No dia em que atos em várias cidades lembraram a morte da
vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes,
deputados federais interromperam uma homenagem no Salão Verde da Câmara com um
protesto em favor dos animais.
Nesta
quinta-feira (14), a execução de Marielle e do seu motorista Anderson Gomes
completou um ano. Na terça (12), dois suspeitos de executar o crime foram
presos. A polícia ainda investiga o eventual mandante.
Em Brasília,
dez minutos depois de deputados do PSOL e de outros partidos de esquerda
começarem um ato em homenagem a Marielle, colegas de direita entraram no mesmo
salão para protestar contra a violência aos animais.
Oito
deputados federais, entre eles Daniel Silveira (PSL-RJ), usaram caixas de som que
emitiam latidos.
O deputado
ficou conhecido pela foto com o hoje governador do Rio, Wilson Witzel (PSC), em
que rasgam uma placa de rua com o nome de Marielle em meio aos protestos contra
o seu assassinato, no ano passado.
"Eu nem
sabia da homenagem à Marielle", disse, negando motivos para
constrangimento. "Na verdade eu me senti incomodado porque eu sabia que
eles iam distorcer o fato dos latidos como se estivéssemos zombando
deles."
Eles posaram
para fotos segurando cartazes pedindo reclusão para perpetradores de
maus-tratos contra animais. "Vamos fazer um minuto de silêncio por todos
os animais que lamentavelmente são maltratados ou sacrificados", disse
Fred Costa (Patriota-MG), que organizou o ato.
Na homenagem
a Marielle, deputados falaram contra as milícias. "Não existe milícia sem
Estado. O Estado tem sangue nas mãos", disse a deputada Talíria Petrone
(PSOL-RJ), amiga e aliada de Marielle.
Alguns
manifestantes choravam. Faixas com o vulto da vereadora e a pergunta: "Quem
mandou matar Marielle?" foram erguidos. Os apoiadores de Marielle não se
dirigiram aos manifestantes contra violência animal e vice-versa.
No Rio,
familiares e amigos se reuniram em uma missa em memória aos dois na Igreja da
Candelária, no centro do Rio de Janeiro. O encontro foi marcado pelo perdão da
mãe de Marielle, Marinete da Silva, ao governador Witzel pelo episódio da
placa.
Marinete
assistiu à missa ao lado do pai da vereadora, Antônio Francisco da Silva Neto.
O pai de Marielle mencionou a prisão de dois suspeitos envolvidos no
assassinato da filha. "Minha filha não merecia o que fizeram com ela. Não
diminui, mas ameniza a minha dor. Ver agente do estado nesse crime é
inadmissível".
Ao fim da
missa, amigos da vereadora puxaram o coro de "Marielle, presente!
Anderson, presente!", no interior da igreja. Familiares de Anderson Gomes
não compareceram à cerimônia religiosa.
À tarde,
milhares participaram de ato na Cinelândia, na região central do Rio.
Em São
Paulo, a manifestação na região central teve uma espécie de aula pública sobre
o legado da vereadora, conduzida por Jupiara Castro, fundadora do Núcleo de
Consciência Negra da USP, e por Erica Malunguinho, primeira deputada estadual
transgênero de São Paulo.
A assistente
social Sheila Marcolino, 38, foi para o ato para cobrar respostas sobre o
assassinato. "Para mim, ainda não está solucionado. Prenderam duas
pessoas, mas não quem mandou matá-la", diz.
Ela diz que
a morte dela foi um ataque à luta das mulheres negras. "Ela representava
nós, mulheres negras e batalhadoras que enfrentamos dificuldades nas
periferias. Tentaram silenciar a sua bandeira, mas temos que mantê-la
viva."
Nesta
quinta, os dois acusados pelo crime foram mantidos presos pela Justiça
fluminense após audiências de custódia que trataram sobre armas ilegais
encontradas com eles quando foram presos.
Ao policial
militar reformado Ronnie Lessa, 48, são atribuídos 117 fuzis incompletos
achados na casa de seu amigo Alexandre Motta, no Méier, na zona norte do Rio.
Já o ex-PM Élcio Vieira de Queiroz, 46, teve duas pistolas não legalizadas
apreendidas em sua residência em Engenho de Dentro, também na zona norte.
Os três
tiveram a prisão em flagrante pela posse ilegal de armas convertida em
preventiva, sem prazo para soltura. Apenas Motta poderia ter sido solto nesta
quinta, já que os outros dois suspeitos já estavam em prisão preventiva pelo
inquérito que apura os homicídios -que não foram tratados nessas audiências.
O advogado
de Motta, Leonardo da Luz, sustenta que ele desconhecia o conteúdo das caixas,
que estavam lacradas em sua casa desde dezembro. Na quarta, o advogado de Lessa
negou à Folha que os fuzis fossem dele; nesta quinta, porém, afirmou à imprensa
ainda esperar a perícia, que pode indicar que as armas eram de brinquedo ou de
airsoft.
Já o
advogado de Queiroz, Henrique Telles, disse que havia só uma arma na casa de
seu cliente e a situação do armamento será explicada.
(Folhapress)
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