As eleições para a Presidência da República
acontecem em 7 de outubro, mas os principais pré-candidatos ao Planalto ainda
não definiram quem irão compor suas respectivas chapas. O deputado Jair
Bolsonaro (PSL), por exemplo, não deve definir o vice de sua chapa a longo
prazo. O sonho do parlamentar é ter o senador Magno Malta (PR-ES) ao seu lado
na campanha presidencial, mas a possibilidade é considerada pequena por aliados
do presidenciável. O partido do senador é comandado pelo ex-deputado Valdemar
Costa Neto, condenado no mensalão. O cacique tem negociação com diversos
presidenciáveis.
Outra
alternativa citada por aliados de Bolsonaro é o general Augusto Heleno, que foi
o primeiro comandante das tropas brasileiras no Haiti. Ele se filiou ao nanico
PRP no Distrito Federal, atendendo a apelos de aliados do pré-candidato do PSL.
O general é cotado também para disputar uma vaga no Senado no DF. No caso de
Marina, por ora, não há nenhum nome no radar, e as sondagens para escolha do
vice da pré-candidata da Rede Sustentabilidade estão suspensas.
No Flamengo, uma alternativa para Marina
O dilema da
ex-ministra, que tem um recall de 20 milhões de votos da eleição de 2014, está
diretamente ligado às dificuldades que vem encontrando para atrair um partido
bem estruturado do seu campo político, que possa fortalecer sua candidatura.
Lideranças da Rede dizem que ela ainda não desistiu de uma recomposição com
PSB, que poderia lhe indicar um nome competitivo.
Além de
sequelas que ficaram da passagem de Marina pelo PSB em 2014, a última conversa
que ela teve com o presidente do PSB, Carlos Siqueira, aconteceu apenas três
dias depois da Rede romper com dois governadores do partido: Rodrigo
Rollemberg, no Distrito Federal; e Paulo Câmara, de Pernambuco. Isso congelou
as negociações. “As conversas cessaram há meses. Podem voltar? Claro. Não há
incompatibilidades insuperáveis”, avalia o pré-candidato da Rede ao governo do
Rio, deputado Miro Teixeira.
Diante da
dificuldade de atrair um vice de fora, numa composição partidária que ampliasse
a candidatura, Randolfe diz que, no caso de uma solução caseira, um nome
competitivo seria o do presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello. O
dirigente de futebol assinou sua ficha de filiação na Rede recentemente e disse
a Marina que seria candidato ao cargo que ela quisesse.
“Várias
pessoas na Rede cogitaram o nome do Bandeira como o mais adequado se o vice
vier de uma solução caseira. O Eduardo tirou o Flamengo, maior clube de futebol
do país, do fundo do poço. Tem carisma, perfil de bom gestor, tem
responsabilidade fiscal e uma imagem que agregaria à chapa de Marina”, defendeu
Randolfe.
Bandeira de
Mello, no entanto, disse ao Jornal O Globo que acha mais
provável que o vice de Marina venha de um composição partidária, de fora. “De
vez em quando me perguntam sobre isso, mas eu não sei de nada. Ainda tem muita
água para passar debaixo dessa ponte”.
Depois do
fechamento da aliança entre PSB e PDT em Minas Gerais em torno da candidatura
de Márcio Lacerda para o governo do estado, voltou a circular internamente a
possibilidade de o ex-prefeito de Belo Horizonte abandonar a disputa local e
aderir à chapa presidencial ao lado de Ciro Gomes. Lacerda já tinha sido cogitado
antes. Agora, a tese voltou com mais força. A relação de Lacerda e Ciro é
antiga. Quando comandou o Ministério da Integração, em 2003, o presidenciável
convidou o mineiro para ser seu secretário-executivo.
A campanha de
Ciro considera o apoio formal do PSB como peça estratégica. Além de dar
musculatura à candidatura do presidenciável do PDT, com mais tempo de TV, a
aliança é tida como puxadora de novos apoios, como o do PCdoB.
Ciro já disse
publicamente que gostaria de ter como vice um empresário. Nesse sentido, também
foram aventados os nomes do presidente da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN),
Benjamin Steinbruch, recém-filiado ao PP e que nessa quinta-feira, 7, se
licenciou do cargo de vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo (Fiesp).
