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16 candidatas receberam R$ 2,6 milhões e tiveram 7,5 mil votos no Ceará

Candidatas à Assembleia do Ceará pelo MDB, Professora Leila e Dra. Zuíla tiveram uma das piores relações custo/benefício da disputa na história: mesmo recebendo R$ 772,7 mil dos partidos, elas tiveram, juntas, só 653 votos. Junto com as emedebistas, outras 14 candidatas no Estado acumularam quase R$ 2,6 milhões em recursos públicos e tiraram apenas 7,5 mil votos - cerca de um quarto do quociente para eleger um vereador de Fortaleza.
Pros repassou dinheiro a candidata com indícios de ser laranja
A informação tem base em levantamento do O POVO em dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Segundo a Justiça, 16 candidatas de dez partidos receberam mais de R$ 50 mil das siglas - sempre via fundo eleitoral ou partidário - e não tiveram sequer mil votos. Em sete desses casos, repasses foram superiores a R$ 100 mil.
As ocorrências surgem no momento em que o Ministério Público Federal (MPF) investiga a existência de candidatas "laranjas" por todo o Brasil. Como o fenômeno "alto custo/poucos votos" praticamente não existe entre homens, a suspeita é que candidaturas sejam criadas para burlar lei que obriga chapas eleitorais a terem composição no mínimo 30% feminina.
A mesma legislação também prevê cota feminina de 30% para investimentos dos fundos eleitoral e partidário. Nos casos de repercussão nacional, a suspeita da Justiça é de que parte das verbas enviadas para candidatas teria sido destinada para outros fins que não o financiamento das campanhas.
Procuradas pelo O POVO, Professora Leila e Dra. Zuíla não quiseram falar sobre a verba que receberam do MDB. As duas, no entanto, se mostraram bastante surpresas com o valor exibido no portal do TSE. "Eu recebi isso aí? Você tá.. (risos) você tá muito mal informado", diz Zuíla. Já Leila afirma ter recebido R$ 250 mil, e não os R$ 397 mil que ela própria teria declarado à Justiça.
Secretário-geral do MDB do Ceará, João Melo disse que a escolha do partido em priorizar as duas ocorreu com base no "potencial" demonstrado por ambas em eleições anteriores. "Esses nomes (Leila e Zuíla) vêm aparecendo sempre, você pode fazer uma pesquisa regressiva, e esse pessoal tem demonstrado um potencial que a gente acreditaria que tinha tendência de melhorar", diz.
A justificativa é meia-verdade: as duas já haviam disputado eleições antes, mas ambas tiveram desempenho bem distante da excelência. Professora Leila, por exemplo, só havia disputado cargo de vereadora de Eusébio em 2016, mas teve a candidatura indeferida na Justiça. Já Zuíla concorreu a deputada estadual em 2014, gastou R$ 700 e teve apenas 146 votos.
"Há também uma dificuldade nacional, que é algo que tem em todos os partidos, que é a de compor quadro de mulheres candidatas", diz João Melo. Ele também atribui parte do fracasso das duas à "situação estranha" da política nacional. "Partidos como o PT, MDB, e outros mais que estavam no governo, todos foram olhados com muita reserva", diz.
Os casos são semelhantes ao de Débora Ribeiro dos Santos, que teve investigação aberta pelo MPF após receber R$ 274 mil do fundo eleitoral e obter apenas 47 votos. Conforme série de reportagens do O POVO revelou, a candidata é cunhada do deputado federal Vaidon Oliveira (Pros) e teria contratado cerca de 140 pessoas para campanha com sinais de ser de fachada - algumas delas ex-funcionários de Vaidon.
Outra candidatura alvo do MPF é a de Gislani Maia, que concorreu a deputada estadual pelo PSL. Conforme reportagem do jornal O Globo revelou, ela recebeu R$ 150 mil do partido a dois dias do 1º turno e, no mesmo dia, declarou gastos de R$ 143 mil em três gráficas. Ela nega quaisquer irregularidades.

