Na cerimônia que marcou os 100 dias de governo, o
presidente Jair Bolsonaro (PSL) oficializou a criação do 13º para
beneficiários do Bolsa Família, que atinge sobretudo moradores da região
Nordeste, onde o presidente tem maior rejeição.
A medida foi uma das 18 ações anunciadas nesta quinta-feira (11), e foi
uma promessa de campanha de Bolsonaro. A concessão do 13º terá um custo
anual de R$ 2,6 bilhões, mas, por outro lado, não haverá reajuste no valor do
benefício neste ano.
Em uma rede social, Bolsonaro escreveu nesta quinta que foi possível
estabelecer o 13º do Bolsa Família graças a "recursos oriundos em sua
esmagadora maioria de desvios e recebimentos indevidos", sem dar mais
detalhes. O presidente classificou o momento como um "grande dia!".
A medida beneficia diferentes áreas do país que têm em comum a população
de baixa renda e foi oficializada após Bolsonaro registrar a largada
com pior avaliação entre presidentes em primeiro
mandato -segundo pesquisa Datafolha, 30% consideram a gestão
ruim/péssima, 32%, ótima/boa, e 33%, regular.
No Nordeste, Bolsonaro teve na eleição 30% dos votos no segundo
turno, contra 70% de Fernando Haddad (PT). É justamente nessa região em que a
presença do Bolsa Família é mais marcante -ao menos 12% da população recebe
esse benefício. No Sudeste, que deu grande vantagem ao presidente na eleição,
são 4% de beneficiários.
Ao se manifestar sobre o anúncio do governo federal, Haddad acabou
batendo boca em uma rede social com o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ),
filho do presidente.
BRIGA
O petista republicou uma postagem datada de
2010 da conta oficial de Jair Bolsonaro, quando o então deputado
federal afirmou que "o Bolsa-farelo (família) vai manter essa turma
no Poder", se referindo aos governos do PT.
Haddad questionou: "Será que 1/12 do bolsa-farelo (13ª
parcela) vai reverter sua situação no Nordeste? Lembrando que você não
reajustou o benefício nem pela inflação e seu governo ofende os nordestinos a
todo instante?".
A postagem foi respondida pelo vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ),
filho do presidente, que afirmou: "Chora marmita!!!".
"Priminho tá bem?", respondeu Haddad, no que parece ser uma
referência ao primo e amigo de Carlos, Leonardo de Jesus, o Leo Índio, que
mesmo não tendo cargo era figura frequente nos corredores do Palácio do
Planalto.
Carlos retrucou: "Continua chorando marmita???", no que Haddad
respondeu, cobrando uma resposta para as vítimas das enchentes no Rio e para a
família do músico Evaldo Rosa dos Santos, morto após ser fuzilado com 80
tiros em uma ação do Exército.
Ao responder, Carlos perguntou "Lacrou marmita?" e citou
reportagem da Folha de S.Paulo publicada em março de 2016, segundo a qual
Haddad, à época prefeito de São Paulo, usava só 39% do previsto para o controle
de cheias em córregos da capital paulista.
Enquanto o presidente comemorava nas redes sociais o 13º
do Bolsa Família, o ministro da Cidadania, Osmar Terra, que gere o
programa, minimizava o impacto dele sobre os mais pobres.
"O maior programa de proteção às famílias mais pobres não é o Bolsa
Família, é o BPC [Benefício de Prestação Continuada], do governo
Fernando Henrique [Cardoso]. O BPC é o dobro do Bolsa Família em
recursos. Aposentadoria do trabalhador rural é do Itamar Franco, que é maior
que todos os outros juntos", disse à Folha de S.Paulo.
Para Terra, não é uma estratégia política do governo se apropriar de
programas voltados aos mais pobres, em geral associados à esquerda. "Não
tem cor partidária nem ideológica. Acho que a esquerda pode até querer tomar
conta, dizer que é dela, mas não é", afirmou.
(FolhaPress)
0 Comentários