O presidente
da Coteminas, Josué Alencar (PR), filho do ex-vice-presidente de Lula, José
Alencar, também foi cortejado pelo próprio Lula e teve o passe elevado,
passando ele próprio a figurar como possível cabeça de chapa do bloco que foi
formado por partidos de centro-direita. Com isso, diminuíram as chances de uma
composição Ciro-Josué, por ora.
Alckmin gostaria de um outsider
No caso do
tucano Geraldo Alckmin (PSDB), diante da lista de adversidades que a
pré-campanha precisa resolver, a escolha de um vice não está entre as
prioridades imediatas. O próprio pré-candidato tem dito que essa será uma
batalha a ser travada a partir de julho, quando as articulações de alianças
deverão ganhar corpo. O prazo para registro das candidaturas é 15 de agosto.
Um perfil
considerado positivo nas conversas, por enquanto, é o de alguém associado à
nova política ou até de fora da política para amenizar a imagem do
presidenciável tucano de político tradicional. Se fosse do Nordeste, melhor
ainda, dizem os aliados. É nessa região que o PSDB tem seu pior desempenho
eleitoral. Mas a escolha é tida como pouco factível porque o prazo para as
filiações partidárias se encerrou e seria preciso encontrar alguém que não
tenha cara de político filiado a algum partido. Alckmin também inclui no
cardápio de possibilidades uma mulher, mas não falou em nomes por enquanto.
O DEM teve a
preferência do tucano para indicar um nome para o vice até meses atrás. Mas a
postura da sigla em manter Rodrigo Maia tem feito Alckmin dizer que está se
sentindo com “liberdade” para uma escolha pessoal. Alckmin se diz convicto de
que o DEM estará na sua coligação na última hora. Ele também conta com PPS,
PSD, PV e PTB. Não está sendo descartada pela equipe nem mesmo uma chapa pura.
Nessa configuração, o senador Tasso Jereissati (CE) é um dos lembrados.
O que pesa para o atraso na definição
A indefinição
das chapas para a Presidência da República não decorre apenas do fato de a
campanha começar mais tarde e ser mais curta. Fatores políticos que influenciam
diretamente o eleitorado, como o impacto da operação Lava-Jato sobre os
políticos, também alteraram o calendário das definições este ano.
Com a mudança
da legislação eleitoral, as convenções ocorrerão entre 20 de julho e 5 de
agosto. Antes, ocorriam de 10 a 30 de junho. Outra peculiaridade dessa eleição,
que contribui para a indefinição geral, é o governo federal, mesmo com a força
da máquina pública, não ter um candidato competitivo, devido à impopularidade
do presidente Michel Temer.
O cientista
político da Universidade Federal de Minas Gerais, Fábio Wanderley dos Reis,
avalia que a perene crise política, deflagrada ainda em 2014 e sem trégua até
hoje, além da fragilização dos principais partidos brasileiros, contribui para
o retardamento de uma definição do quadro eleitoral.
“O próprio
sistema partidário está comprometido. O PT numa situação singular, com seu
líder nada menos do que preso; o PSDB também muito seriamente castigado pelas
circunstâncias. Sem falar no MDB, o maior partido, com sua cúpula diretamente
atingida. A consolidação nas eleições anteriores sempre se deu em volta dos
polos PT e PSDB, o que não está ocorrendo agora”, analisa Fábio Wanderley.
“Muitos dos políticos, de vários partidos, estão sob ameaça de investigação. Os
próprios partidos estão sem saber qual o melhor rumo a tomar e momento para
decidir. São vários fatores perturbadores de uma dinâmica normal de um período
pré-eleitoral”.
Para o
professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo, Aldo
Fornazieri, a dificuldade dos candidatos em articularem seus vices é uma
consequência da pulverização política ocorrida após o impeachment. “Não se
constituiu um governo com capacidade de atrair aliados, pelo contrário, é uma
força centrífuga que afasta aliados. O PSDB também era um polo de poder e
acabou virando uma força centrifuga pois perdeu muita força junto à opinião
pública”, avalia o cientista político.
No campo da
centro-esquerda, ele atribui a pulverização à prisão do ex-presidente Lula e a
indefinição na Justiça Eleitoral sobre sua candidatura, o que levou aos
partidos de esquerda a lançarem seus candidatos. “Não temos polos atrativos,
aglutinadores que deem uma segurança para vários partidos formarem suas
alianças. Na medida que não tem isso a tendência é a pulverização, situação
assemelhada com a de 1989”, avalia.
Com
informações do Jornal O Globo
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