Bate-pronto com Dra Zuíla, candidata a deputada estadual pelo MDB

Dra. Zuíla (MDB), candidata a deputada estadual
OP: A senhora foi candidata na última eleição?
Zuíla: Fui sim.
OP: Como foi essa decisão, quem te convidou?
Zuíla: Por que você está fazendo essa pergunta?
OP: Por que eu sou jornalista do O POVO e estamos apurando essas candidaturas que..
Zuíla: Aham, e como é que foi?
OP: A gente está vendo essas candidaturas pequenas que receberam muito dinheiro público, e a senhora foi uma dessas campanhas, que recebeu quase R$ 380 mil do partido...
Zuíla: Eu recebi isso aí? Eu recebi isso aí? Você tá.. (risos) você tá muito mal informado, viu (risos)
OP: Então está errado?
Zuíla: Tá erradíssimo. Você tá muito mal informado..
OP: Por quê?
Zuíla: Porque não foi essa quantia, se você quer saber quanto eu recebi... olha, para que essa pergunta relacionada à dinheiro?
OP: Porque é o valor que aparece no portal do TSE..
Zuíla: Não, que eu? Que eu ganhei R$ 380 mil? No portal do TSE? Que eu recebi R$ 380 mil? Tá dizendo isso?
OP: Sim. Está lá, no portal do TSE. Está errado?
Zuíla: Olha, eu vou passar para a minha assessora jurídica, tá?
OP: Tudo bem? Como..
Zuíla: A minha campanha foi óoootima (desliga)
 

Bate-pronto com professora Leila, candidata a deputada estadual pelo MDB

Professora Leila (MDB), candidata a deputada estadual
OP: Como foi sua decisão de ser candidata, quem te chamou para o partido?
Professora Leila: Como assim?
OP: Como foi sua candidatura, porque a senhora decidiu sair?
Professora Leila: Eu tinha saído como vereadora pelo Eusébio, e o juiz tinha negado minha candidatura. Então agora eu podia, então fui candidata.
OP: E como foi sua campanha?
Professora Leila: Foi muito boa, eu tirei 395 votos, né. E tive votos em 23 municípios do Estado do Ceará.
OP: Mas como considera, foi pequena, grande a campanha?
Professora Leila: Eu recebi dinheiro do partido, né, mas mesmo assim para atingir o estado todo foi muito pouco tempo para a gente trabalhar. O TRE só deixa muito pouco tempo, não pode fazer antes, aí fica sem condição para trabalhar todo o estado. Mesmo que você faça três reuniões por dia não tinha condição, muita gente nem manteve a candidatura.
OP: Com relação ao tamanho, vocês fizeram muitos santinhos, bandeira?
Professora Leila: Sim, sim, fiz bandeira, fiz santinho, fiz programa de televisão, fiz tudo.
OP: É que vimos que você recebeu bastante dinheiro do partido...
Professora Leila: Como é? Não estou te ouvindo bem...
OP: É que a senhora recebeu quase R$ 400 mil do partido e só teve 395 votos. Por quê a senhora...
Professora Leila: (interrompendo) Não, eu não recebi R$ 400 mil não, eu recebi R$ 250 mil.
OP: Por que então na divulgação da Justiça aparece quase R$ 400 mil?
Professora Leila: Na Justiça?
OP: Sim, na página do TSE mostra que a senhora recebeu mais de R$ 397 mil.
Professora Leila: Não. Na página do TSE não tem isso não. Para a professora Leila? Você tem certeza que era para a professora Leila? Procure lá que tem R$ 250 mil...
OP: Mas quem articulou isso? Como foi...
Professora Leila: Meu filho, eu não sei se você é do jornal O POVO mesmo, obrigado viu (desliga)

