A chegada das chuvas no
início do ano traz esperança ao sertanejo, mas também acende o alerta para os
riscos envolvendo incidentes com animais peçonhentos, em sua maioria,
escorpiões. Os registros são mais comuns entre os meses de dezembro a março.
Devido ao período chuvoso, os animais saem de seus esconderijos em busca de
locais secos e, a consequência imediata, é o aumento das ocorrências.
Dados disponibilizados
pela Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) revelam que o Estado fechou o ano de
2019 com 6.587 incidentes envolvendo o animal. O dado representa 1.497 casos a
mais se comparado a igual período de 2018, que somou 5.090 registros. De um ano
para o outro, houve um aumento de quase 30%.
Essa mesma crescente com
incidentes envolvendo escorpiões é verificada desde 2015, no Ceará. O número
passou de 2.882, naquele ano, para 3.922 (2016), seguido de 4.284 (2017), 5.090
(2018) e 6.587, em 2019. Os números representam um aumento de aproximadamente
114% ao longo da série histórica.
Alta média
Em Juazeiro do Norte, no
Cariri, região onde as chuvas iniciam, historicamente, junto com a pré-estação
chuvosa (dezembro e janeiro), a média chega a aproximadamente dois incidentes
por dia. Para reduzir as ocorrências, o Núcleo de Controle de Endemias do
Município criou um Programa de Combate aos Escorpiões, com formações
específicas de enfrentamento ao animal.
"Geralmente, a
maior parte dos acidentes acontece nos primeiros meses do ano", acrescenta
Mascleide Feitosa, coordenadora do Núcleo.
Segundo ela, a partir do
momento em que é registrada uma ocorrência envolvendo escorpiões, seja por
picada ou aparição do animal, já "se faz necessária uma resposta" do
poder público de prevenção. "A prioridade são os locais onde houve
picadas, seguido de onde há demanda da população. O terceiro lugar na lista
prioritária é onde são achados vestígios do escorpião (a carapaça, quando o
animal troca de pele)", explica a representante, apontando ainda que
crianças e idosos figuram no grupo mais vulnerável.
Neste sentido, o quadro
de agentes de saúde treinados para casos envolvendo escorpiões foi ampliado. Em
2015, quando o Município passou a realizar as formações específicas, eram cinco
agentes. Hoje, o número subiu para 20, distribuídos em quatro equipes.
Como a casa é um dos
locais onde existe o maior risco de acidentes, as ações de controle ocorrem,
principalmente, nestes ambientes. "O Programa Nacional diz que nós temos
que averiguar quatro casas à esquerda e quatro à direita. Hoje, nós visitamos,
além da residência, mais cinco imóveis à esquerda, cinco à direita, além de
espaços próximos, como quintais e áreas", detalha Mascleide Feitosa.
Incidência crescente
Esse cenário de altos
casos pode ser explicado pela maior incidência do animal em locais com habitação
humana. "O crescimento urbano faz com que áreas de vida (dos escorpiões)
sejam reduzidas", avalia o professor do departamento de Biologia da
Universidade Federal do Ceará (UFC), Robson Ávila.
"Algumas medidas
podem ser tomadas para reduzir o aparecimento, como evitar o acúmulo de
entulhos, vedar as latas de lixo e dar destinação correta ao material
descartado", ressalta o especialista.
As alterações no espaço
urbano trazem, além dos escorpiões, outros animais peçonhentos, como cobras e
aranhas. Porém, segundo estimativa da Secretaria da Saúde, com base nos dados
dos últimos anos, incidentes envolvendo escorpiões representam 70% dos
acidentes. O índice é superior à média do Nordeste (51%). "As pessoas
precisam entender melhor como a vigilância ocorre, como é a forma e captura dos
escorpiões, identificação, o registro da informação e o envio dessa
informação", ressalta Ricristhi Gonçalves, supervisora do Núcleo de
Controle de Vetores do Órgão, que vem realizando formações específicas para atender
à demanda.
Região Norte
Diferente das outras
regiões do Estado, onde maior parte dos casos ocorrem nos primeiros meses do
ano, no Norte cearense, os acidentes são registrados ao longo dos 12 meses. Em
2019, o Hospital Regional Norte (HRN), no município de Sobral, atendeu a 113
incidentes com escorpiões. Em janeiro foram 14 casos, fevereiro (15), março
(9), abril (5), maio (9), junho (9), julho (16), agosto (11), setembro (4),
outubro (8), novembro (6), dezembro (7), o que demonstra uma constância nos incidentes.
"Normalmente, os ataques de escorpiões aumentam nos períodos quentes e de
chuva, a partir de dezembro no Ceará. Em 2019, no entanto, houve uma
apresentação atípica do comportamento dos incidentes com escorpiões, tendo
aumento nos meses de julho e agosto", salienta o coordenador médico da
emergência do Hospital, Alan Muniz, sobre o registro de picadas em todos os
meses de 2018.
Atendimento
Em casos de picadas por
escorpiões, o indicado é que a vítima vá ao hospital mais próximo para receber
os primeiros atendimentos. Segundo a Sesa, o Ceará possui unidades
especializadas nas cinco macrorregiões de saúde do Estado: Hospital Regional do
Cariri, em Juazeiro do Norte; Hospital Regional Norte, em Sobral; e Instituto
Dr. José Frota, em Fortaleza. Além deles, a Maternidade Maria José, em Quixadá,
e Hospital Regional Casa e Saúde de Russas também prestam o serviço. Nestas
unidades, o paciente poderá receber doses de antiveneno, que é indicado apenas
em casos moderados ou graves, cabendo ao médico fazer o diagnóstico.
Tipos de escorpiões
O escorpião do tipo
amarelo (Tityus serrulatus) é o mais comumente encontrado no Estado, porém não
é o único. "Nós já encontramos escorpiões do tipo amarelo (mais comum),
mas também do preto. Antes, a população tinha a ideia de que o escorpião daqui
não matava. É preciso conscientizar que isso não existe. Vai depender muito da
quantidade (do veneno) e da resposta imunológica de cada pessoa", relata a
coordenadora do Núcleo.
Em comunidades
localizadas na zona rural, além dos cuidados padrões (como manter quintais
limpos, descartar o lixo em sacos plásticos para evitar baratas - alimento dos
escorpiões, não colocar mão em buracos sem luvas, etc.), é importante, ainda,
prover ações de preservação aos inimigos naturais do animal, como lagartos,
sapos e aves de hábitos noturnos, a exemplo das corujas. "São os
principais predadores dos escorpiões", conforme indica o Ministério da
Saúde.
Fonte: Diário do
Nordeste
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