O suposto uso de
candidatas laranjas na eleição passada, como atestado em reportagens do O POVO
e da Folha de S. Paulo na última semana, pode ser muito mais que mera irregularidade
eleitoral. No Ceará, candidatura de Débora Ribeiro, cunhada do deputado Vaidon
Oliveira (Pros), recebeu R$ 274 mil e só teve 47 votos.
Em
Pernambuco, ex-assessora do ministro Gustavo Bebianno (PSL) também recebeu
grandes repasses e devolveu quantia inexpressiva de votos. Caso suspeitas
atuais se provem, os casos envolveriam uma artimanha de lideranças e partidos
políticos, aqui e lá, de olho em burlar a cota de 30% de participação feminina
em chapas para a eleição.
Configura-se aí,
portanto, uma violação do próprio sistema democrático brasileiro, em artifício
que atua para travar ainda mais um dos problemas mais persistentes do nosso
sistema: a falta de representatividade popular.
Atualmente,
mulheres representam 52% da população brasileira, mas só cerca de 15% das
cadeiras do Congresso Nacional. Não há como um parlamento tão distante da
realidade brasileira esteja próximo da população, sujeito a um tipo de
fiscalização que só a proximidade com o eleitor permite.
Nos
últimos anos, a lei brasileira evoluiu para estimular e garantir um movimento
de crescimento da participação feminina na política. Paralelamente, partidos
acabam transformando as iniciativas de modernizar nossa democracia em
artifícios para manter os velhos líderes no poder.
É
preciso uma resposta da Justiça. E rápido.
Publicado
originalmente no portal O Povo Online
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