Dirigentes de partidos dizem desconhecer candidaturas

Responsáveis estaduais pelos partidos, Gorete Pereira, do PR, e Francini Guedes, PSDB, disseram desconhecer valores pagos pela própria sigla e até mesmo candidaturas de correligionárias que tiveram votações inferiores a mil votos, mas receberam parcelas consideráveis do Fundo Eleitoral. O tucano não sabia quem era, por exemplo, Irmã Alê Bandeira, candidata a deputada estadual que recebeu R$ 117,6 mil do PSDB e teve apenas 395 votos.
Gorete não sabia se a professora Socorro Bessa, que recebeu R$ 60 mil do PR, disputou vaga para a Assembleia Legislativa ou para a Câmara dos Deputados. Bessa somou 224 votos. Já dirigentes de outras siglas responsabilizaram os diretórios nacionais pelos investimentos em campanhas que não se reverteram em votações expressivas.
Além de Irmã Alê, o PSDB ainda teve a candidata a deputada estadual Helaine Mendonça recebendo R$ 322,4 mil e a deputada federal Moema, com R$ 290,1 mil disponíveis para gastos de campanha. Helaine recebeu 852 votos e Moema, 948. "Quem? Mas recursos do partido?", questionou Francini. "A Helaine eu conheço, lá de Juazeiro. A outra quem é que você disse? Irmã? Não, não, não conheço. Mas se você me ligar amanhã às 10 horas eu lhe digo alguma coisa", declarou. Em seguida, ele ponderou que não teria como explicar o repasse, já que os recursos foram enviados pelo diretório federal.
Já a presidente do PR à época das eleições disse que as candidatas apresentaram estimativa de votos, o que norteou a divisão dos recursos. "Eu acho que ela (Socorro Bessa) não recebeu isso, ela ia receber, mas quando constataram que ela não tinha muita coisa (voto), ela já teve no passado, acho que caiu para R$ 10 mil", disse Gorete, contradizendo dados fornecidos pela campanha à Justiça Eleitoral.
Para Gorete, questionamentos acerca da divisão de verba têm mais a ver com machismo do que com real uso do fundo eleitoral. "Quando os homens eram laranjas e recebiam apoio para candidatura, ninguém nunca ficou atrás, agora que são as mulheres (ficam), porque a política é machista", disse.
Ela demonstrou alívio ao ser informada que Socorro Bessa disputou vaga na Assembleia, não na Câmara dos Deputados. "Ainda bem que não foi federal, porque iam dizer que era para levar voto para mim", disse Gorete, candidata derrotada a deputada federal.
Duas semanas após reportagem exclusiva revelar suposta candidatura laranja de Débora Ribeiro (Pros), que obteve 47 votos após receber R$ 270 mil do fundo partidário, o Pros se pronunciou pela primeira vez ao O POVO. Em nota, a sigla informou que todos os candidatos foram escolhidos em convenção. A legenda argumenta que os repasses foram efetuados pela executiva nacional. O Pros ressaltou que não compactua com práticas ilegais e, caso alguma seja comprovada, tomará medidas pertinentes.
À executiva nacional atribui a Odorico Monteiro, presidente do PSB, o repasse de R$ 60 mil para Nilda Bandeira e o mesmo valor para Wanda. Juntas, elas não atingiram mil votos. Segundo ele, o partido se divide em segmentos, entre eles o das mulheres. "Esse segmento e a direção nacional fizeram a destinação dos recursos. Evidentemente, cada uma apresentou o potencial de votos, às vezes não corresponde", disse.
O POVO procurou Norma Zélia, coordenadora do segmento de mulheres do PSB, mas as chamadas não foram atendidas. Socorro Bessa (PR) foi procurada, contudo, logo após ser informada sobre a reportagem, a pessoa que atendeu a chamada disse que a ex-candidata não podia atender por estar em um velório. Questionada sobre horários alternativos para a entrevista, a responsável por atender a chamada não respondeu. O POVO ainda procurou Débora Soft (PMN), André Figueiredo (PDT) e Euler Barbosa (PRB), mas nenhum atendeu as ligações. Presidente do PTB, José Arnon disse que só poderia responder aos questionamentos hoje.
CARLOS MAZZA E IGOR CAVALCANTE

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