O
prognóstico da Funceme, que aponta 45% de probabilidade de chuvas acima da
média no Ceará este ano, é animador. A notícia renova a esperança especialmente
nos locais onde as precipitações estão abaixo da média desde 2012. No
Centro-Sul, áreas de quatro municípios estão nessa situação. Em localidades dos
municípios de Quixelô, Iguatu, Jucás e Acopiara, os índices de pluviometria
ficaram abaixo da média entre 2017 e 2019. Na primeira quinzena deste mês, os
dados mostram desvio negativo entre 93% e 96%.
Consequências
A escassez de chuva afeta
diretamente os produtores rurais. "Estou mantendo a suinocultura com muita
dificuldade", afirma Elson Montenegro, produtor de Suassurana, zona rural
de Iguatu.
Muitos estão desistindo. É o caso
de Valdeci Ferreira, que acabou com a unidade produtiva no entorno da Lagoa de
Iguatu e reduziu em mais de 80% a criação de ovinos em Suassurana. "Não
tem como plantar milho porque não chove e não há água para os animais",
justifica Valdeci.
O Vale do Faé, em Quixelô, onde
ainda não choveu neste ano, já foi grande produtor de algodão, arroz, frutas e
de criação de gado leiteiro. Agora, vive momento crítico. "Todo o Vale do
Faé está seco e a situação é muito ruim, de desespero", pontuou Joaquim
Virgulino Neto, técnico do escritório local da Ematerce. "Não há água e os
criadores estão se sacrificando, comprando ração para tentar salvar os
animais", diz.
Mais perdas
Os irmãos, José Adil e Océlio
Lopes vêm tentando manter a criação de gado de leite com muita dificuldade.
"Agricultura não dá mais e a criação de gado está ruim. Os bichos estão
magros e estamos sem condição de alimentar o rebanho", disse Océlio Lopes.
O agricultor José Eudo da Silva,
morador do Sítio Acampamento, em Quixelô, começou o ano com prejuízo: morreram
três vacas leiteiras. "Comprei medicamento e nada", lamenta José
Eudo. Ele estima perda de R$ 6 mil com os animais que morreram de fome.
Abastecimento
As chuvas abaixo da média aumentam
a dificuldade para abastecer cidades, vilas e distritos. O maior centro urbano,
Iguatu, que recebia água do Açude Trussu (hoje com apenas 1,7% da capacidade),
desde outubro de 2019 passou a captar água do aquífero Julião e da bacia do Rio
Jaguaribe, por meio de poços. "Tem sido a nossa salvação", afirma o
diretor do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE), Rafael Rufino. "Sem
esses poços, Iguatu estava em colapso".
Acopiara enfrenta déficit de 60
mil litros de água por hora, segundo o gerente regional da Cagece, Adeilson
Rolim. "Estamos transferindo do Trussu 130 mil litros por hora; de poços
profundos, cerca de 10 mil litros por hora. Precisaríamos de 200 mil litros por
hora. Dividimos a cidade em três setores e fazemos rodízio".
Quixelô passou a captar água da bacia
do Rio Jaguaribe, numa área distante 4km da Estação de Tratamento, depois que o
vale do Faé secou há cinco anos. "Estamos com um poço em operação e três
em reserva", explicou o técnico do SAAE, Aderson Neto. "A gente
espera boa chuva para assegurar o abastecimento".
Fonte: Diário do Nordeste
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