| Foto: Honório Barbosa |
Boa Viagem. Este município do Sertão Central enfrenta uma das piores crises de desabastecimento de água do sertão cearense. O Açude Vieirão, responsável pelo fornecimento de água para a cidade, secou em outubro do ano passado. Poços profundos foram perfurados e chafarizes instalados em um esforço para atender parte da demanda, mas a distribuição de água por carros-pipa da Defesa Civil do Estado está
suspensa há um mês, agravando o quadro.
Nas ruas da cidade, é comum o tráfego de carros-pipa particulares que vendem água aos moradores por R$ 25 por mil litros. Outra cena comum à paisagem urbana são poços profundos e chafarizes nas calçadas. São 24 e mais 50 caixas de polietileno. Esses reservatórios deveriam receber água dos carros-pipa contratados pela Comissão Estadual de Defesa Civil (Cedec), mas o cronograma está atrasado.
Captação diária
Diariamente, os moradores fazem captação de água nos 24 chafarizes. O Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) faz um esforço enorme para encontrar um pouco de água no subsolo, por poços profundos e rasos, e alimentar a rede. "Só atendemos metade dos usuários, por meio de um rodízio de dez dias. A cidade foi dividida em cinco setores", explicou a diretora do SAAE, Regina do Vale Almeida.
A partir de dezembro de 2014, a Superintendência de Obras Hidráulicas do Ceará (Sohidra) perfurou 116 poços em Boa Viagem. Deles, 40 deram secos e 20 tiveram vazão reduzida. O SAAE já investiu mais de 420 mil reais em sistemas emergenciais no leito do Vieirão para evitar o colapso total do sistema, mas os poços estão secando. No local, utiliza-se uma técnica alternativa de pontão para sugar água do subsolo e injetar na rede de captação.
O temor dos técnicos é que até o fim do ano o sistema de distribuição de água regular do SAAE entre em colapso. Um total de 21 carros-pipa faziam a captação de água em Tauá e Independência, percorrendo, em média, 100Km diariamente para abastecer os 50 reservatórios em bairros da cidade.
"Aqui é a situação mais grave e apelamos para que a Defesa Civil amplie a quantidade de carros-pipa", disse o titular da Coordenadoria Municipal de Proteção e Defesa Civil (Compdec), Marton de Carvalho. O Município já enviou seis ofícios à Secretaria Nacional de Defesa Civil, que repassou para a Cedec. "O Exército e a Defesa Civil do Estado estão alegando escassez de recursos. O Exército já pensa em reduzir o número de rotas e faz uma recontagem das famílias nos municípios atendidos pela Operação Pipa", disse Carvalho.
Salvação
"Se não fosse a perfuração de poços profundos, a instalação de chafarizes e a captação subterrânea de água no leito do Vieirão, o colapso era total. A crise vem se agravando desde 2012. A cada ano o açude foi perdendo água. Até chorei quando vi o reservatório totalmente seco", lamenta Regina Almeida.
A água que os moradores adquirem em caminhões particulares ou coletam nos chafarizes é utilizada para banho e uso em geral. Água de beber a maioria compra o garrafão de 20 litros.
Os moradores vêm se acostumando com a situação de coletar água diariamente pela manhã cedo nos chafarizes e armazenar em recipientes diversos. "O nosso sofrimento é enorme, pois tenho que vir aqui pegar água e carregar duas latas nos ombros. Lá em casa, ficou três meses sem chegar água nas torneiras e decidi pedir o corte", disse o aposentado, Antônio Otaviano.
A dona de casa Nilda Oliveira compra duas vezes por semana 370 litros para dar banho no marido, que é cadeirante, e outros usos. São dois reservatórios de plásticos, na sala de casa para armazenar. Quando a água do SAAE chega às torneiras, uma vez por semana, ela enche tudo.
Descentralização
A existência de água em 24 chafarizes evita a formação de longas filas. Os moradores ao longo do dia vão captando e levando casa. Muitos usam motos e camionetas para transportar vários recipientes. "Aproveito e levo água para três casas", disse o comerciante Aldir Alves.
A escassez de água fez com que muitos empresários, donos de restaurantes, postos de lavagem de carros, apartamentos e hotéis decidissem perfurar poços para atender às suas demandas. "Fiz um poço e não deu vazão e depois perfurei outro e deu certo. Se não fosse isso, teria de comprar água de carro-pipa, que não tem a mesma qualidade", contou o dono do restaurante Aconchego, José Rodrigues.
A diretora do SAAE esperava que a contratação de carros-pipa pela Cedec não sofresse paralisação. "O processo seleção dos pipeiros poderia ser antecipado porque estamos há um mês sem esse reforço. Já é a segunda vez que essa suspensão ocorre", reafirmou. Alguns moradores mostram-se cansados e aborrecidos por esperar por uma água que não chega. Afinal, são 50 chafarizes espalhados pelos bairros que permanecem secos.













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