Um dos parlamentares
mais experientes no Congresso, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) afirmou ao
jornal O Estado de S. Paulo não ver saída para a sucessão de crises no atual
sistema político, o qual considera “torto e falido”.
“Não serve mais. É
crise após crise. Não tem clima mais para impeachment, e essas questões de um
mau governo ou de um desgoverno levam à crise institucional”, disse.
O tucano, que passou
a ser um dos conselheiros do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP),
aposta no parlamentarismo como alternativa, mas avaliou ser inoportuna uma
discussão mais aprofundada do tema neste momento, “porque seria considerado
golpe, ilegítimo e irracional”.
Depois de três
mandatos como governador do Ceará e 12 anos de experiência no Senado, Tasso
demonstrou preocupação com a onda dos colegas de consultar as redes sociais
antes de votar. “A população nem sempre está com a razão e isso começa com o
julgamento de Jesus Cristo e Barrabás.”
O sr. tem participado
de discussões sobre o parlamentarismo. Isso vai ser analisado pelo Congresso?
Há uma preocupação em
relação às crises políticas, desencontros e até antagonismos entre os Poderes.
Sem estabilidade, o País não cresce. Pode passar a reforma da Previdência,
(mas), se não houver um clima de estabilidade e confiança, vamos continuar com
os mesmos problemas.
A economia está mal.
Todo governo procura estabilidade e a oposição tenta desestabilizar. Mas, aqui,
o próprio governo cria crises para desestabilizar e cria um clima que não é
propício ao investimento, que é fundamental.
E sobre o
parlamentarismo?
Algumas pessoas,
inclusive eu, defenderam – não para agora porque seria considerado golpe,
ilegítimo e irracional, mas para o futuro -, começar uma discussão sobre
parlamentarismo. A minha ideia, e do próprio senador José Serra (PSDB-SP),
autor da proposta, é que o sistema político que estamos vivendo ficou torto e
falido, não serve mais. É crise após crise.
Não tem clima mais
para impeachment, e essas questões de um mau governo ou de um desgoverno levam
à crise institucional. No parlamentarismo, o Congresso vai ter mais compromisso
na hora de votar ou deixar de votar em função de que seu mandato vai estar em
jogo também.
E o sr. tem esperança
no governo do presidente Jair Bolsonaro?
A área econômica está
no rumo certo. Mas pode se tornar um governo extremamente ineficiente em função
de outras áreas. É um governo liberal na economia, mas conservador nos costumes
e comportamento social. Sou menos pessimista porque acho que a economia está
indo na direção correta.
Existe uma
possibilidade grande de essas reformas serem aprovadas no Congresso. Há uma
consciência de que elas são necessárias, apesar dos desacertos do governo, e as
reformas vão andar por si só. Ele (Bolsonaro) se complica muito se mantiver
essa visão retrógrada em relação à liberdade das pessoas e suas opções de vida
e manifestação de opiniões.
O sr. também consulta
as redes sociais antes de votar?
Antigamente, eram
proibidas manifestações na galeria do Senado, sob o princípio de que os
senadores não poderiam votar sob pressão das galerias. As votações eram de
acordo com a convicção. Agora, as pessoas votam com medo de apanhar das redes
sociais. E a população nem sempre está com a razão, a começar com o julgamento
de Jesus Cristo e Barrabás. É preciso ter equilíbrio. As redes sociais devem
ser ouvidas, mas tem de seguir as convicções, porque o nível de informações que
você tem é maior que a multidão como um todo.
O sr. será o relator
da reforma da Previdência no Senado. Como vai conduzi-la?
A reforma é
essencial. Só tenho medo porque está se apostando tudo nela. Ela é essencial
para evitar que o País não caia no precipício, mas não resolve todos os
problemas. Ela vai dar as condições para a gente crescer e tomar iniciativas.
Há uma certa visão de que o governo precisa agir e motivar um crescimento
econômico mais acelerado. Meu medo é de que fique essa expectativa de que
passou e está tudo resolvido. Não está.
E o governo indicou
alguma alternativa?
Até agora, não.
Estamos na expectativa, mas, concretamente, ainda não. E acho que isso está
quebrando o ânimo dos investidores do mercado, porque parece música de uma nota
só: Previdência.
E a reforma
tributária?
A reforma tributária
é mais difícil de aprovar do que a da Previdência. Se ele (Bolsonaro) imagina
uma reforma tributária que vai elevar a arrecadação, não é o que a população
nem o setor produtivo estão esperando. Se o ministro da Economia (Paulo Guedes)
conseguir aprovar isso em três anos, eu dou um beijo na testa dele.
O sr. defendeu o
pacto entre os Poderes. É o caminho?
É uma boa iniciativa.
No Brasil, está todo mundo contra todo mundo. É preciso, como sociedade, ter
alguma visão comum de rumo de Estado, que as pessoas se compreendam e marchem
para pontos que são comuns a todos.
A iniciativa é boa,
mas precisamos muito do saneamento, educação, que está parada, e é importante
porque vivemos no mundo do conhecimento. Não adianta ter reforma da Previdência
se não tiver uma população preparada para esse mundo novo da internet, da inteligência.
O sr. é um dos
conselheiros de Davi Alcolumbre. Vai aconselhá-lo a assinar o acordo?
Não conheço o texto,
mas imagino que seja mais de propósitos e intenções do que uma coisa concreta.
Acho que vale como um gesto das autoridades. Mas não vejo muito sentido um
papel escrito. Existe uma má vontade grande com o governo. Tanto no Senado como
na Câmara e isso precisa ser desfeito.
Essa má vontade é
normal em início de governo?
Claro que não. Há uma
inexperiência enorme, falta de aptidão para governar muito grande e um
desconhecimento da coisa pública. Isso é uma coisa inédita. Eu nunca vivi isso.
É tão novo para mim quanto para um garoto de 18 anos que está chegando agora. E
ainda tem essa influência dos filhos (de Bolsonaro) de uma maneira negativa
para o próprio governo, que cria um atrito e desestabiliza, que é contra o
governo.
Bolsonaro ainda não conseguiu cair a ficha: sou o presidente da República e é preciso estabilidade, que é importante cada coisa que falo e que tem reflexos e consequências. E precisamos ter a condição necessária para fazer as coisas acontecerem. No momento que cair essa ficha, as coisas vão melhorar e (ele pode) até dar umas palmadas nos filhos.
O PSDB já comandou o
Ministério da Educação. Como o sr. vê o trabalho do atual ministro?
Eu pensei até que era
brincadeira quando vi o ministro (Abraham Weintraub) cantando o musical de Gene
Kelly. Isso é uma coisa que leva a uma frustração muito grande a quem está
preocupado com o País. Dá um certo desânimo. A sensação que temos é de uma
educação parada.
O sr. foi relator da
MP do Saneamento, que caducou. Como pretende reverter isso?
O saneamento está
entre os problemas mais sérios no Brasil e, infelizmente, não é dada a
relevância. Crianças brincam em cima do esgoto. A iniciativa privada precisa
ser atraída para investir por uma razão simples: são necessários R$ 550 bilhões
nos próximos dez anos para chegar a 80% da cobertura.
O sr. vai apoiar o
governador de São Paulo, João Doria, à Presidência em 2022?
É muito cedo.
Qualquer governador de São Paulo é um “candidatável” a presidente. Mas minha
vida política ensina que temos muita água para rolar embaixo da ponte até lá.
Aprendi isso quando FHC era senador, não era lembrado para candidato à
reeleição do Senado porque tinham opções mais fortes, e acabou virando
presidente da República. Tem muita água para correr ainda.
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