Criticado em diversos países por ser
uma plataforma de disseminação de fake
news e perfis falsos, o Facebook, rede social com mais
usuários no mundo, possui diretrizes para retirar do ar conteúdos falsos
espalhados por seus usuários. O assunto é nos Estados Unidos, por exemplo, onde
a gigante da tecnologia responde a investigações sobre uma possível intervenção
da Rússia nas eleições presidenciais por meio da internet. No Brasil, a
discussão gira principalmente em torno do alcance das notícias falsas
compartilhadas na rede durante o período eleitoral, o que levou a empresa a
tomar uma série de medidas preventivas.
Entre elas está a derrubada, nessa quarta-feira, 25, de 196
páginas e 87 contas com base no código de autenticidade da rede, por que
“escondiam das pessoas a natureza e origem de seu conteúdo” e tinham o
propósito de gerar “divisão e espalhar desinformação”. Entre as páginas, estão
a Jornalivre, O Diário Nacional e Brasil 200, esta última de um movimento
idealizado pelo empresário e político Flavio Rocha.
Ainda segundo a agência de notícias Reuters, parte dessas
páginas e perfis seriam associada ao Movimento Brasil Livre (MBL), que divulgou
uma nota em que considerou a ação “censura” e argumentou que parte dos perfis
derrubados eram legítimos.
A reação à decisão do Facebook demonstra uma falta de claridade
dos julgamentos e medidas tomadas pela rede para combater o conteúdo falso
entre seus usuários. Por isso, explicamos quais são os critérios do Facebook
para retirada do ar desses conteúdos:
O Facebook proíbe o compartilhamento
de notícias falsas entre seus usuários?
Não exatamente. A rede instituiu uma série de ações para coibir
e limitar o compartilhamento desse conteúdo, mas não impede que ele circule.
Como explica Pablo Ortellado, professor e pesquisador do Monitor do Debate
Público no Meio Digital da USP. “A política do Facebook não derruba página por
fazer notícias falsas, até porque uma empresa privada não deve ficar arbitrando
no que é ou não verdadeiro. Ela tem, porém, tomado algumas ações”, disse o
pesquisador.
Essas ações são a parceria com agência de checagem, como as
agências Lupa e Aos Fatos, que avaliam a veracidade de uma notícia. Se ela for
comprovadamente falsa, a rede reduz o alcance que seus compartilhamentos terão.
A segunda atitude é a de derrubar páginas que são operadas por perfis falsos, o
caso dessa quarta-feira. Ou seja, as que ferem as “diretrizes de autenticidade”
da rede.
Quais são as “diretrizes de
autenticidade” do Facebook?
De acordo com o site da própria rede, os usuários não devem se
envolver em “comportamento não autêntico”. Ações desse tipo incluem “criar,
gerenciar ou perpetuar contas falsas, contas com nomes falsos”.
Também estão inclusas páginas que trabalhem em conjunto para
“enganar as pessoas sobre origem do conteúdo” compartilhado ou que enganam o
usuário sobre o destino dos links que divulgam. Outras ações que quebram as
diretrizes da rede são as de “enganar as pessoas na tentativa de incentivar
compartilhamentos, curtidas ou cliques” ou “ocultar ou permitir a violação de
outras políticas de acordo com os Padrões da Comunidade” do Facebook.
O que levaria um “perfil real” a ser
banido?
Em sua nota, o MBL argumenta que parte dos perfis derrubados na
ação da rede social eram de pessoas reais, com nomes verdadeiros, endereços e
telefones, o que não estaria previsto nas diretrizes.
Na verdade, mesmo perfis “reais” podem ser derrubados pela rede,
contanto que participem de “comportamento não autênticos coordenados, ou seja,
em que múltiplas contas trabalham em conjunto” com a finalidade de ferir as
regras expostas anteriormente.
Por exemplo, se uma página ou perfil compartilha
consistentemente e em grande volume material falso, ele pode ser identificado
como spam ou parte de uma rede de desinformação. Nesse caso, mesmo que se trate
de uma conta “real”, ela poderá ser punida.
De que maneira a rede identifica
essas páginas operadas por perfis falsos?
A medida tomada pelo Facebook nessa quarta-feira é uma de suas
maiores no Brasil até o momento. Com o argumento de coibir a “desinformação”, a
rede retirou quase trezentas páginas e perfis de circulação, alguns com alcance
de até meio milhão de curtidas.
“Uma ação desse tamanho não existia antes e é surpreendente. Não
se sabia dessa movimentação. Nós só tínhamos conhecimento de cerca de 20 delas.
Ao que tudo indica, se tratou de uma ação coordenada do Facebook para cortar
essas páginas, que muito provavelmente estavam sendo criadas para as eleições”,
explica Ortellado.
De acordo com o próprio Facebook, a análise dessas páginas é
feita através de vários frontes. O primeiro é com base nas denúncias feitas
pelos próprios usuários. Além disso, há cerca de 15 mil funcionários
trabalhando na revisão de conteúdo na rede no mundo.
Por último, há também o uso de tecnologias de inteligência
artificial e machine learning (que é o treinamento de robôs para identificação
de padrões) que ajudam na identificação de criação de conteúdo fora dos
padrões.
Com informações do Jornal O Globo.
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