado pela tentativa da morte de Jesus
Ferreira e por descaminho. A defesa de Marvizi e de Ivanildo não foram
localizadas pela reportagem. Os júris do iraniano sobre das mortes de Francisco
Francélio, do casal Carlos Medeiros e Elisabeth ainda não têm data marcada.
Ivanildo não será julgado dia 6 de maio próximo porque ingressou com recurso no
Tribunal de Justiça do Ceará sobre a sentença de pronúncia. Nas defesas
apresentadas no processo, ao qual a reportagem teve acesso, os dois negam
participação no crime.
Por G1CE
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